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SÉRIE PRÊMIO FAPEMA 2024
De Jovem Cientista a Pesquisador Sênior: conheça a história de Alexandre Navarro
O professor do Programa de Pós-Graduação em História Social (PPGHIS), gerente de coleções arqueológicas e coordenador do Laboratório de Arqueologia (LARQ) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Alexandre Guida Navarro, conquistou mais um prêmio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), dessa vez, na categoria Pesquisador Sênior.
Navarro celebra sua trajetória nas condecorações da Fapema desde 2015, tendo sido vencedor, na ocasião, da categoria Jovem Pesquisador. O docente recebeu menção honrosa em 2021, 2022 e 2023 e mérito científico em 2021 pela Fundação. Tendo sido bolsista de Produtividade e, sendo consultor da FAPEMA, Alexandre foi um dos cinco pesquisadores da UFMA agraciados com a titulação na edição de 2024, que teve como tema “Inovação, Desenvolvimento e Sustentabilidade para o Maranhão”.
Vida acadêmica
“Sempre quis ser arqueólogo. E sempre quis ser professor universitário porque sabia que seria onde eu realmente poderia fazer pesquisa, difundir conhecimento”, dividiu Alexandre ao falar sobre o sonho e a paixão de pesquisar arqueologia. Do encanto ao assistir “Indiana Jones” quando criança ao crescente desejo de ensinar, o Prêmio Fapema, como Pesquisador Sênior, celebra a trajetória acadêmica do docente, que completa dezesseis anos de vínculo com a UFMA.
Essa trajetória se inicia com o estudo das civilizações da América pré-colombiana, dos incas e dos astecas. Sendo especialista em História Indígena com foco nos ameríndios, Navarro investiga as estearias do Maranhão, que são palafitas colocadas em rios e lagos da baixada com o objetivo de sustentar as aldeias, compostas por esteios de madeira.
Navarro ressalta que a pesquisa sobre estearias, que ganha destaque nas falas do docente como uma das mais importantes de sua carreira, tem sua relevância no entendimento do modo de vida dos povos originários – aos quais o pesquisador presta respeito por meio de suas produções. “Mais ou menos no início da era Cristã, há mais ou menos 2 mil anos, os indígenas viviam em palafitas no meio dos rios e lagos. Depois do período em que eles abandonaram o local, o material colapsou, caiu e ficou no fundo do rio: são alguns dos materiais expostos aqui no LARQ; eles vêm de dentro dos rios, artefatos e materiais de uso cotidiano”, afirmou.
As pesquisas das estearias se dividiram em projetos que recebem diferentes nomes de acordo com os focos dos estudos de Navarro: de “O Povo das Águas” a “Morando no Meio de Rios e Lagos”. O professor revisita os aspectos dos artefatos e esteios encontrados a oeste e sudeste da Ilha do Maranhão, em uma área de aproximadamente vinte mil quilômetros quadrados.
O projeto se desenvolve como uma constante redescoberta dos sítios arqueológicos que eram conhecidos, mas pouco estudados. O professor contou que, no início das pesquisas, entrou em contato com a arqueóloga estadunidense Anna Roosevelt, que foi uma das precursoras, de acordo com o docente, da pesquisa em arqueologia na América do Sul.
Com o contato, Anna visitou o LARQ e redigiu um livro em parceria com Navarro, a obra “Civilizações Antigas da Amazônia”. Citado como ponto marcante na trajetória acadêmica do coordenador do Laboratório, Navarro e Roosevelt construíram no livro um catálogo de algumas das peças encontradas. Além do título, há outro exemplar sobre a visita de especialistas à UFMA, que rendeu a publicação de um artigo sobre os anfíbios por ventura retratados nos objetos.
A respeito deles, Navarro explicou: “Alguns dos artefatos tiveram uso em rituais. Quando as pessoas adoeciam — e sabemos disso porque existe documentação escrita do período colonial —, os pajés pegavam esses artefatos e passavam pelo corpo da pessoa para benzer e tirar os espíritos malignos. Eles são todas em formas de animais e todos os que têm formato humano são do sexo feminino. Vemos uma sociedade que dava muita importância à mulher e é importante para os estudos de gênero: mostra que a mulher sempre teve papel importantíssimo nessas sociedades indígenas”.
As etapas do processo de identificação dos artefatos das estearias funciona de forma sistemática, com o planejamento do local da visita pelos pesquisadores, a execução da coleta das peças e transporte delas para o LARQ e limpeza, catalogação e disposição do material para estudo.
Navarro destacou que a pesquisa arqueológica apresenta dois aspectos fundamentais: a relevância de seus estudos e a identificação do pesquisador com o objeto de estudo. “Penso que a pesquisa tenha um lado pessoal importante, que deve ser algo que você gosta e se identifique. Essa identificação é muito pessoal. Junta-se essas duas coisas. Quando vou para campo, vejo que todo ano encontramos algo novo. Tem vários grafismos nas peças, desenhos diferentes, e sempre nos perguntamos o que encontraremos de novo, algo diferente. Essa curiosidade pelo passado me motiva a continuar a pesquisa”, relatou.
Apoio da Universidade
Além das conexões internacionais que as pesquisas das estearias proporcionaram, Navarro associou também UFMA a outras universidades no Brasil por meio do projeto “Cooperação Científica”. Por meio dele e do incentivo da Fapema, o professor aponta que houve mais descobertas significativas para a arqueologia no Maranhão.
Um dos serviços que a Universidade presta por meio do LARQ é a emissão do laudo de impacto ambiental em construções, que possibilita, ao mesmo tempo, a avaliação dos efeitos de empreendimentos para o ambiente e a coleta de objetos arqueológicos encontrados nas obras, que ficam sob a guarda da Universidade.
“Temos uma coleção grande de artefatos e fragmentos de várias obras que foram realizadas no Maranhão e que a UFMA deu o endosso — o documento para apoiar a construção desses empreendimentos que estão esperando um museu para serem expostos e conhecidos pela população”, afirmou Navarro.
A vontade da construção de um Museu Arqueológico na Universidade e a importância da FAPEMA ocupam espaço expressivo na fala do professor, que busca dar mais visibilidade às peças, ao valor histórico da pesquisa e à arqueologia maranhense. “Eu gostaria de implementar um museu aqui na UFMA, e levar as peças para as pessoas verem. Elas têm de ser vistas, são muito bonitas! Esse prêmio é importante porque reconhece o nosso trabalho. É difícil termos esse reconhecimento, e sermos reconhecidos nesse nível pela agência de fomento moldou minha trajetória. É importante também porque reconhece a Universidade. É importante que as pessoas conheçam que aqui tem o laboratório de arqueologia, e que queremos fazer o museu”, expressou Navarro.
O docente falou sobre seu sonho, agora realizado, de ser arqueólogo e professor e deu ênfase à necessidade de expandir a carreira, explicando o peso da investigação arqueológica para o desenvolvimento do estado e para o seu crescimento pessoal. “É muito especial poder escolher o que você gosta e viver do que se escolheu. É um grande privilégio. Temos que acreditar nos nossos sonhos e correr atrás deles. Só podemos estabelecer nosso presente e o futuro conhecendo o passado. A arqueologia contribui nesse sentido: para conhecermos como eram os povos que viviam aqui no passado mais remoto”, finalizou Alexandre.
Por: Lucas Cássio Ferreira
Produção: Ingrid Trindade
Fotos: Aline Vitória e Lucas Cássio Ferreira
Revisão: Jáder Cavalcante