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Com o tema “Os desafios do combate à violência de gênero”, Centro de Ciências Sociais realizou a Aula Magna de Abertura do Segundo Semestre de 2022
“Nós vivemos feminismos plurais, existem várias mulheres diferentes, com lutas diferentes, e elas precisam ser reconhecidas e acolhidas nas suas diferenças. Para se alcançar a igualdade, é preciso se darem direitos desiguais”: a frase foi proferida por Rakel de Castro, professora do Departamento de Comunicação Social da UFMA e uma das palestrantes na Aula Magna de Abertura do Segundo Semestre de 2022. A solenidade ocorreu na terça-feira, 13, no Auditório Central da Cidade Universitária.
Abordando como tema “Os desafios do combate à violência de gênero”, a aula teve em sua mesa de abertura a pró-reitora de Extensão e Cultura, professora Zefinha Bentivi, que representou o reitor Natalino Salgado; a diretora do Centro de Ciências Sociais e coordenadora geral do evento, professora Lindalva Maciel; a pró-reitora de Ensino da UFMA, Isabel Ibarra Cabrera; a representante das discentes, Keudiane Campos; e a representante das técnicas administrativas, Evelyn Soares.
O evento teve por objetivo suscitar debates sobre a importância de se constituirem redes de combate contra a violência estrutural e naturalizada de gênero. Além de identificar o cenário, os sinais e os atores dessa constante abusiva e criminosa, a aula debateu temas importantes para a sociedade, como o feminismo e suas esferas, o machismo enraizado na sociedade, o feminicídio, a invisibilização de mulheres com deficiência e os desafios diários enfrentados por todas as mulheres, independentemente de suas raças, gênero, ou condição física, além do papel da Polícia Civil na proteção das vítimas.
Zefinha Bentivi deu início à solenidade explicitando a urgência do assunto escolhido para a aula e destacando o papel da universidade pública na sociedade: “A Universidade tem, antes de tudo, um compromisso, sobretudo, com aqueles que mais precisam. E falar da mulher hoje e da violência contra a mulher é uma necessidade, uma obrigação. Uma temática de vital importância. Para que a sociedade possa andar, ela precisa buscar igualdade, que passa pelo respeito a todos e a todas e pela proteção às populações mais vulneráveis, seja a vulnerabilidade econômica, de gênero ou raça. Cada dia é uma nova construção, hoje nós estamos fazendo uma, trazendo nossos alunos e professores para uma discussão tão necessária”.
Em seguida, participaram da mesa-redonda as professoras Rakel de Castro, que também é vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Comunicação – Mestrado Profissional (PPGCOMPro); Raimunda Machado, do Departamento de Educação II; e Dirlene Barros, chefe do Departamento de Biblioteconomia e mediadora da mesa, que foi completada com a presença da delegada titular da Polícia Civil do Estado do Maranhão, Wanda Moura.
A professora Rakel de Castro destacou a importância do combate à violência de gênero, que muitas vezes se confunde com a história das lutas do feminismo e da necessidade do acolhimento às mulheres. “São lutas diversas, em contextos diversos. Na atualidade, nós temos uma espécie de interseccionalidade nessas lutas. Não há quem aguente lutar sem ser acolhida, e essa iniciativa da direção do CCSO em debater o assunto é um olhar atento para que a gente entenda que o combate à violência de gênero é uma luta de todos, de homens, de mulheres, de toda a sociedade, porque a violência atravessa todos esses corpos. Ela mata os corpos majoritariamente femininos, mas o combate a esse tipo de violência precisa ser um combate de todos”, declarou.
A delegada titular Wanda Moura discursou sobre o trabalho da Polícia Civil no combate à violência de gênero, elencando que, na maioria das vezes, as delegacias são o primeiro local onde as mulheres em situação de violência buscam por ajuda. “No Maranhão, nós temos quatro delegacias especializadas no atendimento à mulher em situação de violência. Possuímos também o Departamento de Feminicídio, que trabalha exclusivamente com as investigações de crimes de feminicídio ocorridos na região metropolitana de São Luís. Há a necessidade de implantação de outras delegacias da mulher em vários municípios que ainda não têm, pois o Maranhão é um estado grande. Sabemos que, na Delegacia da Mulher, a vítima se sente mais acolhida, e esses atendimentos são feitos principalmente por delegadas. Ao ser atendida por uma outra mulher, ela se sente mais acolhida”, pontuou.
Wanda Moura também frisou a importância do preparo do corpo policial para receber as vítimas e o desafio enfrentado diariamente, pois muitos dos policiais não possuem cursos especializados no atendimento da mulher nesses casos específicos. Com o intuito de melhorar o serviço prestado à vítima, orientações específicas são repassadas aos policiais e ações são desenvolvidas periodicamente com o objetivo de capacitar os agentes, embora ainda ocorra uma resistência muito grande por parte dos policiais homens.
“Os policiais são orientados a pedir medidas protetivas de urgência, caso seja essa a necessidade daquela mulher que está pedindo atendimento e acolhimento. Nós sabemos que as medidas protetivas com urgência de fato salvam vidas. Os cursos são interiorizados, não acontecem somente na capital, realizados no formato on-line e também no modo presencial, dentro das cidades do interior do estado. Mas a maioria não se interessa em fazer, por conta do machismo, que predomina em todas as nossas relações sociais. A Polícia Civil também é uma instituição marcada pelo machismo, assim como as demais. E a gente percebe que é necessário uma conscientização maior, não só dos policiais, mas de toda a população nesse combate ao machismo e às violências que são invisibilizadas ao longo do tempo e naturalizadas, para que possamos de fato diminuir esse números de violência contra a mulher”, discorreu.
A professora Raimunda Machado realçou a relevância do debate no ambiente acadêmico e destacou o papel dos estudos e das pesquisas científicas realizadas na Universidade em prol do assunto: “O estudo das relações de gênero é de extrema relevância, pois a Universidade vai desenvolver pesquisas e também intervenções na sociedade contra o machismo, misoginia, feminicídio, homofobia. Os grupos de pesquisa que nós temos, especialmente na Universidade Federal do Maranhão, vêm de longas décadas, desenvolvendo estudos sobre a conscientização, sensibilização da comunidade acadêmica sobre a distribuição de papéis na sociedade e, principalmente, mostram para a sociedade brasileira, por meio da ciência, da Universidade como é possível promover justiça entre as pessoas. Então mostrar com base na ciência que isso não é um dado naturalizado, mas que é uma construção social que faz parte de um contexto, de uma conjuntura histórica, política e econômica de formação do colonialismo e do capitalismo é essencial”.
Lúcio Reis, delegado-geral adjunto da Polícia Civil, também compareceu à solenidade e reforçou a importância da escuta e das novas informações colhidas no momento: “Como instituição, a Polícia Civil se sente grata por ter recebido esse convite, por meio do Departamento de Feminicídio, que vem lutando em prol da prevenção e também da erradicação do feminicídio no Estado do Maranhão. Os índices de violência são altíssimos, e nós, como instituição, estamos aqui para colaborar. Ouvimos muitas demandas que a Polícia Civil ainda precisa se ambientar para atender e voltamos a agradecer o espaço da UFMA, à professora Lindalva e ao CCSO, que nos fez o convite. Prometemos melhorar principalmente o atendimento contra a mulher e também da mulher com deficiência, tendo em vista como elas são invisibilizadas nesses processos”, mencionou.
A aula contou também com um momento de interação com o público presente, em que foram ouvidas ideias, opiniões e vivências a respeito da questão central.
Por: Bruna Castro
Fotos: Bruna Castro
Revisão: Jáder Cavalcante