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Com o 44º Guarnicê, a UFMA acendeu luz forte e oportuna sobre o cinema brasileiro

publicado: 27/09/2021 10h44, última modificação: 27/09/2021 21h32
Artigo publicado no blog Repórter Tempo, do jornalista Ribamar Corrêa

A 44ª edição do já consagrado e internacionalmente conhecido Festival Guarnicê de Cinema funcionou como um forte impulso de reafirmação da Universidade Federal do Maranhão como um dos motores mais importantes e ativos da cultura maranhense, e como um clarão sobre a realidade do cinema brasileiro, transformado, nos últimos mil dias, num movimento de resistência ao obscurantismo. Com a realização, que muitos duvidaram, o reitor Natalino Salgado reforçou o caráter produtivo e estimulou, com firmeza, a natureza vanguardista e plural da UFMA. Basta avaliar dois aspectos do Guarnicê deste ano.

O primeiro foi a decisão de homenagear o cineasta fluminense Sérgio Rezende, um dos gigantes do cinema brasileiro, autor de uma obra monumental para os padrões nacionais, com filmes que revelam a verdadeira face do poder no Brasil, como “Lamarca”, em que narra a trajetória do capitão revolucionário Carlos Lamarca em guerra contra a ditadura; “O Homem da Capa Preta”, sobre Tenório Cavalcanti, advogado e político alagoano, radicado no Rio de Janeiro, que enfrentava a bala o Estado Novo de Getúlio Vargas; “O Paciente”, que conta os bastidores da agonia hospitalar do presidente Tancredo Neves antes de morrer; “Canudos”, a tragédia sangrenta que se abateu sobre o mundo irreal criado por Antônio Conselheiro contra a República; “Zuzu Angel”, a saga da estilista carioca para descobrir o destino do filho, jovem militante de esquerda assassinado pela ditadura militar. A antes improvável escolha de Sérgio Rezende surpreendeu a ele próprio, que, em declarações, destacou a importância do Guarnicê e não escondeu a satisfação pelo reconhecimento.

O outro acerto foi a homenagem ao Museu da Memória Audiovisual do Maranhão (Mavam), um projeto arrojado e necessário da Fundação Nagib Haickel, comandada pelo cineasta, escritor e agitador cultural Joaquim Haickel. Ainda não devida e corretamente reconhecido e apoiado pelo poder público, o Mavam guarda um tesouro audiovisual sobre o Maranhão desde o século passado. São pelo menos 30 mil imagens fotográficas e em vídeo catalogadas, que documentam a história e a cultura do Maranhão, o que lhe dá especial posição de referência como fonte de pesquisa. A homenagem ao Mavam fortaleceu a UFMA e o seu Festival Guarnicê de Cinema como incentivadores da produção cinematográfica e motivadores da preservação da memória imagística do Maranhão.

Em tempos sombrios para a cultura nacional, principalmente no ambiente universitário e no campo das artes visuais, foi saudável e compensador ver a realização do Guarnicê, o entusiasmo com que o reitor Natalino Salgado falou do festival, dos homenageados, dos premiados e do alcance do evento, o quarto mais antigo do país e um dos mais importantes da América do Sul entre os festivais realizados por universidades. O evento e a motivação dos seus organizadores, colaboradores e participantes reafirmaram a UFMA como uma instituição de ponta e de vanguarda, e enriquecida pela pluralidade, que dá sentido pleno a qualquer organização universitária.

O Festival Guarnicê de Cinema, versão 2021, ganhou peso a mais de importância exatamente por acontecer como contraponto ao obscurantismo que ronda e ameaça a cultura brasileira em todos os seus aspectos. Valeu, e muito.

Publicado originalmente no site Repórter Tempo.

Por: Ribamar Corrêa - Repórter Tempo

Revisão: Jáder Cavalcante

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