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Colação de Grau Especial da Quinta Turma de Medicina em Imperatriz - CCSST
Senhores Pró-reitores,
Senhores professores e servidores,
Senhores pais, parentes, amigos e formandos a quem eu dedico este discurso,
Senhoras e senhores,
O escritor Rubem Alves, em artigo escrito para um portal médico, disse que, nos tempos antigos, todas as pessoas eram espelhos para o médico. Todos o conheciam, todos olhavam para ele com admiração. A relação do médico antigo com esses seus espelhos era de gratidão. Tomo de empréstimo essas metáforas que não servem apenas para o médico chamado de antigo, mas para vocês, que hoje farão o juramento hipocrático e seguirão fielmente a senda asclepiana.
Nós, os médicos, somos, aos olhos da sociedade, um referencial. Transitamos entre a vida e a morte, entre o anúncio da cura ocasionada por um procedimento bem-sucedido e a dor da trágica notícia da despedida final com o mesmo respeito e atenção.
Por isso esta data se reveste da maior importância: ela é um marco, um ritual de passagem entre a vida estudantil e a profissão escolhida. O rito não significa abandono dos estudos: pelo contrário, é um alerta para a responsabilidade ainda maior que as senhoras e os senhores terão a partir deste momento. Aprender não tem fim.
Saiam daqui ancorados por duas das maiores virtudes do ser humano: a gratidão e a generosidade. Ambas cabem em toda e qualquer circunstância e servirão para abrir diversas portas por onde quer que as senhoras e os senhores se encaminhem na busca da consolidação profissional.
Não se esqueçam de ser gratos com esta casa que tão gentilmente os acolheu. Não se esqueçam de ser generosos pelo conhecimento adquirido, fazendo dele um instrumento para abençoar vidas e para tornar o mundo melhor.
A gratidão é a memória do coração, ensina Agostinho. Lembrem-se de quem os apoiou até aqui, pois nenhuma vitória é fruto de um esforço solitário. Esta conquista de hoje também resulta do trabalho sério e determinado de qualificação, por parte da UFMA, na formação discente; no incentivo àqueles que sonham em realizar uma formação universitária com nível de excelência e que contam com um leque diversificado de opções profissionais na grade de cursos que nossa Universidade oferece; e ainda resulta do conjunto de esforços que começa na própria política de interiorização da UFMA, focada em expandir o acesso ao ensino público gratuito e de qualidade aos mais diversos rincões de nosso gigantesco estado.
Sou grato a Deus pelo fato de nossa gestão ter imprimido um novo rumo para a UFMA, tornando-a mais próxima da sociedade. Sou ainda entusiasta do projeto que pretende criar a Universidade Federal da Amazônia Maranhense, justa reivindicação e mérito de uma região cuja vocação para a grandeza é inconteste. O atual vice-reitor da UFMA, Professor Marcos Fábio, é representante por excelência deste celeiro de talentos.
Lembro, ainda, a implantação oficial do curso de Medicina aqui na terra do Frei, impulsionado pela meta do governo federal de suprir a carência de médicos nas regiões prioritárias para o Sistema Único de Saúde, visando a reduzir as desigualdades regionais nessa área, pois o Maranhão ainda tinha — e tem — uma das menores relações médico/habitante do país.
O curso de Medicina nesta região já nasceu com um perfil diferenciado, mais centrado na humanização dos serviços do Sistema Único de Saúde, voltado para o atendimento da atenção primária, revolucionando a concepção hospitalocêntrica, substituindo-a por uma experiência efetiva nas unidades básicas de saúde, capilarizando a experiência dos estudantes, inserindo-os desde os primeiros períodos na rede pública, com aulas práticas e preceptorias em contato direto com a população.
A medicina, nobres colegas, não é apenas um ofício. É um sagrado sacerdócio, que recompensa bem os devotados e expõe ao desprezo e escárnio os discípulos indisciplinados. É uma paixão travestida de profissão, é um amar mais que bem querer, é um solitário a andar por entre a gente, é o não contentar-se de contente, como bem definiu Camões, ao descrever o amor.
Senhoras e senhores,
Partilho com vocês esse misto de alegria e orgulho que invade minha alma neste instante: foi a mesma emoção que senti há alguns anos, quando saí como formando da Universidade Federal do Maranhão para, com a ajuda soberana de Deus, construir uma trajetória que me permitiu chegar até à atual condição em que hoje estou e ter o privilégio e a honra de contribuir para escrever um novo capítulo na história de nossa Universidade, antes relegada ao esquecimento e ao descaso.
O autor do livro bíblico de Eclesiastes lembra que, para todas as coisas, há um tempo debaixo do céu. Diz ele que há tempo de plantar, tempo de colher, tempo de sorrir e tempo de chorar, tempo de abraçar e tempo de deixar de abraçar.
Sei que muitos, como vocês, um dia também sonharam chegar a este tempo de hoje, mas que, infelizmente, ficaram no meio do caminho pelas mais diversas circunstâncias, e não puderam estar aqui para celebrar tão grandiosa conquista. Lembrem-se deles e alegrem-se pela oportunidade que lhes foi concedida, ao constatar que este tão sonhado dia chegou.
Tenho certeza de que vocês saem daqui melhores do que entraram. Saem mais capazes e mais bem-instrumentalizados para enfrentar os desafios que lhes serão apresentados nessa nova jornada. E que, a despeito dos tempos pandêmicos que estamos atravessando, as senhoras e os senhores, novos médicos, estão preparados para responder com competência e compaixão aos desafios que os aguardam.
A cidade de Imperatriz e a região tocantina se orgulham de serem nascedouro de carreiras que, creio, serão de êxito e vitórias. Essa região é vocacionada para a grandeza, pois é localizada numa intercessão de várias influências, rica por sua gente, sua cultura e sua história.
Poderia falar de várias qualidades de Imperatriz e pareceria que eu falo da Universidade Federal do Maranhão: múltipla, diversa, plural, que abre suas portas para todos, que incentiva e estimula o saber, de forma inclusiva e impulsionadora.
Um novo capítulo se inicia na história desta cidade, desta região e de nossa Universidade e, mais ainda, na vida de vocês. Como disse o poeta Thiago de Mello, novo não é o caminho, mas a forma de caminhar.
Que Deus os abençoe.
Muito obrigado.
Natalino Salgado Filho
Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.
Revisão: Jáder Cavalcante