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Ciência e saúde: professor do Centro de Ciências de Grajaú cria moléculas que não existem na natureza para beneficiar a medicina em tratamento de câncer

publicado: 16/09/2022 10h20, última modificação: 18/09/2022 19h29
A criação dessas moléculas inorgânicas tem por finalidade sintetizar um composto que venha a ser um insumo farmacêutico eficiente no tratamento de câncer

Formado em Química Industrial na Universidade Federal do Maranhão, com mestrado na mesma área pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e doutorado em Físico-Química pelo Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo, Benedicto Augusto Vieira Lima, professor da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da UFMA, com experiência em Química e ênfase em Campos de Coordenação, atua como docente e coordenador do curso de Licenciatura em Ciências Naturais-Química do Centro de Ciências de Grajaú, onde está desenvolvendo moléculas inorgânicas que não há na natureza para o tratamento de câncer.

Segundo Benedicto Lima, a obsessão pela transmutação dos metais em ouro, bem como pelo desenvolvimento de fórmulas para prolongar a vida humana indefinidamente, foram duas grandes preocupações no tempo em que a alquimia ainda predominava. Nessa época, criaram o conceito de Química Medicinal – área da química que utiliza técnicas analíticas sofisticadas para sintetizar novos compostos, ou isolar substâncias de origem natural, além de testar novos medicamentos e desenvolver meios de produção mais sustentáveis, dos pontos de vista econômico e ecológico.

O professor comentou como está sintetizando moléculas que não existem na natureza. “Elas, naturalmente, são inéditas. A minha ideia é aplicá-las em meio biológico e, com isso, testar em atividades antibacterial, antifungal e antiparasitário. Há moléculas das mais variadas estruturas que contêm boas atividades, como, por exemplo, as do tipo orgânica e inorgânica. Por outro lado, há moléculas que têm as mais variadas estruturas, mas sem utilidade alguma, então, pode-se dizer que o processo é intuitivo”, complementou.

O que são, de fato, compostos orgânicos e inorgânicos? São elementos da química. A química inorgânica foi definida pelo químico sueco Torbern Olof Bergman, no ano de 1777, para estudar os compostos originados no reino mineral, enquanto que a química inorgânica destinou-se analisar as substâncias originadas dos seres vivos, a fim de distinguir os compostos orgânicos dos inorgânicos.

O docente explicou que a primeira etapa é o preparo da molécula no local onde ocorrem inúmeras reações químicas até atingir o ponto de interesse. Logo em seguida, são realizadas análises dos compostos com o auxílio de técnicas espectroscópicas, entre elas, ressonância magnética nuclear, que faz a avaliação da disposição dos átomos de carbono e hidrogênio presentes na molécula; a difratometria de raios-X, técnica utilizada para descrever a estrutura tridimensional das moléculas; e a espectroscopia de infravermelho, meio que permite avaliar os tipos de ligações químicas presentes no composto. A produção é realizada no Laboratório de Pesquisa do Câmpus Grajaú, no entanto as análises descritas acima são realizadas via parcerias, com agências de fomento que mantêm a pesquisa, conforme afirmou Lima.

O tempo de produção varia de acordo com a estrutura física do ambiente de preparo, tempo e dedicação ao laboratório. “Como os compostos a serem sintetizados são inéditos, é substancial o desenvolvimento de novos procedimentos de síntese, o que leva tempo, alguns meses. Por isso é vital alterar as condições de reação, isto é, a temperatura, a concentração dos reagentes e a escolha de rota sintética para que os efeitos sejam avaliados no produto final”, analisou. 

Ciência e saúde: professor do Centro de Ciências de Grajaú cria moléculas que não existem na natureza para beneficiar a medicina em tratamento de câncer - 16-09-22

Produção científica de Benedicto Lima

Fruto de algumas de suas publicações científicas ao decorrer de seu mestrado em Química, em 2010, pela UFSCar, Benedicto sintetizou vinte novos compostos que tiveram suas atividades antitumorais, que combatem o desenvolvimento de tumores avaliados. Entre eles, está o composto de rutênio, contendo os ligantes difosfínicos; bipiridinas; benzonitrila; picolinato; mercaptopiridinas; e mercaptopirimidínicos revestidos de estruturas genéricas. Os compostos que ele está preparando, atualmente, são de cobre e zinco contendo azoligantes.

Para ele, que segue nas linhas de pesquisa em “Estudo teórico de complexos”; “Química de coordenação, síntese, caracterização e avaliação de atividades biológicas de complexos de rutênio”; e “Química de coordenação de complexos de rutênio contendo ligantes dinitrilas”, alguns desses compostos apresentam elevada atividade in vitro, mediante testes em células tumorais, no laboratório.

Contudo, na visão dele, ainda são necessários testes in vivo, que são aplicados em camundongos. “Uma vez que os compostos apresentam bons resultados nos testes in vitro, a etapa seguinte é testá-los em camundongos, por meio do teste in vivo, pois aproxima-se mais do ambiente que esses metalofármacos estão sujeitos ao corpo humano”, esclareceu.

Mentes brilhantes da ciência

Não adianta falar sobre ciência e não referenciar a física e química polonesa naturalizada francesa Marie Curie (1867 – 1934), que contribuiu com grandes pesquisas pioneiras para o campo científico. “É o meu desejo mais sério que alguns de vocês continuem a fazer o trabalho científico e mantenham a ambição e a determinação de fazer uma contribuição permanente para a ciência”, palavras de uma de suas citações em vida.

Em conversa com a Diretoria de Comunicação, Benedicto Lima citou as principais figuras que foram fontes de sua inspiração para seguir como pesquisador na área, entre eles, o naturalista e médico britânico Edward Jenner (1749 – 1823) conhecido como o “pai da vacina”, devido à sua descoberta sobre a imunização da varíola; o químico alemão Robert Wilhelm Eberhard von Bunsen (1811 – 1899) e o físico prussiano Gustav Robert Kirchhoff (1824 –  1887), os primeiros a utilizarem a luz para identificar novos elementos, além de, em 1860, descobrirem dois metais alcalinos – o césio e o rúbio, graças ao espectroscópio.

O professor também citou o cientista, filósofo, físico, matemático, astrônomo, alquimista e teólogo inglês Isaac Newton (1643 – 1727) e o físico teórico alemão Albert Einstein (1879 – 1955). “Ambos tiveram uma engenhosidade e lucidez em desenvolver trabalhos que, sem dúvida, melhoraram a vida humana. Dessa forma, a minha expectativa com essa criação de moléculas inorgânicas é, sobretudo, sintetizar um composto que venha a ser um fármaco eficiente para o tratamento do câncer”, concluiu o pesquisador.

Por: Lucas Araújo

Produção: Bruna Castro

Revisão: Jáder Cavalcante

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