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Aulas 100% presenciais em setembro na UFMA
O Reitor Natalino Salgado Filho faz um balanço das ações que a UFMA implementou durante a pandemia de covid-19 e dos avanços, sobretudo no campo das tecnologias da comunicação e informação, que garantiram que a Universidade não parasse durante o período de isolamento. Ele também defende que esse legado de transformação seja incorporado, a partir da necessidade de professores e alunos, aos processos de ensino e aprendizagem neste momento da retomada do ensino presencial.
A entrevista foi concedida ao repórter Raimundo Borges, no programa Band Entrevista, na última quinta-feira, 4, publicada no jornal O Imparcial desta terça-feira, 9, e reproduzida nesta página.
Professor Natalino, vamos começar abordando esse novo período que vai começar, no segundo semestre da UFMA. Ele será totalmente presencial?
NATALINO – O nosso retorno vai ser no dia 4 de setembro. E, desde o dia 30 de julho, todas as nossas resoluções que permitiam o trabalho não presencial e remoto já não existem. Isso quer dizer que, a partir do dia primeiro, nesse período de agosto, que é o período de férias, também chamado de período especial, nós já teremos uma oferta de disciplinas no formato 100% presencial.
O que tem de novo na Universidade, da pandemia para cá?
NATALINO - Eu gostaria que ressaltar que, quando nós atendemos ao apelo para retornar à Reitoria da nossa Universidade, nós assumimos no dia 11 de novembro de 2019 e tínhamos o compromisso de fazer uma segunda revolução na UFMA, que seria uma revolução tecnológica e que nós íamos mexer na estrutura para prepará-la para o futuro. E, ao mesmo tempo, nós íamos inovar na qualificação do ensino, buscar ferramentas novas, investir na nossa TI, porque, em 2007, no primeiro mandato, não tínhamos internet, não tínhamos um sistema acadêmico, não tínhamos nem números na Universidade, era uma universidade que não tinha pesquisa, não tinha as nossas engenharias habilitadas. Então nós fizemos um avanço e crescemos, duplicamos o número de cursos — de 49 fomos para mais de 100 cursos hoje — de modo que agora a gente precisa consolidar esses avanços e implementar ferramentas novas. E aí esse projeto que nós estávamos implementando coincidiu com a pandemia. Quando surgiu a covid-19, em março 2020, eu tive que decretar o primeiro lockdown, a UFMA foi a primeira a decretar o lockdown e a servir de exemplo para as outras universidades daqui e no Brasil também. Nós ficamos 60 dias com a suspensão total do calendário acadêmico. Aí, quando retornamos, já com planejamento, com a estrutura que nós montamos, criando uma diretoria nova, a Diretoria de Tecnologia Educacional e investimos muito nas ferramentas da estrutura de TI, tanto que, anteriormente, nós tínhamos 10 gigabytes de velocidade na área de internet e elevamos para 100 gigabytes. criando um sistema robusto. Fizemos treinamentos, fizemos pesquisa para identificar os nossos alunos com exclusão digital. Fomos a primeira universidade a distribuir tablets e conseguimos, com a rede Rede Nacional de Pesquisa – RNP, os chips para os alunos terem internet, ofertando condições para nossos alunos acompanharem essa nova metodologia. Nós fomos pioneiros no Brasil na implementação do sistema remoto mas híbrido — remoto, mas mantendo uma flexibilização para as aulas presenciais. E, mesmo com toda essa turbulência, de várias ondas da covid-19, nós elaboramos várias resoluções e conseguimos antecipar formatura, fazer aceleração de formaturas, de modo que nós formamos dezenas de alunos, e hoje, das 69 universidades federais, somente nove têm o calendário arrumadinho, e nós estamos entre essas nove universidades, tanto que agora, no dia 4 de setembro, nós já vamos iniciar o semestre 2022.2, ou seja, com todas as dificuldades da pandemia, a Universidade está com seu calendário em dia. Nós temos no Brasil universidades que ainda estão finalizando o semestre 2021. Mas a maior novidade é que as tecnologias educacionais mudaram a forma de você ensinar, no mundo inteiro. Na Finlândia, por exemplo, o projeto pedagógico é construído com os alunos. Existe hoje uma dinâmica de interatividade que nos dá condições de avançar. Então nós vamos voltar agora 100%, mas vamos dar oportunidade para os nossos alunos e professores usarem a ferramenta que eles quiserem, ou seja, manter essa experiência tecnológica.
Há um movimento, dentro da Universidade Federal do Maranhão, dizendo que, assim como o presidente Jair Bolsonaro tem interesse de transformar todos os cursos da Universidade em on-line ou remoto, o senhor também estaria participando dessa ideia. O que que tem de verdade nisso?
NATALINO - Nenhuma verdade. Isso é uma grande mentira. Lamento muito que uma associação que tem participação na nossa Universidade, que tem assento no conselho, participa dos debates e da construção da UFMA, vem a público, inclusive com muitos investimentos em outdoor, dizer uma inverdade, aquilo que não acontece. Não existe, no Ministério da Educação, nenhum projeto de mudança do padrão das nossas aulas. Cada universidade tem a sua autonomia para elaborar seu projeto pedagógico, utilizar os métodos que tem, algumas mais avançadas, outras menos, mas nessa autonomia o MEC nunca interferiu. O que o MEC está fazendo é criar uma expansão dos cursos em formato EAD e está chamando isso de Reuni Digital. Mas isso é um um projeto, ainda está em implantação, sem mexer, sem interferir no padrão dos cursos presenciais. O que nós estamos fazendo é que eu vou assinar, daqui a dez dias, duas resoluções que dizem o seguinte: nós vamos retornar as aulas presenciais no padrão que nós sempre fizemos, mas muitos professores, que já utilizam videoconferência, chats, trabalhos, inclusive não é de hoje que nós fazemos defesa de tese doutorado com participação de professores de outros países por videoconferência, podem continuar usando ferramentas tecnológicas. O uso dessas tecnologias não tem como voltar. Eu diria que não é o futuro, isso já é o presente. E a experiência da pandemia mostrou que essas tecnologias ajudam, melhoram e qualificam o ensino e têm uma adesão fantástica de alunos e professores. Nós fizemos uma pesquisa agora recente, e os alunos, sabendo que nós vamos voltar agora presencialmente, querem que, na metodologia que o professor utilizar, ele possa, de alguma maneira, usar essa experiência tecnológica nesse período de pandemia. Nesse período de pandemia, nós adquirimos ferramentas que o mundo inteiro utiliza, como um programa na área de anatomia para estudo anatômico, que cria um ambiente virtual em 3D, que você consegue mexer com o coração, faz rotatividade, abre todas as câmaras cardíacas, disseca tudo e tem uma anatomia tão perfeita no ambiente virtual tão perfeito de simulação que é mais precisa que que o cadáver que você utiliza, que tá do formol, há anos sendo utilizado e que as peças anatômicas já estão esgarçadas e não estão na posição normal, levando um aluno, topograficamente, a aprender errado. Nós também adquirimos o Matlab, que é um programa estatístico que forma gráficos para as engenharias, que os professores já utilizavam se cotizando para comprar, e nós compramos, fizemos o convênio com a empresa e essas ferramentas estão disponíveis para milhares de alunos e professores que utilizam. Então, o que que nós estamos fazendo? Nós estamos permitindo que os cursos, que vão retornar às aulas presenciais, possam lançar mão de novas tecnologias para o ensino.
Isso em todos os câmpus? Quantos câmpus a UFMA tem hoje?
NATALINO – Sim, em todos os câmpus. Você sabe que nós fizemos uma grande expansão, porque a Universidade estava restrita à capital. Nós interiorizamos a Universidade, além de ter melhorado bastante aqui. Nós temos oito câmpus no continente e temos um aqui, que é a cidade universitária Dom Delgado. Então eu direi para você que essas ferramentas estão disponíveis para alunos professores, e a decisão será dos professores de usá-las para dar aula. Antigamente, manistrava-se uma aula com auxílio de retroprojetor, depois slides, aí vieram as videoconferências. E o que que nós estamos fazendo agora? Nós estamos dizendo: liberdade acadêmica não é impositivo. Se o professor quiser usar a experiência positiva das ferramentas tecnológicas para melhorar o ensino, ele pode usar. Só isso. Mas o retorno é presencial, 100%. Daí vem uma associação, deliberadamente, politicamente, e introduz o governo federal, que não interfere na Universidade e coloca que a Reitoria estaria acabando com as aulas presenciais e implementando estudo em EAD. Uma grande mentira, uma inverdade, ela deveria responder pela má informação porque isso é fake news. Isso distorce e cria uma ideia diferente para a sociedade. Mas a sociedade é sábia, a comunidade sabe que tudo isso é inverdade. Até porque esse discurso se repete ao longo do tempo, e as pessoas já sabem separar o joio do trigo. Sabem da história, sabem como é que a Universidade tem progredido, tem evoluído e vem atendendo às demandas da sociedade, apesar dessas grandes dificuldades que nós estamos vivenciando. Então é fácil separar o que é verdade do que é mentira.
Por: O Imparcial
Revisão: Jáder Cavalcante