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Aula Inaugural do PPGCOM - Imperatriz discutiu identidade e territorialidade na Amazônia
O Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal do Maranhão realizou, na segunda-feira, 05/07, com transmissão pelo canal PPGCOM Imperatriz - UFMA no Youtube, a aula inaugural do semestre 2021.1. Com o tema “A terra, o povo e a luta: identidade e territorialidade nas disputas fundiárias na Amazônia”, a conferência inaugural contou com a participação da Profa. Dra. Zélia Amador de Deus, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Prof. Dr. Airton dos Reis Pereira, da Universidade Estadual do Pará (UEPA) e da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
Na mesa de abertura, estiveram presentes a coordenadora do PPGCOM, Camila Tavares, o diretor do Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia, Daniel Duarte, e o coordenador do curso de jornalismo da UFMA – Imperatriz, Marco Gehlen.
O professor Daniel parabenizou todos os alunos aprovados nessa seleção. Ele disse estar feliz em poder falar sobre pós-graduação em Imperatriz, já que, no passado, ele teve que sair da cidade para fazer a sua. Daniel lembrou que hoje já é possível fazer uma carreira acadêmica sem precisar sair da cidade. “Isso é resultado de muita luta.”
Durante a aula inaugural, o professor Airton Pereira (UFPA e UNIFESSPA) destacou que a região de Imperatriz é muito próxima ao sul e sudeste do Pará, lugar de luta pela terra e conflitos intensos e violência no campo. Segundo ele, essa história remonta à década de 60, a partir da construção da rodovia Belém-Brasília, quando se iniciou um processo de imigração muito grande. “As cidades surgiram na beira dos rios Tocantins e Araguaia. Depois da construção da estrada, esse cenário mudou.”
De acordo com Airton Pereira, no final do governo JK, no governo de João Goulart, e sobretudo no regime militar, o estado brasileiro iniciou um processo de maior participação na região, com a construção de estradas, que são efetivadas por grandes empresas, e as vendas de terra para o capital privado e a militarização da área. “As políticas de desenvolvimento do governo militar atraíram muitos trabalhadores para essa região”, afirmou.
Segundo o professor, o desenvolvimento foi pautado na grande propriedade de terra, facilitando crédito, incentivos fiscais a grandes empresas e proprietários rurais do Centro-Sul do país para a criação de gado. “No sul e sudeste do Pará, até meados da década de 80, cerca de 9 milhões de hectares de terra já haviam sido ocupados por fazendas de gado.”
Airton explicou que muitas das terras vendidas pelo governo do estado eram ocupadas pelos posseiros. Eles não tinham documentos que provavam a posse da terra e foram considerados ilegais. Nesse contexto, iniciaram-se conflitos com a participação da Polícia Militar e com a contratação de pistoleiros.
De acordo com ele, a Igreja Católica teve um papel importante nesse período. Os padres e as feiras que desenvolviam trabalhos no campo com as comunidades identificaram-se com a luta desses trabalhadores. Eles ajudaram no acolhimento dos trabalhadores rurais, na denúncia da violência, no registro e documentação e na organização dos trabalhadores em áreas de conflitos.
Outro fator destacado é a militarização da região. O conflito entre militares e guerrilheiros entre fins da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970, conhecido como Guerrilha do Araguaia, é um exemplo disso.
Outros desafios discutidos na palestra dizem respeito aos povos indígenas, a retirada de madeiras de terras públicas, a violência no campo e o trabalho escravo.
Já a professora Zélia Amador de Deus falou do problema do racismo no Brasil e na região. “Normalmente, são pessoas negras que são vítimas do trabalho escravo, ainda hoje nessa região”. Ela explicou que o racismo no Brasil está interligado com o modo como o país foi colonizado, estando presente até os dias de hoje de maneira estruturada nas instituições, no Estado, na sociedade e até no senso comum. “Temos uma pobreza herdada do racismo estrutural.”.
Assista na íntegra a Aula Inaugural semestre 2021.1 do PPGCOM
Por: Carlos Marques
Produção: Laís Gomes
Revisão: Jáder Cavalcante