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Ao infinito e além: Space Week Nordeste deixa legado inspirador para meninas e mulheres
21 de setembro. Sábado. Manoela Pereira Rocha, estudante do sétimo ano, está na plateia de uma palestra sobre o The Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA. No palco, montado em um shopping da capital maranhense, Gigi Lucena, uma pernambucana e engenheira na NASA, fala sobre suas experiências nas missões no JPL. É vendo e ouvindo histórias de resistência, como as de Gigi, que muitas garotas estão explorando caminhos antes ocupados majoritariamente por homens, como o campo aeroespacial.
A ausência de mulheres é mais percebida quando notícias sobre uma caminhada espacial 100% feminina só aparecem em 2019. De acordo com dados da agência espacial norte-americana, entre 1963 e 2023, apenas 72 mulheres foram ao espaço, como tripulantes de expedições, visitantes, ou participando de voos espaciais. A informação também expõe o tímido envolvimento de mulheres nessa jornada rumo ao universo.
A palestra que Manoela proferiu fazia parte da programação do maior evento aeroespacial da Região Nordeste do Brasil, a Space Week Nordeste (SWN 2024), que ocorreu em setembro e foi promovida pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em parceria com o o EOLLAb (Earth Observation Labomar Laboratory) do Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR, vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC), com objetivo de difundir e contribuir para o desenvolvimento do projeto espacial brasileiro, mas com uma missão além: incentivar mulheres a iniciarem uma jornada de descobertas no setor aeroespacial.
A curiosidade com o trabalho desenvolvido na NASA e observando uma possibilidade de estar lá nos próximos anos, saber que rumos tomar para chegar lá foi a pergunta de Manoela, mesmo ainda faltando alguns anos para ingressar no ensino superior. “Eu amei a palestra, eu já sigo a Gigi no Instagram e vou perguntar muita coisa para ela. Ela me abriu um monte de oportunidade que eu não tinha pensado”, falou a estudante.
Gigi Lucena foi uma das palestrantes da SWN 2024, tanto na programação acadêmica quanto na programação para o público geral, que deixou sua contribuição e plantou sementes para as próximas gerações, compartilhando sua história e experiências no JPL. Segundo Gigi, as mulheres ainda enfrentam muitos obstáculos e têm pouco apoio para trilharam suas jornadas.
“Eu vejo que a parte de mulheres na ciência e engenharia ainda está devagar. Tem poucas também liderando, poucas que chegam a fazer um PHD. Quando chega a um certo ponto que chegam os filhos, essas coisas, então tudo é bem difícil. Então, tem vários obstáculos que a gente tem no caminho da gente. Existe uma defasagem da quantidade de mulheres e homens líderes dentro das engenharias e ciências. Então, tem que ter um trabalho. A gente precisa de ajuda”, avaliou a engenheira.
No Brasil, começam a disseminar projetos com o objetivo de incentivar as mulheres na ciência, inclusive em parceria com representações de outros países. A cônsul geral dos Estados Unidos em Recife, May Baptista, falou sobre isso em entrevista exclusiva para os canais de comunicação da UFMA, durante a Space Week Nordeste: “Então, isso é algo que podemos trabalhar juntos. Em nível regional, como Consulado, estamos trabalhando com programas como o "Futuras Cientistas". Em nível nacional, temos outros programas de intercâmbio a “TechGirls”, e, no ano passado, uma nordestina teve a oportunidade de estar nesse programa de intercâmbio, e também temos Power for Girls, outro programa educacional para dar mais acesso, para dar essa equidade de gênero para todos e todas”.
Inspiração
Como muitas brasileiras, Gigi Lucena, que tentou iniciar sua vida acadêmica com o bacharelado em Matemática, na Universidade Federal de Pernambuco, precisou escolher entre o estudo e o trabalho. Mudar para outro pais e se reinventar foi o que proporcionou novas oportunidades com a ciência e a engenharia.
Nesse processo, Gigi chama atenção para as poucas mulheres que estiveram com ela. “Dentro da sala de aula, eu tinha caso de ser a única mulher. Isso é o quê? Já nos anos dois mil. Eu sendo a única mulher dentro da sala”, observou.
Um outro ponto levantado pela engenheira é a falta de autoconfiança das mulheres em realizar coisas. Foi somente na Space Week Nordeste de 2023 que Gigi observou como seu trabalho pode encorajar essas mulheres.
“Muitas mulheres não acreditam que elas podem. Muitas mulheres acham que aquilo é impossível. E eu só notei isso quando eu vim ano passado para a Space Week Nordeste, representando a NASA. Eu vim aqui para falar do meu trabalho. Quando eu terminei de falar do meu trabalho na NASA, eu não estava sendo abraçada por essas meninas, algumas até choraram e disseram ‘você me dá esperança’, ‘Você é nordestina e mostrou que eu posso’. Aquilo me tocou no coração de uma forma que eu vi que a minha missão não era nem tanto a NASA, minha missão era mostrar a elas que é difícil, mas elas podem”, explicou Gigi Lucena.
Assim como a engenheira brasileira é encorajada a liderar equipes no JPL, Gigi quer inspirar meninas e mulheres a acreditarem em si próprias. “Eu quero abrir o caminho ainda mais para elas, para as nossas nordestinas, que é ainda mais difícil, para que elas vejam que, sim, a gente pode”, concluiu Gigi Lucena.
O processo de ocupar os lugares é lento mas não é impossível. A Space Week Nordeste tem mostrado isso, apresentando histórias e pesquisas de mulheres que estão sendo referência nos campos onde atuam.
Por: Ingrid Trindade
Fotos: Ingrid Trindade
Revisão: Jáder Cavalcante