Egressa e professor do PGCult ganham Prêmio Fapema com estudo sobre o filósofo Jean-Jacques Rousseau

Francyhélia Benedita Mendes Sousa, egressa do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade do Centro de Ciências Humanas (PGCult-CCH) da UFMA, e Luciano da Silva Façanha, professor do Departamento de Filosofia e do PGCult, receberam o Prêmio Fapema 2022 na categoria Dissertação de Mestrado, na área de Ciências Humanas e Sociais, com o trabalho “Filosofia, Gênero e Literatura no Século XVIII: a figura feminina apresentada por Jean-Jacques Rousseau no romance filosófico Júlia ou A nova Heloísa”.

A pesquisa premiada, que foi desenvolvida junto com o Grupo de Estudo e Pesquisa Interdisciplinar Jean-Jacques Rousseau (Gepi Rousseau), teve o objetivo de analisar as condições históricas e sociais da mulher no século XVIII com base em sua representação nas obras do filósofo francês.

Segundo Francyhélia, baseado na figura feminina apresentada por Rousseau (1712-1778) no romance filosófico “Júlia ou A nova Heloísa” foi desenvolvida uma análise interdisciplinar entre Filosofia, Gênero e Literatura no chamado “Século das Luzes”, percebendo as condições morais e políticas nas quais a mulher estava inserida, tanto nas obras quanto na sociedade burguesa da época.

Ao refletir sobre as representações e os discursos nos quais personagens femininas foram idealizadas ao longo da Idade Moderna, a pesquisadora concluiu que houve muitos apagamentos, silenciamentos, usurpações e violações para com as mulheres na sociedade e na literatura francesas do século XVIII pré-Revolução. “Nesse contexto, a civilidade e sociabilidade impostas às mulheres, principalmente, sob o pretexto de uma moral feminina, deu origem a uma nova forma de ser mulher, em uma sociedade que estava muito mais preocupada com hábitos voltados à representação do vestir, do comer, do falar e do agir do que com o verdadeiro desenvolvimento das faculdades humanas”, enfatizou.

A proposta de realizar a pesquisa, explica a discente, veio de seu orientador, Luciano da Silva Façanha, que encorajou a aluna a desenvolver o tema. “Houve receio de minha parte, em função do desconhecimento da possibilidade de trabalhar questões relacionadas a gênero em Rousseau. Mas a preocupação com as condições materiais do direito universal à dignidade humana me levou a aceitar o convite para refletir sobre as condições sócio-históricas às quais as mulheres são submetidas há séculos”, explicou.

O professor Façanha, por sua vez, enfatizou o êxito de sua orientanda e destacou a originalidade do tema. “A aluna já tinha conhecimento sobre o filósofo Rousseau e, no mestrado, desenvolveu um trabalho inovador, pois, além do viés interdisciplinar de sua pesquisa, trabalhou questões pouco estudadas na obra do autor, como gênero e literatura na filosofia do século XVIII, ao apresentar a questão da figura feminina em um best seller da época. A dissertação dela tem caráter original pelo que foi abordado, em um período em que raríssimos autores se preocupavam com a figura feminina na filosofia e na literatura”, explicou. 

Sobre o Prêmio Fapema 2022, Francyhélia afirmou que a conquista representou o reconhecimento de uma longa jornada repleta de adversidades, anseios e aprendizados. “Fiquei imensamente grata por ter concluído e ter sido premiada por uma pesquisa cuja proposta foi a intersecção entre filosofia, gênero e literatura. O Brasil ainda é um país no qual as mulheres, principalmente as mulheres negras e indígenas e as mulheres LGBTQI+, sofrem inúmeros tipos de violências. Portanto ter estrutura, financiamento e reconhecimento das pesquisas e dos pesquisadores é um passo fundamental na luta contra todos os tipos de opressões e em favor da dignidade humana”, declarou.

Saiba mais

Francyhélia Benedita Mendes Sousa é discente da Especialização em Cidadania, Inclusão e Diversidade do Câmpus São Bernardo da UFMA. Licenciada em Filosofia também pela Universidade Federal do Maranhão (2019), é mestra em Cultura e Sociedade pelo Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da mesma instituição. É professora de Filosofia do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema) em Viana. Atualmente, possui pesquisa nas epistemologias críticas, com base na intersecção entre estudos sobre gênero, feminismo negro e decolonialidade.

Desde 2015, é membra do Grupo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinar Jean-Jacques Rousseau (Gepi Rousseau) e participa do Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política.

Por: Orlando Ezon

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante