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Acadêmica do curso de Psicologia terá pesquisa sobre violência psicológica contra a mulher publicada na revista eletrônica Contextos Clínicos
A acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão, Câmpus de São Luís, Larissa Fook Bastos terá uma pesquisa publicada na revista eletrônica Contextos Clínicos, cujo título é “O que os olhos não veem, o coração não sente? Desenvolvimento de um instrumento brasileiro para avaliar a violência psicológica contra a mulher”. O objetivo da pesquisa consiste em desenvolver um instrumento capaz de mensurar o nível de violência psicológica praticada por parceiro íntimo contra a mulher, investigando quais comportamentos são identificados como violentos.
A aluna revelou que o interesse pela temática surgiu pelos lados acadêmico e pessoal. “A parte acadêmica foi no sentido de perceber uma lacuna de pesquisas e estudos que desenvolvessem instrumentos brasileiros para avaliar e identificar especificamente a violência psicológica. E a parte pessoal, no sentido de que sempre acreditei na importância da luta de gênero, e mais especificamente na importância da luta contra a violência doméstica, que infelizmente ainda é uma realidade muito comum no nosso país”, declarou.
Larissa Fook acrescentou que, com o apoio do orientador de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), pensaram em desenvolver um instrumento brasileiro para auxiliar na avaliação e identificação da violência entre parceiros íntimos. “Escolhemos esse tema, pois identificamos que a literatura mostra predominância de estudos sobre violência conjugal, focando em agressões físicas e sexuais, por elas produzirem efeitos mais visíveis. Além disso, a violência psicológica, por ter aspectos mais sutis, acaba sendo mais difícil de ser identificada e, muitas vezes, os comportamentos que estão envolvidos nessa forma de violência são naturalizados dentro dos relacionamentos”, detalhou.
A estudante também explanou que o trabalho tem proposta de ir além do TCC. “A gente percebeu que seria importante um estudo que desenvolvesse um instrumento brasileiro para refletir nossa realidade cultural e social, para avaliar a violência psicológica de forma específica, até porque a dificuldade da identificação da violência contra a mulher é muitas vezes apontada como uma barreira para se fazer uma intervenção preventiva e eficaz”, destacou.
A pesquisa de Larissa Fook também ganha força por conta do sancionamento da Lei 14.188, de 28 de julho deste ano, que ampara o direito das mulheres vítimas de violência psicológica. Conforme a proposta, a violência psicológica consiste em “causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, seus comportamentos, suas crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”. A punição para o crime é reclusão de seis meses a dois anos e pagamento de multa. A pena pode ser maior se a conduta constituir crime mais grave.
Por essa razão, a discente considera que a inclusão desse crime no Código Penal é uma conquista e um grande avanço para a sociedade. “Minha visão sobre a criação da Lei é extremamente positiva. A violência psicológica passou e ainda passa muito tempo despercebida. O fato de os comportamentos que compõem essa forma de violência serem muito naturalizados entre nossa população contribui para uma invisibilidade, além de que é uma violência que é muito mais tolerada dentro dos relacionamentos. Tanto que a maioria das mulheres só denuncia ou procura ajuda quando as agressões se tornam físicas. E a violência psicológica é, em grande parte dos casos, um antecedente das outras formas de violência. Então é ela que aparece ali primeiro no relacionamento. E hoje em dia a gente já sabe que os males causados pela violência psicológica são tão grandes quanto os causados pelas outras formas de violência doméstica”, enfatizou.
O professor do Departamento de Psicologia da UFMA e orientador de Larissa Fook, Lucas Guimarães Cardoso de Sá, defende a relevância de discutir a temática da violência psicológica. “Debater e pesquisar assuntos como esse ajuda a dar visibilidade ao tema. Se não escrevermos, se não falarmos sobre isso, as pessoas muitas vezes não acham o que fazem violento, acham que é normal, que é uma demonstração de amor. Quando as coisas ganham nome, quando um comportamento violento passa a ser descrito em frases objetivas, as pessoas passam a ter a chance de parar e pensar. As pesquisas podem mudar a percepção das pessoas. Mostram que aquilo existe, colabora para educar, para ensinar”, opinou.
Sobre a criação da lei, o professor explica que se trata de uma ideia que evoluiu ao longo do tempo. “A criação da lei, em primeiro lugar, caminha junto com o que os estudos científicos têm mostrado, sobre o que a violência psicológica pode causar. Eu acho que isso é fundamental de ser destacado que ela foi criada porque a ciência mostrou que a violência psicológica existe e traz prejuízos. Então a lei dá o suporte legal, oficializa que o problema existe e pode fomentar mais facilmente políticas públicas, campanhas, projetos e vários outros tipos de ações governamentais e não governamentais, para que, cada vez mais,as pessoas se protejam e sejam protegidas da violência psicológica causada por parceiros íntimos”, analisou.
Saiba mais
A revista Contextos Clínicos é uma publicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Com periodicidade quadrimestral, publica artigos sobre investigações empíricas e revisões sistemáticas e integrativas da literatura que abordem a psicologia clínica em diferentes contextos. A principal missão da revista é a divulgação de produção qualificada sobre a prática clínica na área da Psicologia.
Por: Hérika Almeida
Produção: Laís Costa
Revisão: Jáder Cavalcante