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Thomas Cochrane: o controverso guerreiro da Independência brasileira

publicado: 12/09/2022 13h41, última modificação: 12/09/2022 13h41
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A passagem do Almirante escocês Thomas Cochrane pelos arraiais de nossa história despertou, e continua a despertar, sentimentos conflitantes. O 10º. Conde de Dundonald de Paisley e Ochiltree nos pares da Escócia e Marquês do Maranhão, no Império do Brasil, foi um dos comandantes estrangeiros que se destacaram nos episódios militares e políticos após o Grito do Ipiranga. Contratado às pressas por Pedro I, em 1823, para comandar a recém-criada Marinha Imperial brasileira, enfrentou a resistência armada dos portugueses à Independência, nas províncias do Nordeste e do Norte. Suas ações foram tanto militares quanto políticas. Agiu sob as ordens do Imperador, com poderes totais para manter a ordem e a paz, a fim de garantir a soberania nacional e a unidade do Império tropical.

Em pouco menos de um ano, Cochrane deu por cumpridas suas obrigações contratuais: expulsou os vasos de guerra portugueses das águas brasileiras e pacificou províncias que haviam jurado fidelidade ao poder português, obrigando-as a aderir à Independência. Mas aqueles foram tempos agitados, e novamente Pedro I recorreu aos serviços militares de Cochrane, desta vez para combater os revoltosos da Confederação do Equador, em províncias do Nordeste.

Mesmo tendo prestado serviços da mais alta relevância ao Império brasileiro, Thomas Cochrane entrou para história nacional como personagem das mais controvertidas. Resenhistas de nosso passado, de ontem como de hoje, estão muito longe de chegar a consenso sobre a sua conduta antes, durante e depois de suas operações vitoriosas nos conflitos navais na costa brasileira. Suas ações granjearam a simpatia e a exaltação de uns, despertaram o desprezo de outros, a raiva e o rancor de outros tantos.

Há os que o consideram herói de nossa emancipação política, e por isso merecedor de encômios e tributos. É o caso de Domingos A. B. Muniz Barreto, que escreveu o libreto Viva lorde Cochrane, marquês do Maranhão, herói brasileiro, publicado em 1823. O historiador Oliveira Lima chamou-o de “grande condottiere da emancipação do Novo Mundo e agente principal de nossa união”.

Mas há aqueles que o têm em posição bem diferente, como Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, que o chamou de aplicador de golpe contra a Coroa brasileira, em artigo intitulado “História da Independência do Brasil”, na Revista do IHGB, em 1938. No mesmo timbre manteve-se Hermínio Conde, autor de Cochrane, falso libertador do Norte!, ao destilar duras críticas ao almirante. Em direção semelhante, Astolfo Serra em nada poupou o comandante britânico quando o nomeou de notório pirata, assim como José Sarney, ao intitulá-lo de corsário. Ou, ainda, Laurentino Gomes que demonizou Cochrane em livro recente, chamando-o de herói maldito da Independência do Brasil. Diante de avaliações tão desencontradas fica a pergunta: o que sobra, aí, de verdade e o que fica de especulação, de exagero ou de ressentimento histórico?

É disso que nos ocuparemos na série de 7 matérias que serão publicadas nas próximas edições de O Imparcial, sobre a vida, feitos e conquistas do Almirante Thomas Cochrane.

E nesse momento de júbilo nacional, quando comemoramos o Bicentenário de nossa Independência política, queremos festejar a data no melhor estilo: com um rápido mergulho em passagens que marcaram a vida de um dos responsáveis por defender e garantir a autonomia e a integridade de nossa nação tropical.

A história não é, e nunca foi, matéria exata. Assim como outros relatos, ela é filtrada por interesses. Por isso, não se pode dizer que a história seja imparcial ou algo que cheire a isso. A construção histórica será sempre uma tomada de posição. Mas ela será tão mais útil e benéfica à formação da consciência cidadã quanto mais equilibrada for, quanto mais apurada a sua capacidade de observar o papel das personagens, os episódios e o arranjo das forças epocais.

O conjunto de matérias que serão estampadas nas próximas edições de O Imparcial são um convite e, ao mesmo tempo, uma provocação ao debate sobre o legado de uma importante personagem de nossa história. A nossa intenção é abastecer o leitor com informações para que ele forme sua própria opinião. Se nosso esforço servir para lançar algumas luzes sobre um tema polêmico como o desempenho de Cochrane durante o reinado de D. Pedro I, nossa tarefa estará cumprida. E é em meio às tramas de seu tempo que pretendemos flagrar a trajetória do audaz comandante escocês.

Continua na próxima edição.

Natalino Salgado Filho
Reitor da UFMA
Professor Titular da UFMA
Médico Nefrologista
Membro da Academia Maranhense de Letras
Membro da Academia Nacional de Medicina



Natalino Salgado Filho é reitor da UFMA, e são suas a apresentação, organização e notas da terceira e luxuosa edição do livro de Thomas Cochrane, Narrativa de serviços no libertar-se o Brasil da dominação portuguesa, publicado pela EDUFMA.

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