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Reflexões a partir de Davos

publicado: 02/02/2023 11h32, última modificação: 02/02/2023 13h00
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Já faz muito tempo – desde 1971 – que o calendário das questões político-econômicas mundiais começa em janeiro com a agenda do Encontro de Davos, Suíça. Como um fórum permeável a todas as questões relativas à economia global, o viés dos temas também tem ganhado aspectos sociais como direitos humanos e sustentabilidade. Percebe-se isso no ecletismo dos participantes que vão, desde cientistas, economistas, pesquisadores, ativistas do meio ambiente até artistas como Elton John.

As questões se impõem, contudo, quando a economia do mundo sofre algum tipo de ameaça de estagnação, inflação ou, quando dez entre dez organizações e economistas alertam sobre o ano que se inicia, de que, provavelmente, virá uma recessão em quase todos os países desenvolvidos e, por tabela, nos menos desenvolvidos.

Pode-se dizer sem parecer irônico (tampouco um crítico mordaz da geração e riqueza no mundo) que a frase definidora de todos os temas é a mesma que ficou famosa no já histórico caso de Watergate — eternizado também na sétima arte com o filme “Todos os homens do presidente” — quando os jornalistas investigativos Bob Woodward e Carl Bernstein do Washington Post revelaram as tramas de corrupção e espionagem sob a batuta do próprio presidente Richard Nixon, que terminou por renunciar.

A frase aludida é “siga o dinheiro”, uma realidade incontestável. Os grandes interesses dos debates em Davos carregam a necessidade de ver para onde o dinheiro caminha e como ele pode ser atraído para os interesses de todos os que definem os rumos do mundo. Evidente que coisas realmente boas acontecem ali também. Em 2000, a Aliança Global para Vacinas e Imunização foi lançada e, desde então, facilitou o acesso à vacinação, alcançando cerca de 760 milhões de crianças em todo o mundo.

Davos não é um oráculo, mas uma caixa de ressonância de algo que já está em andamento. O Fórum se encerrou no último dia 20, e de lá sairão recomendações a título de sugestão para esse enorme desafio, que representa as mudanças que se impõem para todos os estratos humanos e em todos os continentes.
 
Como não poderia deixar de ser, mal recém-saídos da pandemia de covid-19, o tema foi objeto de várias discussões. Em pauta, a relevância da cooperação mundial e das novas tecnologias que tornaram possível a criação de vacinas em tempo recorde, o que minorou a quantidade de vítimas e que nos fez constatar o que a solidariedade é capaz de proporcionar.


Outras discussões se deram em torno da aceleração impensável em tempos normais da utilização das onipresentes ferramentas virtuais, fato que, segundo se anuncia, afetará diretamente ao redor de mais de um bilhão de pessoas até 2030, seja por meio da pura extinção de algumas ocupações ou diminuição de mão de obra direta em algumas atividades.

Vários especialistas alertaram acerca da necessidade de desenvolver novos modelos de negócios que não prescindam do ser humano no centro de importância, sob o risco de que as oportunidades deixem de fora o que nos diferencia das máquinas e dos animais. Os ambientes virtuais interconectados são outro desafio, em razão das precárias regulamentações que, por vezes, permitem existirem crimes e uma série de prejuízos para instituições e pessoas. O meio ambiente esteve novamente em foco, e o Brasil esteve no centro dos debates em razão das queimadas na Amazônia, bem como os especialistas se preocuparam em debater novas formas de preservação da fauna e da flora da região.

Temos vários desafios a vencer. O mundo já é outro, e nós, como Fernando Pessoa atesta em poesia, atravessados fomos pela mudança de forma inexorável. Mas, como otimista inveterado que sou, continuo acreditando: sobreviveremos para poder viver e não viveremos para sobreviver.

Natalino Salgado Filho, MD.PhD
Professor Titular de Medicina da UFMA
Chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da UFMA
Coordenador da Pesquisa Clinica em Nefrologia do HUUFMA
Coordenador da Liga de Afecções Renais do HUUFMA

 

Revisão: Jáder Cavalcante

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