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O amanhã no agora e o ontem no futuro

publicado: 30/12/2022 11h40, última modificação: 30/12/2022 11h40
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O ano de 2022 foi, de muitas formas, emblemático para os brasileiros. Atravessamos um gigantesco processo eleitoral que mudou o Executivo e o Legislativo em nível estadual e federal; vimos escapar (de novo) a chance de sermos hexacampeões no torneio mundial de futebol e, aliado a tudo isso, assistimos ao recrudescimento da pandemia que teima em não nos deixar em paz. Tudo aquilo - que era para ter sido e não foi - não é. Mas ainda continua podendo vir a ser.

Como gestor público, constato que os desafios têm sido hercúleos. A máxima da economia que vivencio diariamente se faz do binômio “necessidades infinitas/recursos limitados”. Mas, com criatividade, compromisso no trato com a coisa pública e muita responsabilidade, é possível avançar e proporcionar à comunidade universitária, da qual orgulhosamente faço parte, um cenário maior, cheio de novas e múltiplas possibilidades, por meio da valorização de bens materiais e imateriais.

São tantos e tão diversos os feitos que seria impossível enumerá-los aqui, embora amplamente registrados e divulgados em nossas redes sociais e nos canais oficiais de divulgação. Termino o ano com a indescritível sensação do dever cumprido, a despeito de guardar no coração o desejo por mais e melhor para o ano que se avizinha.

Ao mesmo tempo, irmano meu pensamento às famílias e pessoas queridas que sofreram perdas de entes próximos, tragédias e fracassos pessoais. Faço votos de que possam superar essas intempéries e viver dias felizes e plenos de realizações logo em breve. In domo luctus est sapientia (na casa do luto há sabedoria), diz o sábio autor do livro bíblico Eclesiastes. Sempre podemos aprender algo com o sofrimento e a dor de quem nos avizinha. Exercer a compaixão e a solidariedade é a primeira das ações.

Aos demais, conclamo: sejamos gratos por ter chegado até aqui, sãos e salvos de muitas formas. Sobrevivemos. E, na alma, um sentimento agudo de gratificação pelas conquistas pessoais e profissionais que não se confundem com o desenrolar dos fatos externos; pela saúde que desfrutamos em família; pelos companheiros e amigos que, a seu modo, também celebram suas vitórias.

Ao mesmo tempo, a proximidade de um novo ciclo na terra faz com que os corações humanos se quedem em balanço: afinal, o que fizemos com os dias desse ano que estão findando? Reconhecemos o que recebemos e alcançamos? E qual confiança alimentamos o ainda desconhecido 2023? “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.” (Tenzin Gyatso – Dalai Lama).

É nessa delicada tessitura que nos equilibramos. A incerteza é a única certeza. Então, planos bons devem constar da agenda, metas a serem alcançadas e mudanças devem, sim, ser colocadas como objetivos. Eles todos devem ter um pouco de espaço para o contingente e o fortuito. Um tipo de elasticidade nas expectativas que nos prepara para o imponderável.

Mas, para alcançar novas conquistas e viver o diferente, é preciso agir. Não à toa. Fernando Pessoa, em seu poema “Ano novo”, vaticina: “Curvas do rio escondem só o movimento/O mesmo rio flui onde se vê/Começar só começa em pensamento”. É preciso mudar: a mesmice dos dias requer trabalho denodado e diário; um tipo de cultivo do ser que não se preocupa com o erro, mas com o bom, o amável, a alegria de realizar no exato instante em que se realiza.

Como lembra Ferreira Gullar, em sua poesia “Meia noite”: “(...)um ano novo começa/ E não começa/nem no céu nem no chão do planeta: começa no coração. Começa como a esperança de vida melhor/que entre os astros não se escuta/nem se vê nem pode haver:/que isso é coisa de homem/ esse bicho estelar/que sonha (e luta)”.

Sendo assim, cada dia de 2023 deve nos fazer viver com um pequeno senso da urgência de sonhar, de valorizar os companheiros de jornada temporários ou permanentes; de encarar cada oportunidade como única; de não desperdiçar tempo, talento e energia em coisas que não importam ou não valem a pena. Porque se o amanhã tornou-se agora o ontem virou futuro. Portanto, continuemos recomeçando.

Um feliz e venturoso 2023!

Natalino Salgado Filho
Reitor da UFMA
Professor Titular da UFMA
Médico Nefrologista
Membro da Academia Maranhense de Letras
Membro da Academia Nacional de Medicina

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