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Novos hábitos para novos tempos

publicado: 07/03/2021 21h18, última modificação: 07/03/2021 21h18

Com o recrudescimento da pandemia ocasionada pela Covid 19, assistimos ao prolongamento da realidade – já não mais nova nem desconhecida – de milhares de alunos e professores mediados pelos aplicativos que têm possibilitado a continuidade do processo ensino-aprendizagem.

A crise sanitária impôs a todos nós uma nova forma de ser e de fazer as coisas. Telas minúsculas tomam o espaço de nossos dispositivos. Fechamos e abrimos microfones e câmeras para intervir. Clicamos no ícone de uma mão, para podermos manifestar nossa opinião e isso quando não preferimos escrever mensagens no chat da sala, onde a aula/reunião/evento acontece. Acostumamo-nos rápido a passar horas “plugados”, como forma de preservar nossa saúde e seguir adiante. Não existe a opção do off-line. Estar desconectado, nestes novos tempos, equivale, às vezes, a não existir.

Num país marcado pelo fosso da desigualdade social, os estudantes da rede pública – seja da graduação ou mesmo do ensino fundamental e médio – foram os mais atingidos. Como fazer com que pessoas moradoras das periferias, das zonas rurais e dos distantes rincões – onde a internet é cara e inacessível, bem como computadores e celulares apropriados são escassos – possam ter respeitado o seu direito fundamental à educação? Por falar em direito fundamental, o professor Ingo Sarlet, uma das lúcidas referências na área do Direito Constitucional, defende que o acesso à internet está abrangido também pelo princípio da dignidade da pessoa humana e que, por isso mesmo, se insere na categoria dessa espécie de direito.

E, quando me refiro a estudantes da rede pública, é porque tomo como exemplo a minha própria realidade, na condição de atual reitor da Universidade Federal do Maranhão, onde um grande esforço coletivo foi adotado, para que pudéssemos proporcionar ao público alvo, as melhores ferramentas e programas inclusivos, ancorados na segurança e proteção de dados e atentos aos desafios psicossociais de nosso corpo discente e docente.

Para tempos novos, novos hábitos foram incorporados, a exemplo da oferta de cursos, treinamentos e webinários, para capacitar o público universitário na área específica do ensino remoto e da modalidade a distância, ferramentas e plataformas digitais, com foco no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e na oferta de um aplicativo gratuito que veio possibilitar aos interessados a produção de e-books para auxiliar os docentes em suas ministrações.  

Fomos além, para que ficássemos fiéis ao nosso compromisso de ser uma universidade inclusiva: por meio de um edital, selecionamos milhares de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, para os quais foram entregues tablets e chips de dados. 

No final de janeiro deste ano, em parceria com as universidades federais do Rio Grande (FURG), do Sul da Bahia (UFSB) e de Goiás (UFG), lançamos o Programa de Mobilidade Virtual em Rede de Instituições Federais de Ensino Superior (Promover), proposição da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes, um projeto ousado e inovador, que vai permitir uma atuação coordenada e parceira nas áreas de ensino, pesquisa e extensão e até na área de gestão.

De início, o projeto oferece a oportunidade para que alunos da graduação de uma universidade parceira possam cursar até três disciplinas em outra universidade abrangida pelo projeto, tudo pela internet. 

Não sabemos até onde a pandemia nos imporá essa estratégia de fazer com que o ensino seja ministrado na forma remota. Mas uma coisa é certa: encontramos, nessa modalidade, uma ferramenta útil e necessária, para que não paralisássemos as atividades de comunicação, ensino e extensão. Com fé e paciência, que reinventemos hábitos sustentáveis para a manutenção das nossas atividades em tempos de pouca previsibilidade, conscientes de que possamos melhorar, aquilo que não podemos mudar.

 

Natalino Salgado Filho
Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.

Publicado em O Estado MA, em 06/03/2021