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Nossa casa pede socorro
Uma rápida olhada no noticiário das últimas semanas é o suficiente para constatar que vivemos uma escalada desenfreada na agressão ambiental. E as notícias têm um fio condutor: neste final de semana é o início de uma conferência mundial, a COP-26, Conferência do Clima da ONU, que acontece em Glasgow, na Escócia, onde lideranças se reúnem para discutirem as mudanças climáticas que assolam o planeta.
Relatórios indicam que a emissão de gases poluentes aumentou e que o Brasil não pontua bem no ranking. Inegavelmente, houve um aplausível avanço. A Constituição Federal de 1988, por exemplo, foi a primeira a incluir um capítulo inteiro dedicado ao meio ambiente, disciplinando sua proteção, preservação para estas e para as futuras gerações, ao mesmo tempo que o institui como um direito fundamental. Também tramita atualmente uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) no Congresso Nacional, a qual visa inserir, na Carta Maior, um artigo que trate da insegurança climática.
Reconhecido, pois, o progresso na legislação ambiental e nas campanhas de preservação, aliado a iniciativas da sociedade civil, como manejo agrícola de baixo carbono, muito mais ainda precisa ser feito, em razão do tempo decorrido na tentativa de combatê-lo. E se o problema não é recente, a aceleração com que ele se intensifica o é.
Recentemente, assistimos à triste situação do arquipélago Bailique, no Amapá, na foz do rio Amazonas. Lá, em razão da salinização das águas – fenômeno que vem se intensificando nos últimos anos – a população teve que recorrer ao fornecimento de água de outras fontes, apesar de morar à beira de uma imensidão de água.
Sobre a Amazônia Legal, também somos informados de outro triste registro. Mais de 36 mil quilômetros quadrados foram desmatados na região até abril deste ano, de acordo com registro da plataforma Terra Brasilis, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Mananciais são destruídos, as florestas sofrem derrubadas desenfreadas e os rios padecem com a poluição.
Do jardim recebido, não podemos deixar um deserto para nossos descendentes. O alarme é do Papa Francisco, feito este ano, durante solenidade de encerramento do Ano Especial do quinto aniversário da encíclica Laudato si’ . O santo padre chama a atenção para as diversas consequências do modelo econômico que causou ao planeta este estado atual.
A situação, embora seja triste e grave, tem solução e ela passa necessariamente por um esforço coletivo. A pandemia, ocasionada pelo coronavírus, foi apenas uma entre tantas que já assolaram este planeta e a humanidade fez uma imensa corrente do bem para debelar a situação. Com a descoberta da vacina e o esforço hercúleo de todos – em especial dos cientistas e profissionais da área da saúde – aos poucos voltamos à normalidade.
Investimento sério e contínuo na área da ciência e da pesquisa são algumas das ferramentas de que podemos lançar mão para o enfrentamento da crise ambiental que o planeta atravessa. Acredito que, na conferência que mencionei no início do texto, muitos estudos serão apresentados como norteadores de ações inibidoras de degradação e propulsoras de um mundo ambientalmente mais saudável. Se Deus quiser, a ciência haverá de triunfar sempre diante do pedido de socorro do nosso planeta que a humanidade insiste em não ouvir. Não podemos ignorar que há mais de cinquenta anos a escritora norte-americana Raquel Carson, com a obra Primavera Silenciosa, já tinha uma premonição sobre a grave poluição do Planeta Terra. Infelizmente, pelo visto, ela não foi ouvida.
Natalino Salgado Filho
Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.