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Da profecia poética à realidade

publicado: 27/07/2022 08h00, última modificação: 02/08/2022 17h14
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Pode-se creditar a James Webb, exímio e visionário administrador, o sucesso completo do projeto Apolo, que colocou o homem na Lua. O projeto, desafio lançado pelo Presidente John Kennedy em 1962 em Houston, Texas, estabeleceu uma das metas mais impressionantes que qualquer nação tenha se proposto até aquele momento.

A frase exata em que nasceu o projeto de verdadeira ficção científica na época foi a seguinte: “Nós escolhemos ir para a Lua... Nós escolhemos ir para a Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis; porque esse objetivo servirá para organizar e medir o melhor das nossas energias e habilidades, porque o desafio é um que estamos dispostos a aceitar, um que não estamos dispostos a adiar e um que temos a intenção de vencer, e os outros, também.”

Escolher o impossível, deve ter parecido devaneio poético. De fato, quando o icônico presidente americano lançou a ideia, não se tinha a mais remota hipótese de como se faria para cumprir, ainda dentro da década de 1960, o objetivo de colocar um ser humano sobre o solo lunar, a partir de uma ideia lunática e diante do senso aparentemente perdido.

Um ano antes, 1961, Kennedy convidou James Webb para presidir a NASA, então um aglomerado de institutos com pouco orçamento. Durante os oito anos seguintes, Webb trabalhou incansavelmente em todas as frentes possíveis, especialmente nos círculos de Washington, negociando emendas para a NASA que, ao final, se tornou um grande conglomerado, reunindo possivelmente a maior quantidade de cientistas e engenheiros de que se tem notícia nos projetos Gemini, Mercury e Apolo. 

O James Webb, que está despertando o espanto e aumentando nossa curiosidade pelo universo, é o telescópio. Seu projeto iniciou em 1996 e foi lançado em dezembro de 2021. Muito de sua tecnologia ainda não existia quando esta missão começou.

As imagens que o heroico Hubble nos revelou estão sendo revisitadas pelo James Webb e a diferença de nitidez e detalhes é absolutamente surpreendente. O novo telescópio tem 8 espelhos e uma infinidade de equipamentos para fazer leituras e terá uma vida útil estimada em cerca de dez anos. O que podemos esperar de suas descobertas?

Há cerca de duas semanas, o mais sofisticado telescópio já lançado bateu o recorde ao captar a mais distante galáxia de que se tem notícia. Ela está há 13,5 bilhões de anos. A meros 300 milhões de anos após o Big Bang. Uma notícia maravilhosa para uma área deque ainda se sabe tão pouco. Os filmes e livros de ficção científica já anteciparam muito, inclusive com narrativas mirabolantes, que contêm aventuras e situações que nos parecem impossíveis, como o teletransporte e os avanços na medicina. Mas saber que existe muito mais na realidade do que ousamos pensar é um alento para nossos descendentes, que verão coisas maiores do que já vimos.

O poeta Olavo Bilac, em sua coletânea de sonetos Via Láctea, profetiza: “Ora (direis) ouvir estrelas! (...) E conversamos com toda a noite, enquanto a via-láctea, como um pálio aberto, cintila”. O que parecia apenas imaginação fértil de um poeta pode se tornar uma realidade possível.

Avante! Um viva à ciência! 

Natalino Salgado Filho
Reitor da UFMA
Professor Titular da UFMA
Médico Nefrologista
Membro da Academia Maranhense de Letras
Membro da Academia Nacional de Medicina

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