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Adiar o inevitável

publicado: 21/04/2022 07h51, última modificação: 21/04/2022 19h54

O breve momento de alívio que boa parte do planeta experimenta em decorrência da redução dos casos de infectados com o coronavírus nos motivou a retomar uma série de atividades esquecidas nesses últimos dois anos. Encontros presenciais, festas e viagens são apenas alguns dos exemplos de que podemos lançar mão.

Na Universidade Federal do Maranhão, também estamos vivenciando o retorno de diversas atividades ao modo presencial. Cheios de expectativas para continuarmos avançando, mas sem esquecer as caras lições que aprendemos nesse biênio que, de certa forma, antecipou o futuro.

A humanidade parece ter aprendido a lição. Reportagem publicada na BBC esta semana retrata um bom exemplo vindo da África, precisamente da Libéria, um dos países mais pobres do planeta. Prevendo uma próxima pandemia, membros das comunidades rurais estão sendo recrutados para atuar como identificadores de problemas de saúde antes que esses adquiram proporções que não possam ser contidas. E não é “se”, é “quando” essa realidade chegar. Com alto índice de doenças infecciosas e o pior sistema de saúde do mundo, esse cuidado por si só se justifica. Atualmente, são 4 mil agentes comunitários espalhados por 15 condados na Libéria e que estão sendo preparados para identificar rapidamente situações que exijam intervenção imediata e estado de alerta por parte do mundo.

A CNN, em reportagem publicada em dezembro do ano passado, trouxe um alerta da pesquisadora que fabricou a vacina da Oxford: a próxima pandemia pode ser ainda pior e mais letal que a ocasionada pelo coronavírus, que, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, dizimou 5,26 milhões de pessoas em todo o mundo, sem mencionar os prejuízos na casa de trilhões de dólares na produção econômica, social e política e no adoecimento mental e emocional de bilhões de pessoas.

O bilionário Bill Gattes — que também ficou conhecido por tentar alertar acerca da possibilidade da ocorrência da covid-19 — tem, insistentemente, pregado acerca da necessidade de mais investimentos em pesquisas científicas e medicamentos mais eficazes. Em longa entrevista ao jornal Financial Times, ele comparou esse esforço a uma espécie de apólice de seguros. “Se, para preservar milhões de vida, empregos, negócios e garantir um futuro para a humanidade, tivermos que gastar trilhões de dólares, acredito que é altamente rentável esse investimento”, afirmou.
Se tomarmos essa série de conselhos como orientadores para o inevitável, é provável que tenhamos alguma chance, ainda que mínima. A história registrada da humanidade nos ensina de quantas hecatombes nos recuperamos. 

A literatura, a arte e o cinema, de forma ficcional, anteviram a realidade da qual pouco a pouco saímos. Em interessante obra profética, o líder indígena Airton Krenak escreveu sobre “Ideias para adiar o fim do mundo” e dissertou acerca dessa simbiose homem-natureza.

O respeito à nossa casa, aos nossos semelhantes e aos milhares de seres que habitam esta mesma morada é um dos indicadores de que podemos, sim, pelo menos, adiar o inevitável.

 

 

Natalino Salgado Filho

Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.

 

Revisão: Jáder Cavalcante

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