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A Arte e a inspiração de novos cientistas
Destaco o cinema como um meio de inspiração para aprender a tornar o mundo melhor. Na maratona dos streamings, deparei-me com o tocante filme “O menino que descobriu o vento”, estrelado por Maxwell Simba, Aïssa Maïga e Chiwetel Ejiofor, que também é o diretor. O longa é emocionante e inspirador sob diversos aspectos, mas em especial por ser baseado numa história verídica: a de William KamKwamba, um menino que viu solução quando todos a seu redor só viam problemas, numa pequena aldeia, no interior do Malaui, na África.
Determinado a estudar, ele não se abateu com as dificuldades financeiras que assolavam sua casa. A seca e a pobreza eram dois elementos cotidianos e com elas, a fome. Não estou exaltando essas circunstâncias – pelo contrário, lamento e muito – mas quero ressaltar a coragem do garoto e sua genialidade em descobrir do lixão uma alternativa para resolver um problema que parece insolúvel. Ele desenvolveu um moinho de vento capaz de bombear água e, assim, evitar que as plantações morressem. E tudo isso foi possível, graças à paixão pela ciência.
Hoje, William KamKwamba é bacharel em estudos ambientais e especializou-se em Engenharia pela faculdade Dartmouth College, nos Estados Unidos. Ele inspira garotos mundo afora e decidiu que a experiência de sucesso vivida seja também prática. Por meio de uma organização sem fins lucrativos chamada WiderNet, disponibiliza ideias simples para serem concretizadas na área da inovação e tecnologia.
O filme é mais uma prova do que ela, a ciência, é capaz de fazer para mudar vidas e destinos de uma comunidade inteira. E mais ainda quando encontra discípulos devotados entre os jovens que, em tese, possuem muito mais anos e tempo de qualidade para dedicar à causa escolhida. A ciência não depende de convicções religiosas, políticas, raciais. Pelo contrário, ela atravessa soberana por cima de todos esses elementos e floresce, quando cultivada num solo fértil de incentivo.
Como pesquisador apaixonado, nada mais me alegra do que ver o brilho nos olhos daqueles que também abraçam a ciência como uma de suas norteadoras, na vida, a despeito das dificuldades com as quais se deparem. E é por causa dessa tenacidade que, de acordo com os dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, mantemo-nos como o 13º maior produtor de conhecimento científico ao redor do planeta. No período de 2015-2020, mais de 370 mil trabalhos foram publicados em revistas internacionais, de acordo com dados recentes.
Relatório de ciências da Unesco, divulgado em junho, comprovou que são investidos menos de 1% de seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), em 80% dos países. Nesse quesito, o Brasil investe 1,15%. Sim, eu sei que precisamos avançar. E muito. A começar por despertar vocacionados desde a mais tenra idade, possibilitando experiências e vivências, na área, as quais poderão influenciar na tomada de decisões políticas, para que o cenário mude radicalmente. Acredito que um país que já legou ao mundo tantas expertises pode voltar a sonhar com novas descobertas e novos cientistas. E que eles também encontrem inspiração para a ciência por meio da arte.
Natalino Salgado Filho
Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.
Publicado em O Estado do MA, em 11/09/2021