Pesquisa, Produção, Texto e Edição: Allan Rodrigues, Luciano Santos, Maiara Pacheco, Marcos Fábio Matos, Sansão Hortegal (Jornalistas da Diretoria de Comunicação da UFMA)

Revisão Gramatical: Jáder Cavalcante (Revisor de Texto e Professor de Português)


Imprensa no Maranhão completa 200 anos de história relembrando os marcos dos primeiros jornais

Desde o século XIX, o Brasil e o mundo se transformaram totalmente. Nesse período, o Brasil se tornou independente de Portugal, ocorreu a segunda Revolução Industrial, houve duas guerras mundiais, e o planeta tomou cada vez mais conhecimento sobre as questões humanitárias globais, em velocidade que beira ao tempo real, como é visto hoje com transmissões de internet cada vez mais rápidas.

Muitos não sabem que, durante esse tempo, estava lá a imprensa maranhense, que celebra, em 2021, 200 anos de história, de informação, de novas tecnologias e novas técnicas para melhor informar o público, de acordo com as transformações sociais que são sempre demandadas pela população.

Essa história é contada pelo projeto 200 Anos de Imprensa no Maranhão, que, com o apoio da Fundação Josué Montello, da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) e da Vale, realiza uma série de eventos em 2021 que fazem parte da programação das respectivas celebrações.

A iniciativa visa resgatar e enaltecer os 200 anos da introdução da imprensa no Estado do Maranhão, de forma a proporcionar uma revisitação da memória, tanto do acontecimento em si quanto da trajetória da imprensa nesses dois últimos séculos. As ações estão sendo organizadas e efetivadas pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) e pela Superintendência de Comunicação e Eventos, por meio da Diretoria de Comunicação da Universidade.

Como aponta o primeiro episódio da série de podcasts do Projeto 200 Anos da Imprensa no Maranhão, a imprensa, de modo geral, desembarcou no Brasil junto com a chegada da família real portuguesa, em que, em 13 de maio de 1808, foi assinado um decreto que criou a Imprensa Régia, e, em 10 de setembro do mesmo ano, surgiu o primeiro jornal oficial, o Gazeta do Rio de Janeiro, que tinha por finalidade publicar os atos do governo (minuto 1:48).

O episódio conta também sobre o primeiro jornalista brasileiro, Hipólito da Costa, que fundou o Correio Braziliense em 1808; sobre os jornais que surgiram no interior do Maranhão; sobre a evolução tecnológica e técnica no jornalismo dos periódicos, rádios, televisões, portais de notícias e diversos outros meios de comunicação surgidos no século XX, que acompanharam as transformações técnicas geradas pelo avanço das telecomunicações para levar a melhor qualidade possível da informação aos seus públicos (minuto 12:40).

Conciliador do Maranhão: o começo de tudo

O Conciliador do Maranhão.png

No Maranhão, a história da imprensa começou em 15 de abril de 1821, quando foi impresso o primeiro jornal maranhense, O Conciliador do Maranhão, idealizado pelo então governador Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca (1819-1822), que nomeou como redatores seu oficial de Secretaria de Governo, Antônio Marques da Costa Soares, e o padre José Antônio Ferreira da Cruz Tezinho, pároco que tinha boa circulação no meio político. 

O periódico recebeu esse nome não à toa, pois os seus criadores, portugueses de nascença, apoiavam a Revolução Liberal do Porto, de 1820, em Portugal. Em 6 de abril de 1821, o Maranhão aderiu à Revolução por meio do governador Pinto da Fonseca, que, rapidamente, lançou O Conciliador do Maranhão. “Qual era o formato da adesão? Não havia ainda uma regulamentação, era um momento revolucionário. No caso do Maranhão, a adesão se deu em 6 de abril, e, quinze dias depois, havia um jornal circulando, uma ideia de Pinto da Fonseca para tentar ter o controle dos acontecimentos, para deter a palavra”, afirma Marcelo Cheche, professor da Universidade Estadual do Maranhão e coordenador do Núcleo de Estudos do Maranhão Oitocentista (Nemo).

A ideia inicial do jornal era explanar aos poucos e privilegiados leitores maranhenses sobre as até então desconhecidas ideias constitucionais da revolução portuguesa. “A partir daí, quando se teve a ideia de revolução, abriu-se a caixa de Pandora. As primeiras edições eram muito pedagógicas, explicando o que era constituição e o que era democracia. Nos jornais, circulavam notícias sobre revoluções que ocorriam em outros estados brasileiros, para dizer que o Maranhão tinha paz, e isso servia para manter a ordem no estado”, acrescentou Cheche.

No segundo episódio da série de podcasts (minuto 2:32), em que o professor dá mais detalhes da política maranhense da época e da formação d’O Conciliador e da imprensa maranhense, na capital e no interior do estado, ele acrescenta o teor do assunto eminentemente abordado pelos periódicos da época: “Praticamente todos os jornais e folhetos em circulação a partir da Revolução Liberal tinham dimensão política, porque a Revolução Liberal, quando instituiu as liberdades constitucionais, publicizou a política, que deixou de ser um assunto restrito às estruturas da nobreza para ter uma dimensão ampla”.

Alguns fatos curiosos sobre O Conciliador são: o jornal nasceu como O Conciliador do Maranhão, mas ficou com o nome reduzido para O Conciliador a partir da edição 77. O periódico tinha uma lista bem-organizada de assinantes, com nome, profissão e localização da residência do cliente; contabilizou mais de 600 assinaturas em seus registros e era distribuído apenas para os assinantes, contudo, após o início do uso da tipografia, passou a ter vendas avulsas ao preço de 100 réis, o que era um valor bem acessível, segundo Cheche; foi publicado por pouco mais de dois anos; e chegou a ter circulação no Pará e até um assinante de Liverpool, na Inglaterra.

Tipografia: o ponto de partida do jornalismo maranhense

A tipografia, em primeiro momento, pode ser imaginada apenas como uma estrutura importante para a produção dos jornais maranhenses que permitiu não apenas o início, mas o estímulo ao investimento no maquinário e a fonte de renda para os primeiros jornalistas maranhenses. Contudo o surgimento das primeiras tipografias no Maranhão vieram acompanhadas de carga política e social que viria a provocar uma verdadeira ebulição na animosidade da burguesia da época. Graças às produções das tipografias oitocentistas, São Luís formou e consolidou a alcunha de Atenas Maranhense.

Essa história começa a partir da fundação da Tipografia Nacional do Maranhão, por iniciativa do governador Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca (1819-1822), que apoiava a Revolução Liberal do Porto de 1820, em Portugal, e queria difundir as ideias na província maranhense por meio do recém-criado primeiro jornal do estado, O Conciliador, lançado um pouquinho mais cedo, em 15 de abril de 1821.

As primeiras 34 tiragens do jornal foram produzidas, primeiramente, por meio de uma técnica chamada tipo caligrafia, em cópias rudimentares de uma versão manuscrita que era feita pela dupla de redatores. A ampliação da quantidade de cópias só foi possível a partir da chegada da tipografia em novembro de 1821, uma máquina que permitia aos usuários produzir vários exemplares prensando letras no papel, utilizada também na produção de livros.

Curiosamente, com o novo aparelho, os redatores imprimiram as edições de 1 a 8 primeiramente, mas, devido a uma onda de reclamações dos assinantes, resolveram prosseguir com o número 35 do jornal após a impressão da edição de número 8.

Com a Revolução do Porto de 1820 e a Independência do Brasil começando a ser desenhada, a panela política brasileira começou a ferver, e é claro que a oposição ao constitucionalismo também queria ter voz por meio da impressão de jornais. O problema é que a Tipografia Nacional do Maranhão, localizada na Rua do Norte, em São Luís, era administrada pelo Governo, por meio de Costa Soares e do padre Tezinho.

Naquela época, só havia uma tipografia, e que ainda era controlada pelo governo. Até houve uma tentativa do médico Manoel Rodrigues de Oliveira, que tentou publicar, em fevereiro de 1822, um jornal opositor na própria Tipografia Nacional do Maranhão, o Gazeta da Verdade, porém sua publicação era sempre dificultada, por razões diversas.

Com o término da administração de Pinto da Fonseca e a eleição de uma Junta de Governo, o acesso à Tipografia foi flexibilizado, e Manoel Rodrigues teve a ideia de publicar a Folha Medicinal do Maranhão, que circulou de março a maio daquele ano com a proposta de realizar publicações da área médica, mas com críticas ao governo aqui e ali em suas edições. Curiosamente, na mesma época, surgiu um periódico chamado A Palmatória Semanal, incorporado dentro de O Conciliador, para rebater as próprias críticas publicadas pela Folha Medicinal.

Belarmino de Matos

Entre os tipógrafos de maior destaque, com certeza ocupa um lugar especial o axixaense Belarmino de Mattos, que criou, em 1857, a Associação Tipográfica Maranhense, para defender os impressores de sanções, ameaças e perseguições políticas. Nos primeiros anos de vida, sua mãe, Silvina, exerceu um papel fundamental ao cuidar de seus estudos e de introduzi-lo como aprendiz, logo aos dez anos de idade, na Typographia da Temperança, de Manoel Pereira Ramos, em 1840, na capital da província.

A ideia surgiu justamente da movimentação e profusão das tipografias no século XIX, em que os pais se interessavam por ingressar os filhos ao ofício por conta de que esses lugares especialmente proporcionavam estímulo à escrita e leitura. Com o tempo, Belarmino adquiriu experiência considerável e se tornou o provedor da família, entretanto, mesmo com certa popularização, as tipografias enfrentavam dificuldades financeiras. Mesmo assim, Belarmino de Matos foi fundamental para a publicação de O Progresso, primeiro jornal do Maranhão com periodicidade diária, que continha informações não apenas do Maranhão, como de outros estados e até do exterior.

O trabalho de Belarmino não passou desapercebido quando, em 1854, a direção de O Progresso passou de Antônio José da Cruz para Carlos Ribeiro, que o nomeou ao cargo de administração do jornal, justamente próximo às quentes eleições de 1856, em que O Progresso passou a ser bastante visado por conservadores e por liberais, sofrendo até mesmo perseguição do governador da província, Antônio Cândido da Cruz Machado, destituído pouco tempo depois.

Justamente esse episódio, principalmente, que motivou Belarmino de Matos a fundar a Associação Tipográfica Maranhense, em 11 de maio de 1857, com o apoio do presidente da província, Manuel Gomes da Silva Belford, o Barão de Coroatá, e de vários profissionais da tipografia e do jornalismo. A manutenção financeira foi conquistada por meio da comercialização de loterias, cujos bilhetes eram adquiridos nas tipografias, boticas e outros locais de São Luís e da província maranhense, garantindo até mesmo a realização de uma festa anual da Associação, com conferências, exposições das novidades da evolução técnica dos materiais gráficos e outras atividades.

A censura na época oitocentista

O caso Mendes-Abranches-Cochrane

A ebulição gerada pela difusão das ideias constitucionais do século XIX afetou - tanto para um lado, quanto para outro — não somente os maranhenses que viviam no Maranhão, mas também, especialmente, aqueles que estiveram na Europa para realizar seus estudos. Um deles era Odorico Mendes, que, retornando de sua graduação em Filosofia na Universidade de Coimbra, Portugal, aos 26 anos de idade, em 1825, se deparou com um histórico de sete jornais publicados em São Luís, todos fundados por portugueses.

Disposto a mudar esse cenário, fundou, no mesmo ano, o Argos da Lei, primeiro jornal criado por um maranhense, impresso pela Tipografia Nacional do Maranhão. Em suas publicações, propôs-se a expor os problemas da administração pública portuguesa em solo maranhense. Defendia a liberdade de imprensa e sua importância para a sociedade. Nessa mesma época, surgiu outro jornal, O Censor, que foi criado pelo português Garcia Abranches para rebater o Argos da Lei.

Acontece que Abranches pensava que haveria só um adversário para ele, porém eis que estava em terras maranhenses um oficial inglês chamado Lorde Cochrane, enviado inicialmente para impor a adesão do Maranhão à independência, que só viria a ser concretizada em 28 de julho de1823. Não satisfeito, o inglês, na mesma época das discussões entre o Argos da Lei e O Censor, decretou estado de sítio de guerra, desejando a fortuna portuguesa do Tesouro Provincial.

Garcia Abranches, enfurecido, chamou o oficial de “pirata” para pior em seu jornal, que acionou seu amigo governador da província Costa Barros. Resultado: foi  deportado do Maranhão para Portugal, onde ficou por um ano, configurando-se no primeiro caso de censura com expulsão de um jornalista do Maranhão.

 

 

José Cândido de Moraes e Silva: um mártir da violência imposta ao jornalismo maranhenses

Falecido aos 25 anos de idade, nem de longe José Cândido de Moraes e Silva deixou a vida sem deixar sua marca. Defensor ferrenho da Constituição por meio de suas publicações no jornal fundado por ele mesmo, O Farol, era apoiador da autonomia das províncias, até com um slogan, “Federação ou morte”. Também grande orador, insuflou o povo contra o governo em um movimento batizado de Setembrada, que acabou não se concretizando talvez pelo medo das pessoas do que exatamente acabou acontecendo com Cândido de Moraes: a perseguição política.

A sequência para ele não foi nada bonita: perseguido, preso e incorporado na Guarda Nacional, sofreu diversos processos, mas conseguiu a absolvição. Entretanto as mazelas sofridas ao longo dos anos foram cruéis à sua saúde, falecendo ainda jovem.

Bem-Te-Vi X Caçador de Bem-Te-Vi

Outro episódio ocorreu quando, indignado com as críticas do jornal O Bem-Te-Vi, de Estevão Rafael de Carvalho, o então presidente da província, Vicente Camargo, mandou, veja só, o Juiz de Paz ameaçar o jornalista com uma portaria que citava três “recursos” que poderia utilizar contra ele (e qualquer outro): mandar para o Campo do Ourique, quartel que acolhia os praças; a Corveta da Regenaração, um navio de guerra que prendia cidadãos para servir à Marinha; e o Estado do Pará, onde queria se referenciar ao governador Soares Andréa, que reprimiu o movimento da Cabanagem com violência. 

Estevão Rafael foi ameaçado de morte outras vezes, sendo acusado até de incitar a revolta da Balaiada. Houve até mesmo a publicação de outro jornal, Cacambo, relatando a notícia do assassinato do jornalista Vicente Lavor Papagaio, do jornal Sentinela Maranhense, morto com 32 facadas, em que mencionava que Estevão poderia ter o mesmo fim se não tivesse cuidado, só que o jornal, caindo no gosto popular, continuava com suas tiragens a todo vapor, tendo até fogos de artifício para divulgar suas tiragens. Os adversários, “injuriados”, criaram o jornal O Caçador de Bem-Te-Vi para contrapor, inclusive com o desenho de um homem fazendo mira com arma de fogo para uma ave.

Desafio à bala (?????)

Sim, e houve isso também. Ou quase. Cândido Mendes, o mesmo do slogan “Federação ou Morte”, empregou uma crítica ferrenha na década de 40 contra ninguém mais, ninguém menos que a família de Ana Jansen, que, na época e durante muito tempo, era acusada de maldades contra escravos e adversários. Só que o filho dela, o coronel e comandante da Guarda Nacional, Isidoro Jansen Pereira, chamou o jornalista “pro pau”, quer dizer, para um duelo à bala.

E pensaram que Cândido Mendes teve medo? Quem pensou se enganou, pois lá estava o jornalista no horário e lugar marcado, ao que recebeu somente um recado do oficial: “Diga a ele que o duelo será a cacete, numa outra oportunidade”. E acabou nisso.

O galho sempre quebra no lado mais frágil

O jornal O Progresso, de 1847, teve um histórico marcado por fechamentos e reaberturas, geradas por suas publicações e pelas respectivas perseguições. Saiu de circulação, voltou em 1851, enfrentou o presidente da província, Cruz Machado, e, depois de um arrombamento à tipografia, fechou definitivamente. Pior, claro, para os funcionários, que sofriam com a instabilidade desse conflito, em que o jornal, antes da despedida, fez campanha pública de caridade para ajudá-los, uma vez que as famílias passavam fome. Mesmo com tentativas de retorno, sempre criava inimizade com os presidentes provincianos, o que selou sua extinção.

De mau a pior

O século XX não foi nada gentil quando se fala de censura no jornalismo maranhense, com casos de espancamento e assassinatos, ao que se lista alguns:

- Assassinatos de Vilela de Abreu e de Othelino Nova Alves;

- Êxodo do jornalista José Louzeiro devido às ameaças constantes;

- Depredação de jornais, como o Jornal Pequeno e o Jornal do Dia.

- Espancamento do jornalista Erasmo Dias (1916-1981) na Praça João Lisboa, devido ao artigo “Boi Marrequeiro da Situação”, contra o governador Sebastião Archer;

- Corte de vencimentos do professor de Lógica do Liceu Maranhense Antônio Lôbo (1870-1916), um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, pelo governo de Herculano Parga, que, não satisfeito, ainda apoiou, nos bastidores, a compra do jornal A Tarde, de 1915, em que Lôbo era o chefe de redação, sem que nada soubesse. O desgosto foi tanto que levou o jornalista ao suicídio, infelizmente.

- A censura por meio de bilhetinhos enviados pela Polícia Federal a partir dos anos 60, no regime militar, que iam de proibições a ameaças, fora o monitoramento ameaçador constante da época.

O desabrochar do jornalismo literário no Maranhão

Embora uma grande parte dos jornais da época tenham sido de cunho político-partidário, a formação da alcunha de Atenas Brasileira a São Luís também passou por periódicos de conteúdos literários criados na época oitocentista. As revistas literárias fundadas foram de fundamental importância à formação das conhecidas editorias nos jornais do Maranhão,uma vez que difundiam conhecimentos sobre lavoura, ciências, saúde, religião, comércio, geografia, entre outros, e, principalmente, sobre literatura.

Na área, no século XIX, destaca-se o jornalista Sotero dos Reis, que, com conhecimentos como autodidata em literatura, latim e língua portuguesa, passou a escrever para O Investigador Maranhense, na tipografia F.S.N. Cascais, em 1836. O periódico durou três anos e foi substituído por A Revista a partir de 1840. Nela, Sotero do Reis publicou seus mais famosos artigos de crítica literária, trazendo à tona para a sociedade maranhense vários escritores nacionais, especialmente Gonçalves Dias, em um artigo intitulado “O desabrochar do talento”, em julho de 1845.

Outro periódico importante na história do jornalismo literário é o Jornal de Instrução e Recreio, criado em 1845 pela Associação Literária Maranhense, fundada no mesmo ano por estudantes do Liceu Maranhense, entre eles Luís Antônio Vieira da Silva, Antônio Henriques Leal, Pedro Guimarães, Augusto Frederico Colin e Augusto César dos Reis Raiol. A ampliação do quadro de associados permitiu a entrada, como membros honorários, de Gonçalves Dias, Alexandre Teólfilo de Carvalho Leal e de José Ricardo Jauffret.

O período oitocentista teve uma produção bem vasta de periódicos de conteúdo literário e recreativo, e, mesmo que todos tenham sido de curta duração, foi por eles que a produção literária, suas novidades e críticas foram divulgadas, em que a população maranhense leitora conheceu ficcionistas, articulistas, biógrafos, enfim, escritores de vários estilos.

Entre 1863 e 1864, foi veiculado o Semanário Maranhense, que teve importante papel de ressaltar os intelectuais locais do Maranhão, colocando força na produção literária e na cultura local, movimento que contribuiu bastante para a constituição da consciência coletiva que culminou na alcunha de Atenas Brasileira para a capital maranhense.

Revista do Norte: primeiros passos para a fotografia em impressões jornalísticas

A evolução gráfica

A evolução das tipografias, a partir da segunda metade do século XIX, proporcionou que a imprensa maranhense vislumbrasse desenvolvimento técnico cada vez maior e sonhasse com trabalhos cada vez mais refinados. Duas tipografias que mais se destacavam em termos e produções e equipamentos eram de José maria Correia de Frias e a de Belarmino de Matos, em que, inclusive, ganharam prêmios na Exposição do Rio Janeiro em 1866.

Há registros de que, possivelmente, o Jornal para Todos seria o primeiro periódico a apresentar as primeiras ilustrações, entre 1876 e 1878, trabalho realizado com litografia, enquanto que o periódico A Flecha, entre 1879 e 1880, é efetivamente apontado como o primeiro jornal ilustrado, utilizando a mesma técnica e com não apenas ilustrações, mas também charges e caricaturas contando como redatores e desenhistas João Afonso e Aluísio Azevedo, que, principalmente, criticavam os problemas sociais do Maranhão nas edições. Sob o pseudônimo Pitriby, Aluísio Azevedo atuou mais como colaborador no periódico.

Outro destaque foi a Revista Elegante, que circulou entre 1892 e 1906 e se notabilizou especialmente por conta do belo trabalho da Typogravura Teixeira, que, com sua aparelhagem, permitiu à revista se tornar uma das primeiras ilustradas com fotografia no Maranhão. Trazia artigos sobre literatura, cotidiano, moda e entretenimento. A revista, a partir de 1900, utilizava um processo fotomecânico em autotipia que permitiu, inclusive, o desenvolvimento da publicidade em seu conteúdo.

No início do século XX, além de os jornais o Diário do Maranhão, A Pacotilha, Federalista, O Imparcial, O Combate e A Hora ocuparem posições de destaque como imprensa da capital maranhense, existiam as revistas, com conteúdo de cunho político, econômico e literário, em que algumas utilizavam bastantes imagens em ilustrações. A evolução do processo técnico e maior utilização da fotografia nos jornais permitiu que não apenas a população letrada pudesse visualizar as tendências e as notícias, mas também garantiu acesso, ainda que muitíssimo limitado, à população analfabeta para “entrar” mais no mundo dos periódicos.

A Revista do Norte, entre 1901 e 1906, foi e é considerada até hoje o periódico com mais fotografias da época. Outras revistas que também usavam a fotografia como elemento da composição foram A Mocidade, entre 1906 e 1908 e A Avenida, em 1909. O uso da fotografia nos jornais permitiu não apenas a expansão desta nova fonte de renda aos jornais, mas também a variedade de imagens que o público poderia ver nos cadernos, com páginas de anúncios de uma grande variedade de produtos, especialmente de alimentícios e de vestuário, mostrando, por exemplo, que a união entre o maquinário da Typografia Texeira e as imagens dos Armazéns Texeira era uma combinação lucrativa, no início do Século XX, a Alfredo Pinto Teixeira, o idealizador da Revista do Norte, e aos seus irmãos Gaspar Pinto Teixeira e Francisco Pinto Teixeira, donos da firma Gaspar Teixeira & Irmãos, tanto que a respectiva tipografia recebeu investimentos em 1901.

“A Revista do Norte foi extraordinariamente bem-concebida para as condições do início do século XX. Com a importação de maquinário moderno para a época, conseguiram-se resoluções fotográficas muito boas, houve treinamento para isso, claro, e os irmãos Teixeira tinha capital para tal fim. Juntaram-se intelectuais como Antônio Lobo e conceberam essa publicação que foi muito importante para o Maranhão, e é um registro da região Norte e Nordeste, tem uma amplitude. Agora, é uma visão de São Luís das elites, você não vê as classes subalternas. É uma visão de uma cidade que se construía com equipamentos públicos como hospitais, copro de bombeiros, enfim, é um investimento para dar um ar de modernidade para São Luís, na óptica dessa elite que tinha condições de retratá-la”, minuciou o professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão José Ribamar Ferreira Júnior, no episódio 3 da série de podcasts sobre os 200 anos da imprensa no Maranhão (minuto 2:10).

 O rádio no Maranhão

De acordo com a doutoranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Nayane Cristina de Rodrigues de Brito, que também concedeu entrevista para o episódio 3 da série, o rádio oficialmente começa a funcionar no estado na década de 1940, com a transmissão da Rádio Difusora, localizada em São Luís (minuto 6:50). “Fala-se "oficialmente" porque há registros de que, antes da década de 40, havia funcionamento de experiências radiofônicas amadoras, mas somente com a Rádio Difusora é que se teve a primeira emissora oficial do estado. Mas esse novo veículo de comunicação estadual foi inaugurado somente em julho de 1941. Inicialmente, chegava a mais de 60 municípios maranhenses”, destacou, inclusive detalhando mais sobre a Rádio Difusora e sua mudança posterior de nome para Rádio Timbira, em 1944, entre outros aspectos das primeiras experiências radiofônicas.

Ela também falou sobre a Rádio Imperatriz, tema sobre o qual escreveu no livro de sua autoria, “Ondas da Memória: Trajetória da Rádio Imperatriz”, em que contou sobre o surgimento e a importância desse veículo de comunicação para a história maranhense. “No desenvolvimento da minha pesquisa para a elaboração da dissertação, eu constatei que, na região sul do Maranhão, foi a partir da década de 1960 que se registraram as primeiras experiências de veículos radiofônicos legalizados, porque existiam outras experiências de rádio que não eram legalizadas. Ao término da dissertação eu constatei que a Rádio Difusora do município de Barra do Corda e a Rádio Imperatriz, ambas AM, foram as primeiras emissoras que iniciam suas transmissões no final dos anos de 1960”, acrescentou (minuto 9:58). 

Os primeiros passos da televisão maranhense

Com base em sua pesquisa para a tese de doutorado sobre a história da TV Difusora baseada nas narrativas de dois jornalistas, Fernando Morais, que escreveu ‘Chatô, o Rei do Brasil’, e Benedito Buzar, o professor de Comunicação Social Marcos Arruda Valente de Figueiredo relatou, no episódio três da série de podcasts, que a primeira experiência de transmissão de televisão no estado data de março de 1955 (13:54).

"Eles narram que Assis Chateaubriand perdeu a eleição, a vaga no senado, em sua terra natal, Paraíba, e fez todo tipo de pressão para sair senador pelo Estado do Maranhão. Aqui, inclusive, houve muita disputa, alguns atores políticos, tiveram que retirar candidaturas para abrir vagas no partido para que ele pudesse sair candidato. E ele idealizou a campanha trazendo para cá uma equipe técnica, um apresentador de renome chamado Carlos Frias, e alguns equipamentos: um transmissor e alguns receptores. O transmissor instalado no estúdio da Rádio Timbira, que ficava na Rua Grande, e os receptores na Praça João Lisboa. Essa eu diria que foi a experiência só com objetivos políticos e que foi meio que artesanal, em que, logo encerrada a campanha, Chateaubriand veio no dia da eleição pra cá, desmontou tudo e levou tudo de volta para a Tupi”, explicou o docente.

Ele também detalhou que a primeira experiência de televisão maranhense efetiva foi com a TV Difusora, criada em 29 de novembro de 1962, e que, um ano depois, entrou no ar, por iniciativa dos irmãos Raimundo Emerson Machado Bacelar e Carlos Magno Duque Bacelar, ajudados pelo também deputado e jornalista Bernardo Coelho de Almeida, que foi alguém fundamental para a construção do projeto. “Eu diria que a entrada da TV Difusora no ar marcou também a entrada do Maranhão numa nova era, de mídia eletrônica visual, e colocou, de certa forma, a imprensa em outro patamar, com a inserção de um veículo de comunicação de porte da TV Difusora, que viria, anos depois, a se tornar a primeira afiliada da TV Globo em nosso estado”, pontuou o docente (minuto 15:11)

As transformações na imprensa com a chegada da internet

A professora Thaisa Cristina Bueno, docente da Coordenação do Curso de Jornalismo (Cojo) do Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia (CCSST), Câmpus de Imperatriz, ao falar sobre a imprensa nas primeiras décadas do século XXI e tomando como referência o jornalismo da cidade de Imperatriz, mencionou – no quarto episódio da série de podcasts sobre os 200 anos da imprensa no Maranhão – que esse período foi marcado por tentativas e profissionalização (minuto 1:07).

“Tentativas no sentido de tentar ampliar esse mercado no sentido de ter experimentações, tentativas de fato, mas com pouco crescimento. Penso que reflete um pouco dessa crise por que a profissão passa, não é uma coisa exclusiva do Maranhão ou de Imperatriz, mas de mercado, de leitor, de identidade, uma crise da imprensa”, pontuou, afirmando, inclusive, que observou tentativas também no formato impresso, no rádio, em revistas e na web.

O episódio também destaca os jornais do Maranhão – na capital e no interior – que começaram a lançar seus portais de notícias on-line entre o final do século XX e início do século XXI, a exemplo do portal do jornal imperatrizense O Progresso, O Estado do Maranhão e Imirante.com. Também foi abordado, com a professora Thaisa Bueno sobre o uso de aplicativos e de redes sociais na rotina de trabalho dos jornalistas (minuto 6:31).

“A internet mudou a rotina de produção como um todo, não só no Maranhão, mas no Brasil. Fazer jornalismo hoje é muito diferente do que fazer jornalismo dez anos atrás. Olhando para a apuração, vamos pensar que, quando surgiu o telefone e entrou na rotina da redação, havia uma hierarquia dentro da rotina entre as pessoas que apuravam pessoalmente para o jornalismo que só ligava, então a gente torcia o nariz para quem fazia uma apuração pelo telefone. Hoje em dia, as entrevistas ocorrem pelo Whatsapp, e ninguém estranha e ninguém considera esse modo de apuração menor ou ineficiente, então isso já mudou bastante o olhar e o modo como a gente faz”, declarou.

A professora também falou sobre as mudanças na interação com o público e a identificação dos perfis e interesses deste. Ela também comentou sobre a convergência de mídias que os veículos de comunicação passaram no decorrer do tempo e as consequências desse fator.

 

Quer acompanhar, em um só episódio, trechos apresentados nos quatro primeiros episódios da série sobre os 200 anos da imprensa maranhense? Acompanhe o episódio 5:

Web Storie

Detalhes extras sobre a imprensa maranhense que você pode conferir na Web Storie desenvolvida no Projeto 200 Anos de Imprensa no Maranhão pelo Núcleo de Redes Sociais do projeto, que conta fatos marcantes, desenvolvimento e apogeu dos veículos de comunicação maranhense, além de fazer uma volta dinâmica e ilustrada sobre os primeiros jornais de vários municípios maranhenses.

A Web Storie conta também que, na história da imprensa maranhense, há um registro do pesquisador Antônio Lopes que afirma que a primeira publicação sobre a imprensa local é de autoria de Francisco Sotero dos Reis, no então Publicador Maranhense, periódico que circulou entre 1842 e 1886. Na mesma época, a produção fala também que havia jornais que se definiam como “noticiosos”, “políticos”, “religiosos” e “literários”.

A Web Storie é um produto criado para o formato das redes sociais, especificamente para o Instagram, por conta da verticalidade em que é apresentado e por poder ser visualizado por meio de smartphones, celulares e tablets.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, César Augusto de.; SANTOS, Amaury Araújo. Belarmino de Mattos: o Didot da imprensa maranhense no Império. Artigo submetido à Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Campinas: 2020.

GALVES, Marcelo Cherche. “Dirigir e Retificar a Opinião Pública”: os primeiros anos da Tipografia Nacional no Maranhão (1821-1823). Artigo submetido ao I Seminário Internacional “Brasil no Século XIX”. Vitória: 2014.

JORGE, Sebastião. A Censura na Imprensa do Maranhão. Artigo submetido à Revista Cambiassu. São Lúis: 2006.

MARTINS, Ricardo André Ferreira. Breve Panorama Histórico da Imprensa Literária no Maranhão oitocentista. Artigo submetido à Animus – Revista Interamericana de Comunicação Midiática. Rio Grande do Sul: 2010.

SILVA, Amanda da Silva e; FERREIRA JÚNIOR, José. A imprensa Ilustrada Maranhense: A Revista do Norte (1901-1906). Artigo submetido ao V Encontro Nordeste de História da Mídia. Pernambuco: 2018.