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ENTREVISTA

Professor da UFMA de Grajaú realiza pesquisa sobre denúncias de movimentos republicanos em Pastos Bons

publicado: 28/09/2023 13h23, última modificação: 29/09/2023 18h10
A pesquisa é fruto do seu pós-doutorado na área de História
Professor da UFMA de Grajaú realiza pesquisa sobre denúncias de movimentos republicanos em Pastos Bons

Roni César Andrade de Araújo, professor do curso de licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) de Grajaú, conclui pós-doutorado com pesquisa sobre denúncias de movimentos republicanos em Pastos Bons, Maranhão. O docente, graduado em História pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema), é especialista em História do Maranhão pela mesma instituição, mestre em História pela Universidade Federal da Paraíba (Ufpb) e doutor em História, pelo Programa de Pós-graduação em História Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Debruça suas pesquisas no assunto que originou seu trabalho sobre os movimentos republicanos no sudeste do Maranhão.

O estudo em questão propõe uma análise crítica dos vestígios de republicanismo na província do Maranhão, mais especificamente no sertão de Pastos Bons, no final do primeiro reinado. Para isso, o autor reflete sobre a concepção de sertão e a articulação dessa região com Lisboa/Rio de Janeiro, em tempos de transição política do mundo luso-brasileiro, que aqui compreendem especialmente os movimentos contestatórios de 1817 e 1824.

Confira a entrevista feita com o professor a respeito do seu trabalho.

DCom: Qual o objetivo da sua pesquisa?

Roni César: A pesquisa teve por objetivo principal investigar os vestígios de republicanismo no sertão do Maranhão, durante os anos finais do Primeiro Reinado. Nessa esteira, busquei identificar as possíveis relações desse movimento com os eventos da Confederação do Equador, ocorrida em 1824, e com outros levantes ditos contestatórios da ordem imperial ocorridos em Pernambuco. 

D: Como surgiu a ideia da temática? Ela é uma continuação de outras pesquisas sobre Pastos Bons?

R: Meu primeiro contato direto com a temática se deu por ocasião das pesquisas para minha tese de doutorado, defendida em 2018. No âmbito dos estudos dos jornais que no Rio de Janeiro e no Maranhão discutiam as tensões políticas entre “brasileiros” e “portugueses” nesta província do norte do Brasil. Ali, identifiquei, entre as narrativas que se opunham, a estratégia de imputar ao lado inimigo acusações de republicanismo ou mesmo de oposição à monarquia constitucional de Dom Pedro I. Naquelas leituras, Pastos Bons surgiu de maneira tangencial. Lembrei-me de já ter ouvido algo sobre essa possibilidade, mas, quando busquei fontes, percebi que não havia, necessariamente, um avanço sobre a temática. Comecei a juntar as peças e guardei para uma pesquisa no âmbito do pós-doutorado.

D: Como se deu o processo de investigação e quais vestígios do republicanismo foram encontrados?

R: Uma documentação importante durante minha pesquisa do doutorado foi um pequeno livreto que localizei no acervo do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Sem muitos detalhes que possibilitavam identificar sua autoria, o título do referido livreto, por si só, me chamou a atenção: “Um processo de Jornalismo na época da Independência”. Ainda nesse primeiro contato, vi que se tratava do processo movido por Odorico Mendes, político, escritor, poeta e jornalista maranhense, contra Manoel da Costa Pinto, ex-governador da província do Maranhão. O pano de fundo para o processo foram as desavenças entre Costa Pinto e o redator do periódico Farol Maranhense, que circulou na província da década de 1820 e início de 1830, José Cândido. Desse confronto, resultou a brevíssima prisão do redator do Farol, e depois de alguns estratagemas, a suspensão da circulação do jornal. Foi nesse contexto que Odorico Mendes, amigo de José Cândido, se indispôs juridicamente com Costa Pinto. Pois bem, como eu disse, o livreto trazia, quase que na íntegra, todo o processo judicial movido por Odorico. Ali, inclusive, encontrei diversos documentos que serviram de sustentação para as justificativas de Costa Pinto diante das medidas tomadas como governador da província, que foram encaminhadas ao Parlamento Brasileiro. Entre esses documentos, havia aqueles que tratavam das suspeitas de republicanismo no sertão de Pastos Bons. Esse foi o ponto de partida. Dali, avancei na leitura e análise do alcance dessas denúncias na imprensa da Corte e com os Deputados reunidos na Assembleia Legislativa, no Rio de Janeiro.

Ao fim, mais do que confirmar se houve ou não um movimento republicano em Pastos Bons, algo que deixo aqui em suspense — uma vez que convido todos a lerem o artigo produzido por mim e meu supervisor do pós-doutorado, o professor Marcelo Cheche Galves, e que será publicado nos próximos dias na Revista InterEspaço, da UFMA —, o trabalho avançou também nas discussões em torno dessas denúncias como recurso retórico para as disputas políticas que tomavam o Maranhão e o Brasil no final do Primeiro Reinado.

D: Como se deu o processo do pós-doutorado e como você avalia a importância dele na sua carreira?

R: A caminhada foi prazerosa, embora desafiadora. Não obstante eu tivesse acesso a alguns documentos, desde a época do doutorado, tive que avançar na localização e discussão de tantos outros que foram sendo coletados no decorrer da pesquisa.

Faço questão de registrar que ter sido recebido pelo Programa de Pós-Graduação em História da Uema, instituição de muito tempo parceira da UFMA, foi especial, uma vez que foi ali, em meados de 1999, que iniciei minha caminhada como estudante do Curso de História.

À UFMA, agradeço o incentivo para que esse projeto saísse do papel e se tornasse concreto.

Mais do que uma satisfação pessoal, esse pós-doutorado significa para a mim a certeza de que a História do Maranhão é rica e tem muita coisa ainda para ser explorada.

Por: Karina Soares

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante

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