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Na trama do tempo: abertura do 47º Festival Guarnicê de Cinema é marcada por homenagens e exibição de filme
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), por meio da Diretoria de Assuntos Culturais (DAC) da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec) deu início ao 47º Festival Guarnicê de Cinema na última sexta-feira, 7, no Teatro Arthur Azevedo. Nesta edição, o festival prestou homenagens a importantes atrizes do audiovisual brasileiro: Bete Mendes, estrela de novelas como “Rei do Gado” e Caras & Bocas”, e Zahy Tentehar, atriz indígena e ativista do povo Tentehar-Guajajara que estrelou a série “Cidade Invisível” e, em breve, atuará na novela “No rancho fundo”, da TV Globo. O entusiasta da produção audiovisual maranhense e servidor da DAC, Marko Itapary, que faleceu no ano passado, também recebeu uma homenagem especial.
O reitor da UFMA, Fernando Carvalho, em seu discurso de abertura descreve o sentimento de alegria em prestigiar o 47º Festival Guarnicê de Cinema, o quarto mais antigo festival de cinema do país e mais longevo das regiões norte e nordeste: “Muito me alegro ao ver este teatro cheio para a abertura da quadragésima sétima edição do Festival Guarnicê de Cinema, que ao longo de sua trajetória, vem contribuindo significativamente para difundir a produção de obras audiovisuais cinematográficas, com atenção especial à produção maranhense, além de promover o diálogo entre produtores e o público, e fomentar a cadeia produtiva do cinema. O festival permanece em busca incessante para se reinventar juntamente com as modificações da indústria cinematográfica”.
O reitor ainda complementou o compromisso da UFMA em fomentar a cultura por meio da Proec com o festival: “Em nossa instituição, a extensão tem a função de potencializar a cultura. Juntas, extensão e cultura, possibilitam encontros, diálogos e ações que democratizam o saber e contribuem para as transformações sociais. A realização do Festival Guarnicê de Cinema confirma o nosso compromisso com a cultura”.
Há 47 anos discutindo cinema, apresentando o melhor do audiovisual, premiando, fazendo mostras importantes, o Festival Guarnicê de Cinema tem levado o Maranhão e o cinema nacional para o mundo, como pontua Zefinha Bentivi, pró-reitora de Extensão e Cultura da UFMA.
“Sempre digo que o Festival Guarnicê de Cinema é um festival que representa o que ele conserva, reúne e estimula a produção da nossa memória, a memória brasileira, a memória maranhense que passa pelo audiovisual, pelo cinema, pelo vídeo, pela TV. Então, o Guarnicê foi se estruturando como esse depositório de memórias. E isso já seria muito. Mas, mais do que isso, é a democratização da arte, da cultura para a comunidade universitária, para sociedade em geral, hoje muito mais porque agora nós somos híbridos, estamos de forma presencial e de forma online, alcançando países, estados, quer dizer, é algo inimaginável há um tempo atrás e a gente costuma dizer assim ‘o Guarnicê é tradição e modernidade’. Cada vez mais nos modernizamos, nos organizamos e melhoramos, estimulando a economia e levando o nosso Maranhão para o mundo”, ressaltou a Zefinha.
A coordenadora do Guarnicê e diretora do DAC, Roselis Camara, destaca o caráter formativo do festival para UFMA e para o cinema nacional. “O Festival Guarnicê de Cinema entra na sua edição 47, um projeto de extensão da Universidade Federal do Maranhão que, há quase cinco décadas, contribui para a formação, para a distribuição e para a valorização do audiovisual maranhense e brasileiro. Sendo um festival com tanta história, ele também ajudou a formar os artistas, realizadores, diretores. Quase todo mundo que trabalha no audiovisual no Maranhão, que tem destaque, inclusive, nacional, passou pelo Festival Guarnicê. Então, a importância desse projeto, pro audiovisual, é enorme. Imagina o quanto que ele tem contribuído ao longo de quase cinco décadas de história, o Festival Guarnicê é exatamente esse projeto que traz cada vez mais, e também assim é importante dizer, que tem sempre esse olhar para a formação, porque ele traz ações formativas, ele traz o seminário de ciências do Guarnicê para discutir academicamente, ou seja, ele contribui sob vários aspectos, ele gera renda, ele dinamiza a cadeia produtiva, ele traz uma programação, esse ano por exemplo, mais de 200 filmes completamente gratuitos, um projeto para democratizar, para que cada vez mais pessoas tenham acesso ao audiovisual, à arte, à cultura”.
Homenagens
Anualmente, o Festival Guarnicê de Cinema homenageia figuras que se destacam no cinema brasileiro e maranhense. Em 2024, as atrizes Bete Mendes e Zahy Tentehar receberam o Troféu Guarnicê celebrando suas jornadas como artistas. Além delas, o festival prestou uma homenagem ao servidor da DAC, Marko Itapary, que faleceu no ano passado.
Mais uma vez participando do festival, Bete Mendes uma das homenageadas da noite descreveu o sentimento em receber o troféu Guarnicê: “Eu estou muito emocionada, muito feliz e agradecendo muito ao Festival Guarnicê e a Universidade Federal do Maranhão por realizar esse festival todos os anos. Nós estamos no 47º ano do festival, eu estive aqui em 1998, há 26 anos, fazendo parte do júri, então é uma emoção muito especial eu voltar sendo homenageada, para nós que trabalhamos em algo lindo como o audiovisual, nada mais lindo que uma homenagem. Agradeço demais ao Festival Guarnicê e torço para que continue com essa qualidade, valorizando o Teatro Arthur Azevedo, valorizando o nosso cinema, aqueles que estudam cinema e aquele que veem cinema. E falo para todo mundo, desde criancinha até a terceira idade, que é a que eu faço parte, vão ao cinema”.
Zahy Tentehar, homenageada pelo Guarnicê, descreve a sensação em ter sido uma das homenageadas da noite: “Uma das coisas que mais me chama a atenção e que me deixa emocionada é de ouvir o nosso sotaque, ouvir tudo que eu levei para fora e que em algum momento da minha vida era visto como um mal gosto, porque eu não soubesse falar bem, eu não soubesse me expressar bem. Porque eu tinha um jeito diferente de falar e de me comunicar, de me expressar. E isso, em algum momento da minha vida, foi visto como algo que não era, de repente, algo que fosse tão bonito, tão legal, e a gente chama isso de preconceito. E hoje, eu ser homenageada e ouvir tanta gente falando com o nosso sotaque aqui do Nordeste, eu ouvi as pessoas falando “mermã” e é tão bom, eu fico tão feliz... Eu sou resultado, aqui desse lugar, aqui estão as minhas origens, então hoje tudo que eu alcancei na minha vida como artista também é resultado de tudo que eu levei daqui. E poder retornar pra cá e receber essa homenagem, pra mim é muito significativo. É como eu disse, pode o mundo inteiro me homenagear, pode o mundo inteiro elogiar algum trabalho meu, mas nada é como você receber uma homenagem, um elogio das pessoas de casa, a gente ser reconhecido pelas pessoas de casa. Então isso pra mim é muito significativo e vou guardar pra sempre, vai ficar pra sempre”.
Conhecido pela alegria e entusiasmo na produção do Festival Guarnicê, Marko Itapary, que também era servidor da Diretoria de Assuntos Culturais e que faleceu em 2023, recebeu uma homenagem póstuma por sua contribuição ao Festival e à produção audiovisual maranhense. Sua filha, Renata Leda Itapary, subiu ao palco para receber o troféu Guarnicê póstumo entregue em nome de toda a equipe do Guarnicê, festival o quão Marko nutria imenso carinho e dedicação nos seus anos como servidor.
O impacto do Guarnicê
A abertura também contou com a exibição do filme “Estranho caminho”, de Guto Parente. A obra contra a história de um jovem cineasta que visita sua cidade natal e é surpreendido pelo rápido avanço da pandemia e precisa encontrar seu pai, com quem não fala há mais de dez anos. Guto Parente destaca a importância de festivais como o Guarnicê para o cinema nacional: “É o 47º ano do festival, só mostra que é um festival muito consolidado no circuito de festivais brasileiros, eu acho muito especial estar aqui passando o filme na abertura, acho que é tão importante quanto os filmes que são realizados no Brasil. São festivais como esse, onde a gente tem a oportunidade de ter um contato próximo com o público e conhecer o que está sendo produzido no Nordeste, no Brasil, ter contato com os diretores e diretoras. Eu acho que esse tipo de iniciativa, esse tipo de evento é uma coisa que mantém o cinema sempre muito pulsante”.
George Pedrosa, cineasta que estava presente na plateia para prestigiar a abertura, destaca a importância do Guarnicê para a escolha da sua carreira e o sentimento de assistir outros cineastas exibidos na abertura: “Eu frequento o Guarnicê há mais de dez anos e foi onde começou a minha cinéfilia, de certa forma. Acho que ter visto o filme do Guto Parente, que é uma grande inspiração pra mim no audiovisual é muito importante, é um cinema em que ele é social, mas ao mesmo tempo ele é fantástico. É fantástico eu falar em relação a gênero e tudo que pode ser relacionado a isso. Então, é muito bom ver esse tipo de cinema no Guarnicê, que promove cultura e, acima de tudo, valoriza o audiovisual nordestino”.
Uma das júris e crítica de cinema, Fabiana Lima, descreve a importância do Guarnicê para ela, não apenas como júri, mas como apreciadora do cinema e importante voz feminina no cenário: “Pra mim, enquanto crítica de cinema daqui, e sendo a primeira mulher maranhense a entrar na Abraccine, estando em conexão com o cinema maranhense, é esse momento que eu tenho pra ficar mais conectada com o que está acontecendo regionalmente, com toda a indústria audiovisual no Maranhão, que é super importante. Eu tenho contato com festivais internacionais e nacionais, mas para mim o Guarnicê é o mais importante, não deixa de ser, porque é de onde eu venho. Eu sou ludovicense, eu sou daqui, para mim é realmente algo de conexão de espaços, de identidade, tudo isso misturado com o cinema, que obviamente é aquilo que eu sou, que é crítica de cinema, é uma honra estar no júri esse ano e poder participar desse momento e desse festival que eu gosto demais desde criancinha”.
História em exposição
Em celebração à 47ª edição do Festival Guarnicê de Cinema, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), por meio da Diretoria de Assuntos Culturais (DAC) da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec), apresenta a exposição “História em Imagens”.
Ao longo de 47 anos de história, o Festival Guarnicê de Cinema consolidou-se como um dos mais importantes eventos cinematográficos do Brasil, que promove a cultura e o cinema nacional e internacional no Maranhão. A exposição “História em imagens” celebra essa trajetória por meio da reprodução dos cartazes de todas as edições do Festival, proporcionando uma viagem visual pelo tempo e pela evolução estética e comunicativa do evento. Reunir estas imagens em um espaço expositivo é uma homenagem à trajetória artística e histórica desse evento emblemático, que atravessou décadas e gerações, e deixa um legado cinematográfico inestimável.
A exposição conta imagens da trajetória do evento desde sua primeira edição, em 1977, até a edição anterior, de 2023. A exposição está disponível para visitação até o dia 14 de junho, das 15h às 21h, na Galeria António Almeida, no Palacete Gentil Braga (Rua Grande, 782), em São Luís, Maranhão.
Por: Karina Soares
Fotos: Gabriel Jansen