Notícias

Estudante de Rádio e TV Ísis Furtado realiza pesquisa sobre vilania em filme da Disney

publicado: 15/07/2022 11h52, última modificação: 15/07/2022 19h57

Em 1989, a Disney lançou um de seus grandes sucessos cinematográficos, lembrado e referenciado até hoje pelos fãs: o longa-metragem de animação “A Pequena Sereia”, adaptado do livro de mesmo nome, publicado em 1837, de autoria do escandinavo Hans Christian Andersen. O sucesso da película é tanto que rende até mesmo estudos técnicos e acadêmicos na atualidade, como o trabalho de conclusão de curso da estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Maranhão Isis Furtado, de título “As facetas do monstro: uma análise da vilania em A Pequena Sereia”.

A pesquisa, orientada pela professora de Comunicação Social Patrícia Azambuja, é focada em analisar a vilania sob perspectiva teórica da análise do discurso, com utilização de referenciais teóricos de Michel Foucault e Stuart Hall, que buscam entender a relação entre a construção e representação de certos valores culturais e as imagens divulgadas pela mídia, especificamente em relação à vilania associada à figura rotulada como “monstro”. Para falar sobre o assunto, a aluna concedeu entrevista à Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA. Confira abaixo. 

DCom: Qual foi a importância de analisar essas construções de personagem no campo da comunicação?

Ísis Furtado: O intuito original da pesquisa era compreender como são representados nas mídias os indivíduos considerados desviantes. Pessoalmente, eu enxerguei em Úrsula a personificação de vários estigmas, a monstruosidade associada ao corpo gordo, ao feminino desobediente e o queer. No processo de análise, fui descobrindo os contextos históricos por trás desses estereótipos e como a comunicação tanto acessa esses conceitos já presentes na cultura, quanto os solidifica ainda mais no senso comum.

DCom: Quanto tempo demorou para fazer essa pesquisa?

ÍF: Cerca de dez meses, desde as primeiras conversas sobre formulação de hipóteses e projeto até a conclusão.

DCom: Houve a necessidade de pesquisa de campo?

ÍF: A pesquisa foi inteiramente teórica devido à natureza do objeto de estudo e os propósitos da monografia.

DCom: Qual o próximo passo da pesquisa?

ÍF: Além da defesa do trabalho de conclusão de curso, a expectativa é dar continuidade ao estudo no mestrado, aprofundando, dessa vez, a influência das mídias na formação cognitiva e do sujeito durante a infância e os impactos desses estigmas associados ao diferente.

DCom: Algum dado realmente mexeu com você?

ÍF: Eu já tinha conhecimento superficial sobre a realidade dos freak shows, inquisição e a censura relacionada aos personagens queer, mas realmente me aprofundar no contexto histórico e entender a realidade que essas pessoas passaram deixa um gosto amargo no final do dia. Eu saio desse processo de pesquisa ainda mais engajada em compreender a representação da vilania e encantada pelos monstros.

DCom: Você acredita que houve um aumento na complexidade em relação à construção desses vilões?

ÍF: Eu consigo ver isso mais recentemente, mas, infelizmente, não em relação à personagem que eu analisei. Ela é muito carismática e possui mais caracterização e propósitos que as vilãs anteriores, mas ainda seguia os clichês da vilania. Hoje a gente vê, em filmes como Malévola e Cruella, o resgate desses vilões para contar histórias mais complexas, com mais protagonismo. Mas esse não é o caso de “A Pequena Sereia”.

DCom: Qual sua opinião sobre o crescente aumento dos fãs desse arquétipo de vilão?

ÍF: Eu não posso provar nada, mas sempre existiu aquele público que se enxergava nos vilões. Com a atualização dessas personagens e a complexidade das suas jornadas narrativas, essa identificação só se ampliou. Não à toa temos a crescente de filmes e séries de anti-heróis, a história não contada dos vilões e a ascensão de ícones da cultura pop de monstros.

Saiba mais

Contextos históricos e sociais são englobados pelo trabalho desenvolvido por Isis, que analisou a existência e construção do conceito de “monstros” na sociedade ao longo do tempo, levando em consideração as referências estruturais das narrativas clássicas de raiz melodramática, de autores como Joseph Campbell, Christopher Vogler e Peter Brooks, além de utilizar estudos desenvolvidos por autores como Gilbert Durand, Gustav Jung e Michel Maffesoli.

A pesquisa busca compreender também como mecanismos de representação são construídos historicamente e consolidam relações de poder. Ísis Furtado possui experiência com a fotografia desde o período escolar, como fotógrafa de simulações das Nações Unidas. Durante o curso de Rádio e TV, trabalhou com publicidade, fotografia, rádio e audiovisual, sendo membra integrante do grupo responsável por conceber um ensaio fotográfico artístico sobre afrofuturismo vencedor do Prêmio Expocom Nordeste 2019.

Por: Jarina Milena

Produção: Bruna Castro

Revisão: Jáder Cavalcante

registrado em: