Notícias
Pesquisa da UFMA revela que geoprópolis da abelha Tiúba acelera cicatrização em modelo de diabetes
Pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) comprovaram que a geoprópolis da abelha Tiúba (Melipona fasciculata Smith), espécie nativa do estado, acelera significativamente a cicatrização de feridas em camundongos diabéticos. O estudo, publicado na revista científica Metabolites, indica que a aplicação tópica de um gel à base de geoprópolis promoveu a redução do infiltrado inflamatório, aumento da proliferação de fibroblastos, reepitelização da pele e maior deposição de colágeno. Esses efeitos mostram que a substância atua de forma positiva em diferentes fases da cicatrização, mesmo diante das complicações metabólicas provocadas pelo diabetes.
Segundo o professor do curso de Medicina da UFMA Câmpus Imperatriz, Aramys Silva dos Reis, a pesquisa traz implicações importantes para a área da saúde pública. “A diabetes é uma das principais causas de amputações no Brasil, em grande parte devido à dificuldade de cicatrização e à suscetibilidade a infecções. Produtos que atuam na melhora desse processo têm enorme relevância clínica e social”, afirma o pesquisador.
Além do avanço científico, o estudo valoriza um recurso natural do Maranhão. A abelha Tiúba possui forte importância ecológica, cultural e econômica, sendo responsável por uma série de produtos utilizados tradicionalmente por comunidades locais. A geoprópolis, rica em metabólitos bioativos, ganha destaque nesse contexto como um insumo promissor no desenvolvimento de terapias inovadoras. “O Maranhão possui uma biodiversidade riquíssima e um grande potencial biotecnológico ainda pouco explorado. Iniciativas como essa mostram que é possível desenvolver ciência de ponta a partir dos recursos naturais locais, com impacto direto na saúde e na economia”, destaca Aramys.
A pesquisa também abre oportunidades para a valorização da cadeia produtiva da meliponicultura. “Existe uma necessidade crescente de aumentar o valor agregado desses produtos derivados das abelhas, como o mel, a própolis e a geoprópolis, que hoje são vendidos in natura, o que reduz significativamente o valor de compra. Quando conseguimos transformar esse insumo em um produto validado, como um cosmético ou medicamento com propriedades já caracterizadas, ampliamos o mercado e a renda dos pequenos produtores locais”, completa.
O estudo foi realizado em parceria entre os Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFMA, Programa de Pós-Graduação em Saúde e Tecnologia, da UFMA e Programa de Pós-Graduação em Química do IFMA. A pesquisa foi conduzida pelo Prof. Dr. Aramys Silva dos Reis e supervisionada pela Profa. Dra Flávia Raquel F. do Nascimento. Teve como coautores, pesquisadores Gabriel Carvalho Souza, Guilherme Fontoura, Luecya A. de Carvalho, Alberto Jorge O. Lopes, Richard P. Dutra, Lucilene Amorim, Rosane N.M. Guerra, Maria Nilce S. Ribeiro
O projeto recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). O apoio foi viabilizado por meio de edital do Instituto Estadual de Ciência e Tecnologia (IECT), com foco na biotecnologia. “O apoio de políticas públicas e agências de fomento tem sido essencial para viabilizar pesquisas com potencial transformador como essa”, ressalta o professor.
Apesar dos resultados animadores, o pesquisador reforça que o gel ainda precisa passar por várias etapas antes de chegar ao mercado. “O que fizemos até agora foi um estudo pré-clínico, em camundongos, que mostrou resultados bastante promissores. Mas para que esse produto chegue à prateleira de uma farmácia, ele precisa passar por um longo caminho: estudos em primatas, ensaios clínicos em humanos (fases 1 a 4), validação da formulação e aprovação pela Anvisa. É um processo que pode levar até 20 anos”, explica.
A equipe já busca parcerias com outros centros de pesquisa para viabilizar os próximos passos do desenvolvimento. Enquanto isso, os resultados obtidos reforçam o potencial de um produto natural maranhense como solução terapêutica para um dos problemas mais recorrentes em pacientes com diabetes: a dificuldade de cicatrização. O estudo aponta não apenas uma inovação científica, mas também uma oportunidade de fortalecimento da economia regional e da valorização dos saberes tradicionais.
Confira o artigo completo em https://www.mdpi.com/2218-1989/15/6/413
Título do Artigo: Geopropolis from Melipona fasciculata Smith Accelerates Wound Healing in Diabetic Mice
Autores: Aramys Silva Reis, Gabriel Carvalho de Souza, Guilherme Martins Gomes Fontoura, Luecya Alves de Carvalho Silva, Alberto Jorge Oliveira Lopes, Richard Pereira Dutra, Lucilene Amorim Silva, Rosane Nassar Meireles Guerra, Maria Nilce Sousa Ribeiro, Flávia Raquel Fernandes Nascimento
Por: Gabriel Novais