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Lançada a 45º edição do Jornal Arrocha do Curso de Jornalismo da UFMA Imperatriz
- Foto: Créditos: Rosana Barros
No dia 31 de maio, foi realizado no Centro de Ciências de Imperatriz (CCIm) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) o lançamento da 45º edição do Jornal Arrocha do Curso de Jornalismo da UFMA Imperatriz, com a temática “Escritores no Maranhão”, confira a versão digital aqui. Trata-se do jornal laboratório do curso e para a produção da publicação os alunos/repórteres trabalharam diversos aspectos e perspectivas sobre escritoras e escritores maranhenses.
O Jornal Arrocha é um iniciativa que surgiu em 2009 com o Prof. Dr Alexandre Maciel. O projeto tem como objetivo mostrar aos alunos do Curso de Jornalismo todas as etapas de produção de um jornal impresso: escolha do tema, busca de fontes para a produção dos textos, cobertura fotográfica e própria diagramação. Atualmente a produção da publicação está sob coordenação da Profa. Dra. Leila Sousa, que ministra a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso I, disciplina na qual é feita a produção do jornal.
No evento de lançamento estiveram presentes o vice-reitor da UFMA, Prof. Dr. Marcos Fábio, o diretor do Centro de Ciências de Imperatriz, Prof. Dr. Leonardo Hunaldo, a coordenadora do Curso de Jornalismo, Profa. Dra. Michelly Carvalho, além de diversos docentes do curso, bem como algumas das pessoas que foram fontes na produção dos conteúdos do jornal.
Em uma entrevista concedida ao site Notícias da Região Tocantina os professores Alexandre Maciel e Leila Sousa falam sobre a história do Arrocha, processo de escolha do tema e produção do jornal, financiamento, prêmios já recebidos, o futuro da produção e entre outros temas. Confira a entrevista na íntegra:
Região Tocantina – Qual é a história do Jornal Arrocha?
Alexandre Maciel – Quando assumi oficialmente como professor do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz, em novembro de 2009, cheguei cheio de ideias. Vinha de uma experiência de seis anos como docente da Universidade para o Desenvolvimento da Região do Pantanal (Uniderp), em Campo Grande, Mato Grosso do Sul (MS), onde coordenava os alunos e alunas do curso de Jornalismo na produção do jornal-laboratório Unifolha. Esta publicação, da qual fui responsável por 20 edições, era dividida em editorias, como política, economia, cultura e esportes, se assemelhava a um jornal tradicional. Para a UFMA propus um jornal que trouxesse um tema por edição, sempre relativo a questões de Imperatriz e região, convocando os e as estudantes a pensarem em desdobramentos da pauta central, na forma de pequenas reportagens avulsas que completassem um todo coerente, contextualizado e didático. O número 1 foi gestado no primeiro semestre de 2010 e publicado, na versão impressa, em agosto do mesmo ano. O nome “Arrocha”, como foi explicado já no editorial da primeira edição, refere-se a “uma expressão típica da região Tocantina, que significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também ‘a rocha’, algo inabalável como o propósito ético desta publicação”. Daí seguiram-se, nas edições seguintes, as mais diversas abordagens temáticas, como transportes, religiosidade, maternidade, sexualidade, formação cultural e mesmo números inteiros dedicados a espaços importantes da cidade, como o Mercadinho e o Calçadão.
Região Tocantina – Sendo um jornal-laboratório, como é que se dá o processo de produção?
Alexandre Maciel – O jornal nasceu e persevera no seu espírito interdisciplinar. Os matriculados na matéria Jornalismo Impresso debatem o tema central, pensam os seus vários desdobramentos, apuram as informações com os entrevistados, redigem os textos e elaboram títulos, subtítulos e legendas. Os alunos de Fotojornalismo cuidam de toda a cobertura fotográfica para acompanhar cada matéria e também criam um ensaio fotográfico temático. E os de Laboratório de Produção Visual (LPV) ficam responsáveis pela diagramação, ou seja, o ordenamento estético. Os professores supervisionam didaticamente o processo, fazem a revisão final e então o jornal está pronto para ser publicado na plataforma Issuu, em formato de PDF folheável digitalmente. Todas as edições estão disponibilizadas no site curricular do curso, Imperatriz Notícias e costumam ser divulgadas pelas redes sociais.
Leila Sousa – Importante ainda destacar que os estudantes saem a campo juntos, repórteres e fotógrafos, na tentativa de que haja um diálogo completo entre o texto e o registro fotográfico do tema. Assim que os textos são finalizados, são encaminhados para os estudantes de fotojornalismo para que estes possam fazer a seleção das imagens que mais ajudam a complementar as matérias. Os estudantes de Laboratório de Jornalismo Impresso atuam ainda na produção do editorial e da charge do jornal, que sempre destacam e ajudam a ampliar a reflexão sobre os temas que serão abordados na edição.
Região Tocantina – Como são definidos os temas de cada edição?
Alexandre Maciel – O tema precisa ser abrangente ao ponto de poder ser desdobrado em várias matérias que exploram as suas minúcias. Também há o desafio de sempre pensar um assunto diferente, o que vai se tornando mais difícil quando se está na 45ª edição. A preferência é pela abordagem de problemáticas persistentes na região, questões de memória histórica, ou o cotidiano e as transformações de algum local específico e agitado da cidade. Quando se pensa nas fontes, há uma recomendação editorial de que os protagonistas das falas sejam pessoas comuns da cidade, que geralmente aparecem pouco na mídia, um dos grandes diferenciais do Arrocha. Já foi feita uma edição inteira com perfil de anônimos, por exemplo. As fontes especialistas e de autoridade completam o mosaico de entrevistados, sempre ambicionando o máximo de pluralidade. Um bom exemplo foi a edição dedicada ao universo LGBTQIAP+, na qual cada página trazia as vozes de representantes de cada uma dessas categorias.
Leila Sousa – A edição 45 trouxe como tema “Escritores no Maranhão” e nela buscamos reconhecer a contribuição de mulheres, povos indígenas, da comunidade LGBTQIA+ e de escritores negros para a desmistificação de dogmas e mitos sobre a escrita. Debatemos a escrita como uma ferramenta de resistência e de existência que é também mobilizada como lugar de protagonismo e de visibilização de vozes que foram silenciadas e negligenciadas historicamente. Na edição de número 46, que está em processo de produção, abordaremos as Tradições Juninas com foco principal nas manifestações culturais e populares vivenciadas na Região Tocantina. Assim, o Arrocha é também um instrumento importante de memória para que os cidadãos imperatrizenses possam se enxergar e reconhecer as potencialidades que atravessam a cidade, a região e também o estado.
Região Tocantina – O jornal tem algum tipo de financiamento?
Alexandre Maciel – O financiamento para um jornal-laboratório envolve questões delicadas, afinal trata-se de uma publicação gestada em uma instituição pública, uma universidade federal. A tentação de buscar um “patrocínio” que garantisse, por exemplo, a publicação de larga tiragem impressa, por exemplo, pode acabar incorrendo em limites éticos para os temas centrais e suas abordagens, o que assassinaria o espírito mais independente da publicação. O ideal é que houvesse orçamento da própria universidade para custear a publicação em papel e disseminação ampla de todas as edições, mas as condições financeiras impedem esse aporte. Entretanto, inserido na dinâmica do currículo do curso de Jornalismo, o jornal Arrocha nunca deixou de ser publicado no formato digital ou precisou de dinheiro para a sua produção, mesmo durante momentos difíceis, como na pandemia da Covid-19, quando todas as entrevistas tiveram de ser feitas a distância e as fotos enviadas pelas próprias fontes.
Região Tocantina – O jornal já recebeu algum tipo de prêmio ou reconhecimento?
Alexandre Maciel e Leila Sousa – O Arrocha foi premiado duas vezes como melhor jornal-laboratório do Nordeste, no Expocom, uma mostra de produtos universitários dos cursos da área de Comunicação promovida pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom), nos anos de 2016, com a edição “Meio ambiente em alerta” e em 2020, com as edições temáticas “Movimentos sociais”, “Cidades que foram Imperatriz” e “Imperatriz que eu quero”.
Região Tocantina – É possível aferir o nível de leitura do jornal pela comunidade e de onde vêm esses leitores?
Alexandre Maciel – Angariar um maior número de leitores e leitoras e mesmo aferir quem são essas pessoas sempre foi um problema complexo na produção do Arrocha. O produto digital, ao mesmo tempo que circula de forma ampla, é de difícil mensuração com relação ao seu real alcance em termos de conquista dos leitores. Um bom projeto de pesquisa sobre a recepção do Arrocha e seus impactos seria de muita utilidade para pensar, justamente, formas de superar esses limites.
Região Tocantina – Qual você acha que será o futuro da publicação?
Leila Sousa – O desafio está colocado para os próximos anos: aproximar-se mais das comunidades, escolas, levando ao conhecimento de vários públicos, em minicursos, palestras, da importância da existência de um jornal que tem, de certa forma, caráter quase atemporal em seus temas, além de grande possibilidade de uso didático e para registro de memória e da história de Imperatriz e região. Em 2022, os acadêmicos da disciplina de Edição Jornalística fizeram um diagnóstico de como os grandes jornais, como a Folha de S. Paulo e O Globo, dinamizam tanto a produção quanto a divulgação de seus conteúdos e propuseram vários caminhos interessantes. Por exemplo, produção de podcasts, tanto com debates quanto com versões de reportagens radiofônicas sempre ligadas ao tema central que está sendo desenvolvido. A criação da TV Arrocha no YouTube, adaptando os temas à linguagem audiovisual. Um amplo e estratégico trabalho de adequar a divulgação do Arrocha para a linguagem específica de cada rede social. Newsletters variadas, distribuídas para públicos estratégicos também foram cogitadas. Os professores irão acolher todas essas propostas na forma de um projeto de extensão que dê conta de um maior diálogo do Arrocha com essa comunidade tão ampla e heterogênea que é Imperatriz.
Região Tocantina – Qual é, na sua opinião, a contribuição que um jornal com essa característica dá para a formação dos futuros jornalistas?
Alexandre Maciel – Inestimável em vários sentidos. Para o estudante de jornalismo, a chance de se exercitar em todas as etapas de produção, pensando tudo em equipe. As grandes lições editoriais que uma publicação permite, como noções do que é interesse social, como selecionar fontes, entrevistar, fotografar, e, o mais difícil, conferir uma unidade fluida a todo o material final, que se concretiza em edições temáticas. Para o cidadão, a possibilidade de conhecer meandros de Imperatriz e da região pela ótica das pessoas comuns, os mais ativos protagonistas da história de um território. Em tempos de um jornalismo tão fragmentado, instantâneo, muito fixado em cliques, levar os estudantes a pensarem em noções de contextualização temática e explicação didática de temas complexos é um grande bem para a democracia brasileira.
Leila Sousa – Além disso, a proposta do jornal laboratório Arrocha é ampliar a consciência crítica e cidadã dos estudantes de jornalismo, de modo a que valorizem e respeitem as alteridades e diversidades que compõem o território onde vivem. Cada edição, além de estimular um profundo processo de pesquisa para a seleção de temas, enquadramentos e fontes, é também uma oportunidade para que os estudantes possam identificar outras formas possíveis de fazer o jornalismo e de dialogar com “os outros”, sujeitos políticos, que constroem e compõem a sociedade.
Conteúdo: Notícias da Região Tocantina