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Segunda do Português: "Crase"
Crase
A crase é um fenômeno fonético que consiste na fusão de dois sons vocálicos idênticos e, no caso da vogal A, o assunto se estende para a grafia, em que se utiliza um acento grave (hoje chamado de “acento indicador de crase”) para indicar que os dois sons vocálicos foram fundidos, e as duas letras AA foram reduzidas para apenas uma. Vamos abordar dois casos hoje.
a) À DISTÂNCIA
Nestes tempos de pandemia, a educação on-line passou a demarcar território e hoje é uma realidade, a tão conhecida EAD. O problema é que, quando essa sigla é escrita por extenso, muita gente não sabe se há crase ou não. Observe, no exemplo abaixo, o uso errado da crase:
Na faculdade KWY, você estuda à distância com os melhores professores.
Algumas regras da língua portuguesa merecem questionamento. Essa é uma delas. Se a expressão a distância é uma locução adverbial de lugar feminina, como mencionamos no tópico anterior, a lógica é que seja iniciada por crase. No entanto os meandros da gramática determinam que a crase só existe nessa expressão quando a distância está determinada, como em:
Os repórteres tinham de permanecer à distância de cinquenta metros do palanque. (correto)
O supermercado fica à distância de duzentos metros de nossa casa. (correto)
Veja mais dois exemplos:
Os populares tiveram de ficar à distância por determinação da polícia. (errado)
Os populares tiveram de ficar a distância por determinação da polícia. (correto)
Não existe razão para não haver crase se não se estabelece a distância. Entre os colegas professores consultados, todos têm a mesma opinião, mas as bases da língua têm de ser respeitadas, por isso, em seus textos ou submetendo-se a provas de concursos, lembre que a expressão “a distância” não tem crase, no entanto a expressão “à distância de um milímetro”, diferentemente, recebe tratamento especial e foi coroada com acento grave. Corrigindo nosso exemplo inicial de acordo com as regras que preceituam o padrão culto da língua, teremos:
Na faculdade KWY, você estuda a distância com os melhores professores.
b) À PRAZO
O exemplo abaixo foi tirado da propaganda de uma famosa loja. Observe o uso errado da crase:
Venda à prazo para compras acima de R$ 200,00.
Uma regra básica do uso da crase é: "não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida alguma palavra feminina, como "moda", "maneira", "revista", "delegacia", "nave", "praça", "rua", "biblioteca" etc.". Observe os exemplos:
Ela usava um salto à Luís XV. (à moda Luís XV)
O jogador marcou um gol à Pelé. (à maneira de Pelé)
Alguns ainda se vestem à 1940. (à moda de 1940)
Refiro-me à Seleções. (à revista Seleções)
Por que você não vai à Roubos e Furtos? (à Delegacia Roubos e Furtos)
Doei meus livros à Benedito Leite. (à Biblioteca Benedito Leite)
No entanto, se não houver uma palavra feminina subentendida, o uso de crase antes de palavra masculina é proibido. Observe os exemplos abaixo:
Ele fez tudo a torto e a direito.
O time deu mais de trinta chutes a gol.
Na fazenda de meu tio, fizemos um passeio a cavalo.
Esse broche é banhado a ouro, portanto tem pouco valor comercial.
Uma maneira fácil de identificar a existência de crase é substituindo o substantivo feminino da oração por um masculino. Se o resultado for a combinação AO(S), existe crase; caso contrário, não existe crase.
Exemplos:
Suas mãos estão cheirando (a ou à) cebola. (substituindo cebola por limão, obtemos “...cheirando a limão”, logo não há crase)
Rezo (a ou à) Nossa Senhora. (Substituindo Nossa Senhora por Deus, obtemos “Rezo a Deus”, logo não há crase)
Entregue isto (a ou à) professora. (Substituindo professora por professor, obtemos “Entregue isto AO professor”, logo há crase)
Corrigindo o exemplo inicial:
Venda a prazo para compras acima de R$ 200,00.
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Revisão: Jáder Cavalcante