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UFMA concede a Maria Firmina dos Reis o título de Doutora Honoris Causa, in memoriam

publicado: 16/11/2022 11h55, última modificação: 18/11/2022 01h47
Com o propósito de distinguir personalidades eminentes que tenham se destacado singularmente por sua contribuição à cultura, à educação ou à humanidade, o título foi outorgado a Maria Firmina.
UFMA concede a Maria Firmina dos Reis, o título de Doutora Honoris Causa, in memoriam.jpg

Fervor por uma educação de qualidade para todos, luta pelo abolicionismo e denúncias do Brasil escravocrata: a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis foi homenageada, in memoriam, na sexta-feira, 11, no Palácio Cristo Rei, localizado na Praça Gonçalves Dias, Centro de São Luís, com a solenidade da outorga do título de Doutora Honoris Causa. O diploma foi recebido e assinado pelo familiar da homenageada, Osvaldo Luís Gomes, prefeito da cidade de Guimarães.

A concessão do título foi aprovada no Conselho Universitário (Consun), presidido pelo reitor Natalino Salgado Filho, no dia 21 de janeiro, por meio de videoconferência, a fim de reconhecer Maria Firmina dos Reis pelos seus relevantes serviços prestados à sociedade maranhense, como personalidade intelectual, educacional, literária e cultural.

Nascida em São Luís, em 11 de março de 1822, Maria Firmina faleceu em 11 de novembro de 1917, aos 95 anos, na cidade de Guimarães. Teve em vida o privilégio de presenciar a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis, prima do escritor maranhense Sotero dos Reis por parte de mãe. Já em 1830, mudou-se com a família para a Vila São João de Guimarães.

“Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofado de outros, e ainda assim o dou a lume. Deixai, pois, que a minha ÚRSULA, tímida e acanhada, sem dotes da natureza, nem enfeites e louçanias da arte, caminhe entre vós”, escreveu Maria Firmina dos Reis, em seu livro “Úrsula” (1859).

Sua obra literária, bem como sua importância na história ganharam o mundo em um passado não tão distante, uma vez que ela teve grandes feitos pioneiros como romancista, abolicionista, professora e, ainda, compositora. Este ano marca o bicentenário do nascimento dela. Aliás, a vida, a obra e a trajetória da romancista inspiraram o Dia da Mulher Maranhense, instituído pela Lei n° 3.754, de 27 de maio de 1976, e sancionada pelo então governador do estado do Maranhão, Osvaldo da Costa Nunes Freire.

A mesa da solenidade contou com a presença do reitor Natalino Salgado; do coordenador do curso de Letras da UFMA, José Dino Costa Cavalcante; da vice-presidente da Academia Maranhense de Letras, Laura Amélia Damous; da presidente da Academia Ludovicense de Letras, Jucey Santos de Santana; do prefeito de Guimarães, Osvaldo Gomes; da pesquisadora do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, poetisa e membra da cadeira número oito da Academia Ludovicense de Letras, Dilercy Aragão Adler, a qual tem como patrona Maria Firmina; e do magistrado e biógrafo da Maria Firmina dos Reis, Agenor Gomes.

A cerimônia ocorreu com a abertura da solenidade de outorga do título de Doutora Honoris Causa. “Entre tantas honrarias, a UFMA tem o compromisso de conceder o título, a fim de reconhecer personalidades que têm destaque e importância na construção da cultura, educação e humanidade, como, por exemplo, a nossa condecorada da noite, Maria Firmina dos Reis. A romancista fez grandes publicações literárias na América Latina numa época totalmente desumana, contudo, teve muita resistência como educadora”, comentou o reitor Natalino Salgado.

Durante seu discurso à escritora maranhense, o reitor lembrou que ela foi a primeira mulher negra a publicar um romance sobre a libertação dos escravos na América Latina. “A luta de Maria Firmina dos Reis foi um feito significativo e, ao mesmo tempo, extraordinário para a Lei Áurea, outorgada em 1888. A UFMA reveste-se de orgulho por seu talento merecedor deste grande destaque. O título concedido é fruto de um reconhecimento que nem o próprio passado pode esconder, pois seu exemplo jamais será esquecido. Suas facetas e paixão pelo ensino deram cor à sua existência numa sociedade patriarcal e preconceituosa. Nesta noite, portanto, demonstramos nossa crença inquebrantável, no caminho do conhecimento, que visa libertar, emancipar e distingui-la com este título. Logo é nosso dever reafirmar seu papel e, sobretudo, trazê-la como referência a todas as mulheres negras do Maranhão e do Brasil. Seus feitos permanecerão para sempre entre nós. Viva Maria Firmina dos Reis!”, expressou, com êxito.

Honoris Causa Maria Firmina dos Reis - 11-11-2022

Do ponto de vista do professor Dino Cavalcante, que fez a apresentação da homenageada, a solenidade foi uma das cerimônias em que a maior Instituição de ensino superior do estado já outorgou o grau de Doutora Honoris Causa a uma das figuras mais expressivas da literatura maranhense. “Neste momento, nós chamamos o nome de Maria Firmina dos Reis, e uma voz dentro do meu coração responde: presente! Viva a doutora Maria Firmina dos Reis. Viva a literatura maranhense!”, exaltou, com emoção. 

Pesquisadores, escritores, articulistas, curiosos e especialistas vêm dando, paulatinamente, a importância e a reverência que a vida e a obra dessa maranhense merecem. Um deles é o biógrafo Agenor Gomes, que, por meio da obra literária de sua autoria, “Maria Firmina dos Reis e cotidiano da escravidão no Brasil”, que o prefeito Osvaldo Gomes descobriu seu parentesco com a escritora. “O meu parentesco vem do meu avô materno – o pai dele, meu bisavô, era primo de Maria Firmina”, explicou o prefeito Osvaldo.

Para Gomes, falar da escritora é reconhecer que seu legado vai muito mais além de marcas e personalidades. “Como Maria Firmina não teve filhos e sua irmã faleceu ainda nova, então cabe a mim a grande responsabilidade de transmitir aqui, em nome da cidade de Guimarães, onde a poetisa entregou seu coração aos seus familiares e admiradores, uma mensagem cujo conteúdo correlaciona-se a tão distinta homenagem. Apesar da escravidão e do patriarcalismo, ela não se calou nem se intimidou, continuou enfrentando os desafios e recusou-se a viver em silêncio como as demais mulheres negras do seu tempo. Destaco, ainda, que Firmina escreveu um romance em denúncia à escravidão, publicou com o nome de ‘Úrsula’ – primeiro livro brasileiro com dados sob o ponto de vista dos escravos. Uma mulher que aprendeu, ensinou, lutou, divergiu, acertou e errou: agora é nossa doutora! Que as atuais e futuras Firminas também sejam fortes e corajosas como Maria Firmina dos Reis. Viva Maria Firmina!”, comemorou.

Saiba +

Maria Firmina é patrona da cadeira número oito da Academia Ludovicense de Letras (ALL). Denominada como Casa de Maria Firmina dos Reis, a ALL foi fundada em 10 de agosto de 2013, aos 190 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias, como parte da programação da antologia “Mil poemas para Gonçalves Dias”, promovida pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, pela Federação das Academias de Letras do Maranhão; pela Sociedade de Cultura Latina do Maranhão; e pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, em celebração ao aniversário dos 400 anos da fundação da cidade de São Luís.

Dilercy Adler, apaixonada pela vida e obra da romancista, considera Maria Firmina como o ícone da historiografia cultural maranhense. “Durante a criação da nossa ALL, eu sugeri o nome de Maria Firmina dos Reis para ser a patrona da Academia, contudo são necessários dois membros para indicar, então pedi a uma amiga que iria, inclusive, sugerir o nome de Mário Martins Meireles, para indicarmos juntas a Firmina dos Reis para ser a patrona. Pode-se dizer que o início da minha relação com a homenageada foi mais ou menos assim. Hoje, eu ocupo a cadeira dela, na ALL”, esclareceu.

Por: Lucas Araújo

Fotos: Bruno Goulart

Produtor: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante

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