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Pesquisador tem sua pesquisa sobre sambaquis em Panaquatira publicada no guia da XIII RCC

publicado: 15/12/2020 00h00, última modificação: 31/12/2020 16h44

 

SÃO LUÍS – “Caracterização de um perfil de solo e de cerâmicas arqueológicas do Sambaqui de Panaquatira, município de São José de Ribamar, MA” é o título do capítulo que compõe o e-book “Guia de campo da XIII Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos: RCC do Maranhão”, desenvolvido por  Arkley Marques Bandeira, professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão;  Renato Akio Ikeoka e Carlos Roberto Appoloni, docentes da Universidade Estadual de Londrina (UEL); e Wenceslau Geraldes Teixeira, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Solos.

O guia foi lançado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) no dia 4 de dezembro, em comemoração ao Dia Mundial dos Solos, e está dividido em 23 capítulos que apresentam a caracterização geoambiental do Maranhão, partindo da descrição dos perfis de solo, bem como o resultado de diversas pesquisas coligadas realizadas nos solos avaliados.

Vale destacar que este material é fruto da XIII Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos (RCC), que ocorreu em outubro de 2019, no Maranhão, que teve o intuito de contribuir para o aprimoramento do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), como também a ampliação de conhecimento sobre os solos do Maranhão, representado por três biomas — Amazônia, Cerrado e Caatinga — e diversos ambientes de transição, além de campos inundáveis, restingas e manguezais. 

Confira a entrevista concedida pelo pesquisador Arkley Marques Bandeira, coordenador do Observatório Cultural do Maranhão, à Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA para falar sobre sua pesquisa. Ele também é professor dos Programas de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCult) UFMA e em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da UFMA, integrante da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) e membro fundador da Casa da Memória do Instituto do Ecomuseu do Sítio do Físico, em São Luís.

DCom - Como surgiu o convite para participar do guia da XIII RCC?

Arkley Bandeira - O convite para participar do Guia veio dos próprios organizadores da XIII Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de solos, que ocorreu no Maranhão em outubro de 2019. Naquele contexto, a ideia era analisar a possibilidade de inclusão das terras pretas existentes em sítios arqueológicos denominados de Sambaquis — antigas áreas ocupadas por populações que viviam próximas às praias e estuários, que se caracteriza por um amontoado de carapaças de conchas de moluscos e outros vestígios arqueológicos  como um solo antrópico, ou seja, um solo que foi formado pela atividade humana em longa duração, como o manejo de áreas vegetadas, roças, cultivos, queimadas, descartes de matérias orgânicas, entre outras ações.

Solos antrópicos já eram conhecidos por toda a Amazônia Brasileira, são denominados de Terras Pretas de Índio. No caso dos sambaquis, apesar de existirem terras pretas, a composição e a formação são diferentes, inclusive, pelo fato de o tipo de sítio arqueológico também ser diferente. Diante disso, um grupo de profissionais que estudam solos, como geólogos, geomorfólogos, pedólogos, botânicos, agrônomos, geógrafos, paleoclimatólogos e arqueólogos, se reuniram em torno do Sambaqui da Panaquatira, em São José de Ribamar, para avaliar, discutir e deliberar se o solo de sambaquis poderia entrar no Guia Brasileiro de Classificação e Correlação de Solos.

A terra preta de sambaquis também é considerada um tipo de solo, como outro qualquer formado pela natureza, e junta-se a terra preta de índio como mais um antropossolo no Brasil.

Dcom - Como foi realizada a pesquisa? 

AB- A pesquisa em sambaquis no Maranhão já vem sendo conduzida por mim desde 2005. Vários sítios foram escavados ao longo de 15 anos, como o Sambaqui do Bacanga, que resultou em uma data de ocupação inicial em torno de 6.600 anos atrás, uma das mais antigas do Brasil ou o Sambaqui Vinhais Velho, que foi escavado quando ocorreu a construção da Via Expressa, e, quase todos os dias, milhares de pessoas passam na área onde viveram povos pescadores e coletores de mariscos, há quase 3 mil anos.

No caso específico do Guia de Solos, fui contatado por representantes do Congresso no Maranhão, pesquisadores da UFMA, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Embrapa Solos, que propuseram uma visita técnica em alguns sambaquis, para que, posteriormente, todo o comitê envolvido na Reunião de Classificação e Correlação de Solos pudesse estudar e avaliar a possibilidade de inclusão da terra preta de sambaquis da lista brasileira de solos. E assim o fizemos, visitamos os Sambaquis do Bacanga, Vinhais Velho e Panaquatira. Devido ao tamanho do sítio, facilidade de acesso e a existência de um perfil de quase dois metros, pois eram mais de 50 pesquisadores e avaliadores na área, foi escolhido o Sambaqui da Panaquatira, na praia da Ponta Verde  Itapary, em São José de Ribamar.

Após esta fase, foram coletadas amostras de solos, fragmentos cerâmicos e exemplares de carapaças de moluscos, que foram analisadas e avaliadas. Os resultados foram descritos em um Guia de Campo, que antecedeu a publicação final com a caracterização da terra preta de sambaqui.

Após este processo, um grupo dos mais destacados estudiosos de solo do Brasil se reuniu em torno do Sambaqui da Panaquatira para avaliarem in loco as informações, o que resultou na classificação da terra preta de Sambaquis, em um Antropossolo Cochífero.

Dcom – Fale da importância das pesquisas realizadas em sítios arqueológicos.

AB - Do ponto de vista da arqueologia, é de suma importância termos o reconhecimento da terra preta de sambaquis como um solo no Guia de Classificação Brasileira, sobretudo, relacionado com os aspectos de preservação.

Os sítios arqueológicos brasileiros são protegidos por lei, desde a década de 1960, pois muitos sambaquis eram destruídos para retirada de conchas para pavimentação de estradas. Eu tenho vários relatos de pessoas mais antigas que a estrada de São José de Ribamar foi pavimentada com o desmonte de vários sambaquis, como o da Maiobinha, Pindaí, São José dos Índios, e outros que nem chegamos a conhecer.

Mais recentemente, os sítios de terra preta, sobretudo na Amazônia, estão sendo utilizados para o plantio de culturas frutíferas, pelo fato da terra preta de índio ter propriedades extremamente boas para o cultivo. E é óbvio que o processo de cultivo é destrutivo e impacta os sítios arqueológicos.

Logo, termos na classificação brasileira de solos o Antropossolo Cochífero dos sítios arqueológicos do tipo sambaquis é o mesmo que dizer, é um solo, mas é um antropossolo, ou seja, formado peça ação humana há milhares de anos. Logo, também e considerado um sítio arqueológico, portanto o seu uso para agricultura ou para extração das terras é proibido por lei, por se tratar de um patrimônio cultural do povo brasileiro.

Do ponto de vista da grande área do conhecimento, também é um salto muito grande, pois conseguimos reunir várias especialidades no estudo dos solos, que é um trabalho multi e interdisciplinar, conseguimos trabalhar em prol da inserção e criação de mais um tipo de solo no Brasil, que é o Antropossolo Cochífero, e construir conhecimento integrado sobre a arqueologia e os estudos de solo.

Acesse o Guia de campo da XIII Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos: RCC do Maranhão

 

 

Produção: Marcos Paulo Albuquerque
Revisão: Jáder Cavalcante
Fotos: RCC - Maranhão 2019
Lugar: Cidade Universitária Dom Delgado
Texto: Allan Potter
Fonte: RCC - Maranhão 2019
Última alteração em: 16/12/2020 10:56