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Pesquisa sobre casas de prostituição de mulheres garante aprovação de estudante no PGCult
SÃO LUÍS – Recém-graduado no curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia do Câmpus de São Bernardo da Universidade Federal do Maranhão, Ramisson Corrêa Ramos foi aprovado no seletivo de mestrado do Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (PGCult) da UFMA, na linha de pesquisa “Expressões e processos socioculturais”, com o título de sua pesquisa “Macho e/ou Cliente?: A performance e a construção dos papéis de gênero em casas de prostituição de mulheres no município de São Luís- Maranhão”. Confira a entrevista que o pesquisador concedeu à Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA para falar sobre a trajetória de sua pesquisa.
DCom - Como surgiu o interesse em pesquisar sobre a temática?
Ramisson Ramos – Bem, o tema de meu trabalho de conclusão de curso foi “O freguês da meia noite: A performance e a construção dos papéis de gênero em casas de prostituição de mulheres em uma cidade interiorana do Estado do Maranhão”. Vim a desenvolver essa pesquisa pouco depois que comecei a participar dos encontros e reuniões do Grupo de Estudos em Gênero e Educação Chita/Guitã, a pedido da professora do curso de Licenciaturas em Ciências Humanas do Câmpus de São Bernardo Amanda Gomes Pereira, que logo se tornaria minha orientadora. Lá que fui delimitando e fazendo as primeiras leituras importantes para minha pesquisa.
A metodologia que utilizei foi pautada na pesquisa etnográfica com pesquisa participante. Iniciei as primeiras incursões no campo, no início de 2018, e finalizei na segunda metade de 2019. Porém, dentro desse período, houve inúmeras alterações na pesquisa, principalmente a respeito das dinâmicas dos estabelecimentos de prostituição, pois, ao contrário dos códigos, regras de conduta e os significados que rondam esses espaços em grandes centros urbanos do Brasil, optei por pesquisar em uma realidade interiorana, na região do Delta das Américas Maranhense. Dessa maneira, novas práticas foram se mostrando, outras nem tanto.
A pesquisa foi feita em dois estabelecimentos de prostituição feminina no interior do Maranhão, em uma cidade que é caracterizada como rota de passagem para outras cidades do Nordeste que são situadas no cenário da prostituição nacional e transnacional.
Meu interesse em pesquisar esses estabelecimentos está intimamente relacionado com minhas leituras sobre os estudos de gênero, mas também pelo fato de que, ao fazer um levantamento bibliográfico sobre os estudos de prostituição, percebi que pouco ou nada se pesquisava da realidade Maranhense a esse respeito. Logo, compreendi a importância de se descrever essa temática e, principalmente, trazer abordagens que possibilitem uma visibilidade maior para as relações de gênero, principalmente as que são construídas e reproduzidas nesses estabelecimentos. Assim, pude trazer outro elemento para a compreensão desses espaços, que foi a análise a respeito de como os papéis de gênero, nesse caso, as masculinidades, são desempenhados e performatizados nesses estabelecimentos. Entendendo esses mesmos espaços como palco para a atuações de gênero entre clientes, não clientes e os sujeitos que produzem significados.
DCom – Houve dificuldades de acesso nos locais estudados?
RR - Em relação ao campo, sim, houve inúmeras dificuldades, principalmente no que tange a minha presença como “invasor” nesses ambientes em alguns momentos, pois muitas pessoas que frequentam esses estabelecimentos, no caso dos situados na cidade do interior do estado, são habitantes dessas cidades. Dessa forma, localidades como essas são carregadas de relações personalistas, e, no caso da pesquisa, as pessoas têm até um certo grau de parentesco. Mas, no decorrer das incursões no campo, fui procurando métodos e alternativas para tangenciar as problemáticas em torno do campo e da pesquisa, uma delas foi frequentar os estabelecimentos acompanhado com clientes e pessoas que são residentes da cidade em estudo.
DCom - Como se deu o processo de aprovação no seletivo de mestrado do PGCult?
RR - O projeto que submeti para a seleção do mestrado foi “Macho e/ou cliente?: a performance e a construção dos papéis de gênero em casas de prostituição de mulheres no município de São Luís/ Maranhão”. O estudo é uma espécie de continuidade em relação ao que já pesquisei na graduação, só que agora analisarei as práticas outrora observadas em um contexto metropolitano, que é encontrado na cidade de São Luís.
Os sentimentos que estou nutrindo por chegar ao segundo lugar na classificação é de imensa satisfação, até surpresa, só tenho a agradecer às pessoas que estiveram ao meu lado nesse processo, principalmente minha orientadora, Amanda Gomes Pereira, por tanto me incentivar e me ajudar a encontrar meu potencial como profissional e como pessoa.
Agora, uma nova jornada de aprendizagem e dedicação está por vir, estou um pouco ansioso, pois essa jornada vai se mostrando como algo desafiador. Apesar de vir do ensino público, meu contexto de vida foi bem diferente do que a maioria dos estudantes do câmpus de São Bernardo, e as formas de aquisição de capitais culturais se distinguem muito. Mas, como muitos dos estudantes do câmpus, minha permanência no ensino superior se fez por meio de bolsas e auxílios adquiridos por meio da Universidade. Nesse período, tive ajuda de muitos e, se estou agora concedendo esta entrevista, é por conta dessas pessoas e é por elas que continuo a minha jornada acadêmica.
Dcom - Descreva a metodologia que será aplicada em sua pesquisa de mestrado?
RR - A metodologia do trabalho de pesquisa proposto para o mestrado será desenvolvida na cidade de São Luís, a partir de uma pesquisa qualitativa com observação participante em estabelecimentos de prostituição, com os sujeitos que trabalham ou frequentam esses espaços. Nesse sentido, serão utilizados como amostra de pesquisa dois estabelecimentos, localizados no bairro São Cristóvão, por questões relativas a logística e acesso.
Dcom – De que forma os papeis de gêneros estão representados nesses espaços pesquisados?
RR - A respeito das identidades de gênero que se inserem nas práticas desses espaços onde o exercício da prostituição é realizado, a pesquisa pretende demonstrar e desconstruir as representações tradicionais acerca desses ambientes, na maioria das vezes, visto apenas como local fugaz de prazer e entretenimento masculino. Ao nos depararmos em campo com a presença de homens na figura de clientes e de não clientes, tanto quanto as atuações performáticas de gênero, fomos levados a questionar o mercado da prostituição, seus discursos e práticas, assim como: quais mecanismos são utilizados para a produção dos discursos acerca da masculinidade, evidenciando as representações pautadas na heteronormatividade compulsória e para além dela? Logo podemos descrever como esses locais, os ambientes de prostituição e seus inúmeros atores sociais somam para a produção e reprodução de determinados papéis sociais de gênero, em especial, contribuem para o surgimento de narrativas sobre masculinidades.
Produção: Marcos Paulo Albuquerque
Revisão: Jáder Cavalcante
Lugar: Câmpus de São Bernardo
Texto: Allan Potter
Última alteração em: 17/12/2020 22:00