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Mestrando apresenta dissertação sobre cancioneiro maranhense como metodologia de ensino

publicado: 07/02/2023 12h03, última modificação: 07/02/2023 14h56
Inquietação na experiência de treze anos como docente motivou Misael Oliveira a desenvolver o estudo

Ao longo de quase uma década como professor de escolas públicas e privadas, Misael Rodrigues Oliveira, estudante do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) da UFMA, desenvolveu uma inquietação sobre formas de tornar o ensino mais lúdico e que pudesse suprir a ausência da história do Maranhão nos livros didáticos. Com esse estímulo, realizou um estudo e uma proposta por meio de sua dissertação de tema “História (em) canto: o cancioneiro maranhense como metodologia de ensino da história do Maranhão”.

Oliveira conta que sua escolha para tratar sobre a história maranhense, tomando como principal documento a música regional, já não é recente, já que tem prática musical em voz e violão. Ele revelou que, em toda a sua vivência acadêmica na UFMA, foi estabelecida nele uma forte relação entre história e música, sendo, por muitas vezes, objetos de estudo para seminários em várias disciplinas. Na sua monografia, essa relação veio a se confirmar no seu estudo realizado sobre a censura na música no Maranhão durante a ditadura militar, no trabalho “A Música Maranhense e a Censura: um caso dissonante ou consonante?”

“Agora, no mestrado, tive outra reafirmação dessa relação entre a música e história maranhense, observando as músicas do Maranhão por uma lente mais social. Mas, apesar desse feliz reencontro, a motivação não é nem um pouco animadora e nada festiva, afinal, a razão por trás desse trabalho deve-se ao momento delicado vivenciado pela história do Maranhão enquanto disciplina”, expõe.

Em sua análise, o estudante de Mestrado aponta que os prejuízos provocados pela ausência de uma disciplina que dialogue com a realidade dos alunos podem ir do desprezo ou vergonha dos jovens alunos pela cultura maranhense até a geração de concorrência desigual no seletivo de vagas nos cursos mais concorridos da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), instituição que ainda cobra conhecimentos sobre a história do Maranhão em seu vestibular. “Nesse caso específico, o prejuízo é, no mínimo, duplo, visto que o aluno é privado do conhecimento da história de seu próprio estado e é exigido dele o que não lhe foi ofertado durante a vida escolar”, afirma.  

Oliveira também pontua que o programa Santo de Casa, vinculado pela Rádio Universidade 106,9 FM, teve grande importância para a construção de seu trabalho, pois constatou que é o único programa de rádio voltado totalmente para a música maranhense. “Além disso, é um programa muito bem construído, num formato extremamente agradável de se ouvir e é de muito bom gosto. E, como se tudo isso ainda não bastasse, o programa é feito por pessoas extremamente educadas, sensíveis e empáticas, prefiguradas na pessoa de sua produtora e apresentadora, Gisa Franco”, elogia.

O produto educacional feito por ele na dissertação é um blog intitulado “O Som Nosso de Cada Dia”, elaborado por meio de oficinas realizadas no Colégio Batista Ludovicense, no Centro de São Luís, uma das instituições nas quais ele trabalha. Foram aplicadas duas atividades, a primeira chamada de “‘Eita’ Povo Invocado: a participação popular na balaiada” e a segunda “Tem Chicote na Feira: o desafio ser negro no maranhão 134 anos depois do ‘fim’ da escravidão”. Como resultado, observou o silenciamento e até o esquecimento da história do Maranhão.

“No material adotado pelo Colégio, a menção ao Maranhão foi mínima, ficou restrita a episódios como a Balaiada e a Adesão à Independência, o que justifica a necessidade de nós, professores, continuarmos a ensinar a história do Maranhão a despeito de o Exame Nacional do Ensino Médio ter viés generalista e deixar de lado a história local”, comenta.

A segunda oficina, conforme explanou, serviu para demonstrar que, apesar de não ser mais permitida juridicamente, a escravidão no País assombra a população, sendo constatada com certa frequência em notícias de pessoas encontradas trabalhando em condições análogas à escravidão e em denúncias de racismo.

Oliveira ressalta que o objetivo do trabalho foi oferecer uma metodologia para o ensino da história do Maranhão utilizando o cancioneiro maranhense como documento e demonstrando as suas potencialidades para o ensino e aprendizado da história. No estudo, o discente de pós-graduação apresenta canções e compositores maranhenses de períodos e gêneros variados, cantaroladas e difundidas no Maranhão, tanto de compositores radicados no estado ou não. Na pesquisa, também analisou o engajamento ou falta dele nos alunos. 

Por: Juan Terra 

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante

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