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Grupo de Estudos e Pesquisas em Meio Ambiente e Cultura realiza projeto de extensão no Quilombo Saco das Almas, em Brejo, Maranhão

publicado: 20/04/2023 18h34, última modificação: 24/04/2023 10h08
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Em 2022, o Projeto de Extensão “Saberes Griôs, Literatura, Formação de Professores e Tecnologias Educacionais” teve forte atuação no Quilombo Saco das Almas, formando professores da educação básica na comunidade, localizada no município de Brejo, interior do Maranhão.

Promovido pelo GEPEMADEC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Meio Ambiente e Cultura), o projeto desenvolveu atividades pautando os diversos saberes Griôs, produzidos pela comunidade, junto aos professores das escolas das redes municipal e estadual da comunidade.

O termo Griô, como explica o coordenador do projeto, Josenildo Campos Brussio, é uma adaptação para a língua portuguesa do termo francês Griot, que designa os agentes culturais da tradição oral africana, os quais atuam como cronistas, genealogistas, cantores, contadores de histórias, poetas, mestres de cerimônias, entre outras formas de mediação, e como responsáveis pela transmissão dos saberes para os membros de suas comunidades. Esses conhecimentos abarcam desde as atividades agrícolas e extrativistas na coleta e tratamento do babaçu, buriti, tucum e demais outros recursos da região, estendendo-se até a produção de produtos artesanais, como tecelagem, doces e farinhas, além da realização de atividades culturais como festejos, danças e apresentações culturais.

O projeto pauta a percepção trazida por meio da memória coletiva de seus moradores, caminhando pelo imaginário e as representações simbólicas desses elementos culturais presentes nas práticas sociais, políticas e culturais cotidianas dos moradores da comunidade na constituição de um patrimônio típico do quilombo. O objetivo é ajudar na organização, cooperação e produção dos elementos culturais e a forma como estão sendo transmitidos na educação escolar da comunidade, focando na formação dos professores para o uso das tecnologias educacionais.

O professor Josenildo Campos relata que um dos resultados que chamou sua atenção durante a realização do projeto ocorreu no fim do segundo semestre, quando os professores da comunidade realizaram atividades que resultaram em uma feira cultural sobre os saberes griôs locais, com foco na exposição dos saberes e utilização das tecnologias educacionais.

A professora Daciléia Lima Ferreira, participante do projeto, afirma que, durante a proposição desse, focaram no levantamento dos saberes da comunidade para contribuir na formação dos docentes da Educação Básica do quilombo. Ainda de acordo com a professora, no decorrer das atividades realizadas no ano de 2022, notaram a necessidade de trazer os referenciais teóricos sobre a Decolonialidade e Epistemologias Afrodiaspóricas como a Afrocentricidade, propondo instrumentação para os docentes pensarem em rupturas epistemológicas contra o paradigma hegemônico ocidental em prol de novas epistemologias que valorizam os saberes locais e ancestrais, como os saberes griôs da comunidade da Vila das Almas.

“Dessa maneira, é preciso ouvir mais os quilombolas, fazer um diagnóstico de sua realidade, vivências e experiências. É necessário relacionar o interesse coletivo às necessidades coletivas. Portanto precisamos de mais tempo para trabalhar os saberes griôs que são produzidos na comunidade. Tudo isso se trata de um processo de construção, com parcerias e parcimônias, colocando-se sempre como vetor de produção à coletividade da comunidade”, pontuou.

O professor explica que o projeto de extensão continuará com oficinas, discutindo o tema, de um ponto de vista crítico. “Quando falamos desse projeto, queremos demonstrar não só a capacidade que o quilombo tem de produzir conhecimento, mas, acima disso, produzir saberes. Muitos desses saberes são patrimônios imateriais, mas que podem também gerar renda e se transformar com empreendimentos no ramo do turismo”, analisa.

O coordenador também denota que é necessário viabilizar o entendimento desse potencial por parte da população, por isso, a seu ver, é necessário que os professores trabalhem esses saberes em sala de aula, além de fomentar a transmissão desses saberes para mais jovens da comunidade. “Nesse contexto, é importante trabalhar a formação de professores e a literatura analisando-a como repertório teórico, de textos necessários a serem estudados, com temas como africanidades, saberes ancestrais e locais”, finalizou.

Por: Juan Terra

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante

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