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Entrevista: professor Roni César Andrade, do Câmpus de Grajaú, fala de sua pesquisa sobre identidade brasileira com base em conflitos no Maranhão durante as revoltas pós-independência

publicado: 22/07/2021 19h48, última modificação: 23/07/2021 18h08

Para compreender as tensões vividas no espaço político-social do Maranhão pós-independente e no processo de definição da cidadania brasileira com base no acervo da Biblioteca Nacional, o professor Roni César Andrade, do curso de Licenciatura em Ciências Humanas do Câmpus Grajaú, desenvolve a pesquisa “‘As propriedades do partido inimigo inquestionavelmente sujeitas à condenação’: a política de apresamento de Lorde Cochrane no Maranhão e o caso da embarcação Pombinha” para se aprofundar nos estudos sobre a identidade brasileira baseada em conflitos no Maranhão durante as revoltas pós-independência. Para falar sobre esse assunto, o docente concedeu uma entrevista à Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA. Confira os detalhes da pesquisa:

DCom: Professor Roni Araújo, no que consiste a pesquisa?

Roni César: A pesquisa tem por objetivo, com base no acervo da Biblioteca Nacional, compreender as tensões vividas no espaço político-social do Maranhão, no processo de definição da cidadania brasileira, no Maranhão pós-independente, baseando-se no debate impresso no Rio de Janeiro em 1824, em torno do processo que envolveu a reclamação dos proprietários da embarcação Pombinha, que fora aprisionada por Lorde Cochrane no Maranhão em 1823, ao considerá-la como “boa presa”, declaração emanada de um tribunal em consequência da qual a propriedade de um navio se transfere para o captor desde a captura.

Dessa forma, busca-se estabelecer um diálogo entre as narrativas adotadas pelos jornais que, direta ou indiretamente, participaram do debate político sobre o “apresamento” — termo náutico que quer dizer captura de navio de guerra ou mercante — daquela embarcação, com as questões legais sustentadas na legislação do Império do Brasil que tratava sobre os processos em torno da política de “boas presas”.

DCom: Qual é a duração da pesquisa?

RC: A pesquisa tem duração de 12 meses, de 14 de janeiro de 2021 a 14 de janeiro de 2022.

DCom: Como você se interessou neste assunto? Já havia pesquisado algo parecido antes?

RC: Em minha tese de doutorado, tomando por base o acervo documental e a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, analisei muitos jornais e folhetos que circularam no Maranhão e no Rio de Janeiro entre 1823 e 1828. Na ocasião, o material pesquisado serviu a uma discussão mais ampla sobre a Independência no Maranhão e aos impactos imediatos do pós-adesão. Ali, iniciei o levantamento e a discussão sobre bens e propriedades de portugueses que habitavam o Maranhão no contexto da independência do Brasil.

Agora, nesta pesquisa, com um olhar mais direcionado ao caso dos sequestros de bens, em especial às disputas em torno da Pombinha, os jornais do Rio de Janeiro – A Estrela Brasileira, Semanário Mercantil e Diário do Rio de Janeiro — e os outros documentos escritos ou manuscritos que versam sobre o tema serão vistos numa perspectiva que envolva de maneira mais enfática os aspectos legais da reclamação de Cochrane, ao que ele considerava seu direito às “boas presas”, e o direito à propriedade de cidadãos cuja identidade nacional ainda estava por ser definida. Acredito que, no âmbito desta pesquisa, será possível articular as discussões sobre a política de apresamento adotada por Cochrane com a controversa questão da definição da cidadania brasileira. 

DCom: A pesquisa é feita de forma remota, no acervo digital da Biblioteca Nacional, ou foi feita alguma visita no local?

RC: De antemão, vale ressaltar que esta pesquisa, não obstante esteja localizada no mesmo tempo e espaço sobre os quais dediquei boa parte de meus esforços acadêmicos, como no doutorado, por exemplo, é completamente constituída de uma discussão inteiramente nova. Dito isso, destaco que a pesquisa tem como ponto partida a catalogação, leitura e análise das edições dos Jornais A Estrela Brasileira, Semanário Mercantil e Diário do Rio de Janeiro, que, no ano de 1824 estiveram envolvidas com a questão da embarcação Pombinha. Essas edições estão disponíveis na plataforma da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Tanto esse material quanto o acervo referente ao Arquivo Histórico Ultramarino, que compõe o Projeto Resgate do Barão do Rio Branco, que também está disponível no sítio da Biblioteca Nacional, estão sendo acessados remotamente.

Por outro lado, no decorrer da pesquisa também tenho acesso a um banco de informações que eu mesmo coletei em outros momentos da minha vida acadêmica no acervo da Biblioteca Nacional, como extratos da seção de manuscritos ou mesmo da seção de obras raras, que cataloguei à época do doutorado na UERJ, quando ia quase todos os dias pesquisar na Biblioteca Nacional.

Por: Carlos Marques

Produção: Marcos Paulo Albuquerque

Revisão: Jáder Cavalcante

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