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Discurso do reitor Natalino Salgado na celebração de 40 anos da UFMA em Pinheiro

publicado: 26/11/2021 11h06, última modificação: 26/11/2021 12h34

Aprouve a Deus que aqui hoje estivéssemos nos campos agradáveis da Baixada Maranhense para celebrar as quatro exitosas décadas da Universidade Federal do Maranhão neste solo tão gentil e hospitaleiro.

Os anos que já nos separam do tímido início de nossas ações são provas vivas da recompensa ao esforço humano dedicado, sério e comprometido com a educação pública gratuita e de qualidade. Ainda no agora longínquo 1978, Pinheiro havia sido escolhida no programa de interiorização da UFMA e para cá uma comissão foi enviada para prospectar a região e sondar as necessidades. Essa visita culminou com a realização do seminário “Barragem do Pericumã: presente e futuro”, com a oferta de cursos de curta duração.

Iniciados os trabalhos de construção da estrutura física do Câmpus V, no bairro da Enseada, já quase no final dos anos 80, as instalações foram inauguradas. Logo após, em 1981, o primeiro curso de graduação presencial, a licenciatura em Letras, passou a ser oferecido.

Rica e exuberante por sua própria natureza, a Baixada passou a exigir de nós mais atenção e dedicação; afinal, reúne o maior conjunto de bacias lacustres do Nordeste. A transição entre o cerrado e a floresta amazônica criou um lugar único de campos dominados pelas águas, particularmente no período chuvoso. Naturalmente, a cidade de Pinheiro despontava na região a atrair inúmeros investimentos na área do comércio, turismo e dos serviços. Mas, infelizmente, esse crescimento ainda não impedia que pais e filhos vivessem o drama da inevitável separação, quando da necessidade destes terem que rumar para outras plagas e, assim, conquistar a tão almejada formação universitária.

Sensível e atenta a essa realidade, nossa Universidade tratou de expandir sua área de atuação: foram implantados os cursos de Artes Visuais e Teatro na modalidade a distância e a especialização em Ciências Ambientais e Metodologia do Ensino da Geografia, em 2008.
O Câmpus percorreu um tempo sem esperança, sem curso de graduação regular, sem professor, sem alunos, ou seja, sem vida acadêmica. A história só veio mudar em novembro de 2007, quando aprovamos a adesão da UFMA ao REUNI, quando mais dois cursos interdisciplinares foram implantados, Ciências Humanas e Ciências Naturais, que iniciaram as suas atividades, em 2010, na nossa gestão. Já em 2013 — quando nossas atividades acadêmicas e administrativas haviam sido transferidas, no ano anterior, do prédio da Prainha para as modernas instalações na Enseada — outra grande alegria foi comemorada: a criação de três novos cursos de graduação: Enfermagem, Engenharia de Pesca e Medicina — este último cumprindo a meta do Governo Federal de interiorização dos cursos de medicina, quando a UFMA conseguiu implantar também o curso de Medicina em Imperatriz. As aulas tiveram início em 2014, quando conseguimos a aprovação de mais um curso, desta vez de Licenciatura em Educação Física.

Tanta expansão e evolução mereciam maior engrandecimento. E, em 2015, ainda na nossa gestão, este Câmpus foi elevado à condição de Unidade Acadêmica, de acordo com a Resolução nº 239, do Conselho Superior Universitário (Consun), passando a ser denominado Centro de Ciências Humanas, Naturais, Saúde e Tecnologia (CCHNST) e, atualmente, oferta os cursos de Licenciatura em Ciências Humanas-Filosofia, Licenciatura em Ciências Humanas-História, Licenciatura em Ciências Naturais-Biologia, Educação Física, Enfermagem, Engenharia de Pesca e Medicina, num feito que é inédito, quando olhamos para a realidade educacional de nosso estado. Lembremos ainda, a título de fazer jus ao plano de expansão da UFMA, em nosso projeto deliberado de interiorização para o desenvolvimento, da criação do polo em Cururupu, pois se faz mister registrar e resgatar que quanto fizemos e no tempo recorde em que fizemos, tornou-se possível porque se norteou pelo princípio básico de criação de toda obra, o amor e, em nosso caso específico, o amor à educação, empenhando o melhor de nós na construção e edificação do conjunto, não da parte isolada, somando requisitos e infraestrutura como base para a inserção do ser humano num meio capaz de ter estrutura confiável e compatível com a dignidade dos docentes e discentes, para que houvesse o salto para o desenvolvimento, configurado na integração campo e cidade. Essa é a meta, a preocupação com a evolução cognitiva do ser humano sem arrancá-lo de suas raízes, concomitantemente oferecendo-lhe condições de sonhar mais alto com perspectivas e possibilidades que o conhecimento superior pode oferecer, como fator único de inserção e transformação do ser em comunidade, em compartilhamento e realização, num ambiente saudável que congregue universidade e família.

Senhoras e senhores,

Cá estamos neste ano ainda pandêmico. Quarenta anos é uma efeméride que, na vida de uma pessoa, se traduz no alcance de uma jovem maturidade, de uma espécie de meio do caminho, em que o balanço dos saldos positivos e negativos é colocado sobre a mesa da vida. A poetisa Adélia Prado, num lampejo de criatividade, descreveu a data da seguinte forma: “Vinte anos mais vinte é o que tenho (...) Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome”.

Mais do que os instrumentos, a motivação. Mais do que as respostas, as indagações que impulsionam a busca. Esse é o espírito que não nos permite acomodarmo-nos com o que já foi conquistado. Somos hoje a antevisão daqueles que olharam para o futuro e acreditaram na expansão e consolidação do sonho universitário aqui em Pinheiro. Somos a realização do sonho de milhares de famílias — sim, porque considero a conquista do diploma universitário um ideal coletivo, pois para cada formado e formada estão juntos no coração de pelo menos mais uma pessoa — e somos ainda a esperança dos meninos e das meninas que olham para cá e acalentam na alma o desejo de aqui também um dia ingressarem. São desse amálgama de passado, presente e futuro os tijolos imaginários que erguem esse lugar, encimados pela fé na ciência, na pesquisa, no ensino e na extensão.

Acima de tudo, o sentimento de dever que se cumpre, nesta hora, é o de gratidão, a verdadeira memória do coração, no dizer de Santo Agostinho. Se cometemos erros, estes já se encontram esmaecidos no tempo e foram fundamentais para o acerto que perseguíamos com afinco. Superamos. Como lembra Boaventura Souza dos Santos, em vez da eternidade, temos a história; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução. A necessidade de expandir com qualidade é nosso ideal. Outros poderão realizar o que um dia apenas sonhamos, mas cabe a nós, no agora, fincarmos as bases do edifício.
Lembro o personagem bíblico Moisés, que, após vencer o hercúleo desafio de derrotar o faraó e lhe arrancar o chicote da escravidão do povo hebreu, ainda se deparou com a necessária travessia do Mar Vermelho e a difícil jornada no deserto. Para cada etapa, uma disposição; para cada empreendimento, o bafejo da responsabilidade com a causa abraçada. Não saberia precisar em qual estágio nos encontramos. Mas creio que, assim como as dificuldades ultrapassadas nos permitiram chegar até este 2021, as forças se renovarão para outros quarenta anos serem celebrados neste tempo saturado de agoras, como disse Walter Benjamin.

Aos professores, técnicos, servidores e alunos aqui do Câmpus de Pinheiro, meus agradecimentos pelo empenho já demonstrado. Às autoridades, aos familiares e convidados aqui presentes, meu muito obrigado por se irmanarem na realização deste grande sonho.

O Câmpus de Pinheiro se engrandecerá ainda mais: é natural de sua vocação. Celeiro de excelência, daqui novas pesquisas, estudos e descobertas orgulharão ainda mais sua história, e o nome deste lugar há de pontuar os melhores referenciais da história das universidades de ponta. Esses são meus votos, embrulhados pelo carinho que cultivo com esta região, onde eu nasci, ali em Cururupu, região litoral, a nossa Terra Santa, de cuja paixão me alimento e sobre ela propalo, onde quer que eu esteja. E Pinheiro é uma extensão desse amor, dessa necessidade natural de dívida de coração, dessa paixão, sem a qual não teríamos realizado quanto acalentamos e sonhamos, em verdade.
Por fim, agradeço o trabalho do ex-diretor do CCHNST, Rickley Marques, que muito se empenhou para o desenvolvimento do Centro, e do atual diretor, Alexandre Fonseca, que faz uma gestão dinâmica, inovadora e à altura da importância que a UFMA representa para Pinheiro e a região da Baixada.

 

Natalino Salgado Filho
Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina.

 

Revisão: Jáder Cavalcante

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