Alunos do Centro de Ciências de São Bernardo desenvolvem pesquisa para tratamento da COVID-19

“Molecular Docking and ADME-TOX Profiling of Moringa Oleifera Constituents Against SARS-CoV-2” é o nome dado à pesquisa desenvolvida por alunos de graduação, mestrado e doutorado do Curso de Licenciatura em Ciências Naturais – Química, do Centro de Ciências de São Bernardo (CCSB), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Durante quase dois anos, o estudo orientado pelo docente do curso Jefferson Almeida Rocha abordou a análise in silico da docagem molecular e ADMET dos compostos da Moringa Oleifera (Acácia-Branca) contra os alvos moleculares do SARS-COV-2, assumindo uma relevância significativa na busca por tratamentos potenciais para a covid-19.

A docagem molecular prevê a afinidade e eficácia desses compostos ao ligarem-se às proteínas virais, enquanto a análise ADMET avalia aspectos críticos, como absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade do composto. O objetivo foi identificar moléculas capazes de inibir a replicação viral, contribuindo para estratégias terapêuticas contra a doença. O grupo entende que o foco não se restringe apenas à compreensão da interação molecular, mas também à avaliação da farmacocinética, proporcionando uma visão abrangente para o desenvolvimento de alternativas de combate.

O professor Jefferson Almeida, que também é líder do grupo de pesquisa em Química Medicinal e Biotecnologia (Quimebio), afirmou que o grupo de pesquisa foi formado no início do ano de 2020, às vésperas da pandemia. Com quase 10 Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), diversos alunos que se debruçaram sobre o desafio de identificar novas moléculas que têm ação conta a covid-19. “O interesse do estudo foi justamente por causa da situação que vivíamos, queríamos poder contribuir com a ciência e ajudar o nosso estado a encontrar algo na nossa biodiversidade que pudesse combater a doença. Foi isso o que nos motivou”, explicou Almeida.

Quanto ao processo do trabalho — objetivos, conquistas e dificuldades — o orientador sinalizou que a flora maranhense contribuiu imensamente, permitindo que eles pudessem avaliar plantas que contassem com constituinte químicos com potencial de agirem contra a covid. “O trabalho todo foi realizado dentro do laboratório do Quimebio, em São Bernardo, utilizando softwares computacionais, por meio da bioinformática, em que pudéssemos interagir essas moléculas com as proteínas da doença, em especial a proteína Spike, que age na entrada do vírus”, disse.

Apesar dos grandes avanços, os anos de 2020 e 2021, auges da pandemia, foi difícil para os pesquisadores. Segundo Jefferson, durante o período de lockdown, diversas pausas foram feitas, o que dificultou em partes do andamento da pesquisa. Contudo os alunos continuaram se reunindo dentro do laboratório, evitando que a pesquisa se estagnasse. “Todo dia a quantidade de mortes por covid era atualizada, mas continuamos trabalhando, não paramos nem um minuto sequer. Tiro o chapéu para os alunos. Eles foram os reais protagonistas desse enfretamento”, afirmou.

Todas as experiências adquiridas durante o processo contribuíram bastante para a formação dos alunos. Segundo o orientador, os próprios estudantes estão organizando a publicação dos artigos, o que é um passo fundamental para contribuir suas entradas nas pós-graduações e mestrados, ainda mais considerando as poucas oportunidades disponíveis em municípios do interior, fazendo com que os discentes sejam mais exigidos e precisem alcançar alguns benefícios, como as bolsas de pesquisa. A colaboração científica desses alunos é essencial, visto que, no futuro, atuarão como professores, pesquisadores e intelectuais que vão alavancar a educação do estado.

De acordo com a aluna Hellen Souza, a experiência agregou diversos saberes novos a todos os envolvidos: "Participar ativamente desta pesquisa foi uma oportunidade única e enriquecedora para direcionar meu conhecimento científico a um propósito significativo. Ao longo do estudo, estive envolvida na análise da interação molecular entre os compostos da Moringa Oleifera e alvos moleculares cruciais do SARS-COV-2. A aplicação da docagem molecular proporcionou uma visão detalhada de como essas moléculas podem interferir nas funções vitais do vírus, potencialmente inibindo sua replicação no organismo humano. A análise ADMET foi fundamental para entender o processamento desses compostos. Minha participação nesta pesquisa foi marcada por uma responsabilidade científica, ciente de que nossas descobertas podem contribuir para o desenvolvimento de tratamentos eficazes contra a covid-19".

Os próximos passos do estudo consistem em selecionar as plantas, sintetizar suas moléculas, isolá-las em laboratório e realizar o teste in vitro, o que representa a parte experimental do processo.  Caso os alunos ingressem no mestrado, a pesquisa será continuada em nível mais aprofundado e elaborado, avançando até chegar ao fármaco final, decorrentes em patentes e divulgação de um novo método para o tratamento da doença.

Em recado final, Jefferson Almeida comentou, em tom de incentivo: “Desejo que nossos alunos continuem publicando trabalhos, principalmente os alunos de graduação, que têm muita dificuldade em produzir trabalhos de alto impacto. Muitas vezes, eles não têm a experiência necessária, precisam trabalhar, estudar, e não têm muitas experiências. Mas peço que os alunos de graduação tentem participar mais dos projetos de iniciação científica, pois isso vai proporcionar a eles uma chance maior de ingressar na Pós-Graduação, fazer um mestrado, um doutorado e, futuramente, voltar para as universidades como professores do Ensino Superior. É o que nós mais desejamos para os nossos discentes, que eles possam futuramente revolucionar a educação do estado do Maranhão”, finalizou.

Confira a lista dos integrantes da pesquisa:

Hellen Cris Araújo Souza (Graduação)

Maycon Douglas Araújo Souza (Graduação)

Cássio Silva Sousa (Graduação)

Edilanne Katrine Amparo Viana (Graduação)

Sabrina Kelly Silva Alves (Graduação)

Alex Oliveira Marques (Graduação)

Arthur Serejo Neves Ribeiro (Mestrado)

Vanessa de Sousa do Vale (Mestrado)

Marcelo da Costa Mota (Mestrado)

Muhammad Torequl Islam (Doutorado)

João Antônio Leal de Miranda (Doutorado)

Jefferson Almeida Rocha (Doutorado)

Por: Júlio César

Produção: Bruna Castro

Revisão: Jáder Cavalcante