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“Tudo que faz parte do presente tem um enraizamento histórico”. Dia Nacional do Historiador é comemorado nesta sexta-feira

publicado: 19/08/2022 17h03, última modificação: 20/08/2022 11h55
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Aliar as narrativas entre o passado e a atualidade, os estudos dos processos históricos, a seleção dos documentos, dos fatos e das fontes, o que deve ser esquecido e o que permanece: essas são algumas das atividades que cercam o trabalho dos historiadores e historiadoras. Em homenagem a esses profissionais, hoje se comemora o “Dia Nacional do Historiador”, oficializado em 2009, pela Lei nº 12.130. A data foi escolhida em tributo ao nascimento de Joaquim Nabuco (1849-1910), historiador, jurista, político, diplomata, abolicionista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Em comemoração à data, a Diretoria de Comunicação da UFMA conversou com o historiador e professor do Centro de Ciências de Codó (CCCo) Alexandre Cardoso, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Social dos Sertões (Nephsertões) da UFMA.

Para Cardoso, os historiadores têm um papel desafiador de lembrar aspectos do passado que muitas vezes são incômodos a quem vive no tempo presente. “Esse jogo entre a lembrança e o esquecimento está na ordem do dia de todos os historiadores. Ao passo que o historiador tem o papel de lembrar aquilo que a sociedade quer esquecer, ele também tem o papel de observar como esses movimentos da memória e os interesses do passado, que é disputado, devem ser lidos criticamente. A história deve ser pública, ela é de todos e de todas, agora a forma como se reconstitui o passado, observada com base nas fontes, em uma leitura acurada, aí sim, passa pelo historiador, e é uma matéria científica e acadêmica”, pontuou.

O professor aponta que a história não está presa ao passado, pois o futuro de quem conhece os seus ancestrais pode ser um futuro que vai entender os dilemas enfrentados no passado e que continuam se produzindo no presente, bem como possibilita entender as formações e referências culturais, os pensamentos, credos que formam o ser humano.

“O Brasil é um país extremamente desigual, do ponto de vista econômico, de gênero, de vários prismas, e, para entendermos as raízes dessa desigualdade, precisamos estudar o nosso passado. Por exemplo, no interior do Maranhão, com a sua escravidão extremamente arraigada aqui na área de Codó, você tem uma grande parcela da população negra egressa dessa época em que o Maranhão era dominado por relações escravistas, e os ecos do passado em que a população lutou contra, aguerridamente, ainda se fazem sentir hoje”, explanou.

No ofício dos historiadores, os registros são matéria-prima para a produção do conhecimento histórico, para se entender o passado e as mudanças ocorridas com o passar do tempo. Dessa forma, Alexandre destaca que a preservação dos acervos que guardam as memórias é fundamental.

“O tempo tem o poder de dissolver não só as coisas materiais, mas também as formas de entendimento das relações sociais. Então, se a gente não mantiver bem os nossos arquivos, diminuiremos as possibilidades de que as gerações futuras tenham acesso a um entendimento de como a gente vivia. Ter uma boa política pública de conservação dos acervos históricos, tanto dos arquivos públicos, como dos seus materiais físicos, aqueles produzidos em nível oficial, e que podem ser digitalizados, aumenta o alcance da possibilidade de pesquisa”, detalha.

Sobre a formação de novos profissionais na área, o professor enfatiza que no interior do Maranhão, a UFMA, com as licenciaturas, tem contribuído na formação de novos docentes para a Educação Básica. “No leste maranhense, essa área dos Cocais está recebendo uma contribuição imensa da UFMA com a formação de professores que vão atuar na Educação Básica, formando as crianças e os adolescentes em várias escolas rurais e da cidade, que antigamente não tinham acesso a esses profissionais formados nos câmpus do continente. Então, formar esses professores é fundamental para a manutenção da democracia. Nós precisamos ter um povo com acesso à educação de qualidade, e a UFMA tem se esforçado para que esse objetivo seja alcançado”, alertou Cardoso.

Para os novos estudantes dessa área do conhecimento, o historiador aponta a importância do engajamento com os projetos da Universidade. “Mergulhe nas leituras da história, observe com atenção os ecos que estão no presente e que fazem parte do nosso cotidiano, por exemplo, na linguagem e na cultura popular. Tudo é história! Tudo que faz parte do presente tem um enraizamento histórico. O estudante que é atento a tudo isso, de saber sobre tudo isso, com certeza terá muito êxito no curso de História e nas Ciências Humanas”, completou.

Nephsertões

Alinhado ao estudo crítico da história e sobre conhecer a própria realidade e o espaço social, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Social dos Sertões (Nephsertões) da UFMA, CCCo, vem realizando estudos sobre a pluralidade de sentidos da ideia de Sertão ao longo do tempo; a escravidão no Maranhão no século XIX, as populações subalternas e marginalizadas. Criado em 2019, o Núcleo desenvolve seus trabalhos, principalmente, na Região dos Cocais.

O grupo também dialoga com pesquisadores de São Luís e da Região Amazônica. Atualmente, são desenvolvidos quatro projetos, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). Entre as pesquisas, está um inventário analítico baseado nos relatórios de presidente da província do Maranhão no século XIX. “Uma técnica de observação que analisa, com base em documentos oficiais, detalhes que vão para além do discurso político, fazendo também o mapeamento da presença de indígenas, de populações negras escravizadas e imigrantes nos relatórios de presidentes de província”, explica Alexandre.

Entre as contribuições do grupo, o professor destaca o livro “Geminiana e seus filhos: escravidão e morte; maternidade e infância", produzido em parceria com a professora Maria Helena Machado, da Universidade de São Paulo, que trata desse caso, que é mais conhecido como "Crime da Baronesa de Grajaú". Parte das pesquisas de arquivos e diálogos passaram pelo Nephsertões. O livro, que já foi encaminhado para a editora, será publicado em breve.

Saiba +

Há 70 anos, foi criado o primeiro curso de História e Geografia da Faculdade de Filosofia de São Luís, e, posteriormente, integrou a Universidade Federal do Maranhão. Na época, o curso de graduação unia as duas áreas.

Criado em 1952 e tendo suas atividades iniciadas no primeiro semestre de 1953, o curso fazia parte da expansão das graduações no estado e tinha por objetivo a formação de docentes para o ensino na Educação Básica. No mesmo período, foram criados, na Faculdade de Filosofia, os cursos de Pedagogia, Letras Neolatinas e Filosofia.

A partir de 1963, começaram a ser projetadas mudanças importantes na estrutura curricular vigente. Esse processo culminou, em 1966, com a separação dos dois cursos, e nasciam os cursos de História e de Geografia. Atualmente, na UFMA, é oferecido curso de licenciatura em História, além de programas de mestrado e doutorado.

Em 17 de agosto de 2020, foi promulgada a lei que regulamenta a profissão do historiador. O profissional pode atuar no âmbito da educação, como professor, das pesquisas sobre processos históricos, em instituições de arquivos, memória, museus e investigações arqueológicas, entre outras áreas.

Por: Alan Veras

Produção: Bruna Castro

Revisao: Jáder Cavalcante

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