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O Professor e a Sala de Aula Virtual: as novas relações no ensino
A educação a distância (EaD) já é uma realidade consolidada no mundo atual e trouxe transformações no processo de ensino-aprendizagem que ainda estão em debate. Uma delas diz respeito ao novo papel exigido do docente. A antiga posição de um professor que se considerava o centro do saber e de alunos que recebiam o conteúdo passivamente não funciona mais. Com a facilidade de acesso à informação, talvez o maior desafio para o professor de EaD (e também para o do ensino presencial) seja auxiliar a pensar e selecionar o montante de informação disponível. “Hoje, o professor interage com os alunos e ambos são emissores e receptores, estabelecendo uma relação de troca, de cooperação, de construção em comum”, afirma Liane Tarouco, no artigo “O professor e os alunos como protagonistas na educação aberta e a distância mediada por computador”.
Embora essa nova função do professor como mediador já tenha sido problematizada pelos pedagogos, antes mesmo da expansão da EaD, foi essa nova modalidade de ensino que a reforçou, segundo Denise Lima e Abreu, coordenadora da Universidade Aberta do Brasil na Universidade Federal de São Carlos (UAB-UFSCar). “Com o ensino a distância, torna-se necessária a constante interação entre professores junto aos estudantes, principalmente motivando-os a vencer os obstáculos naturais referentes ao processo de se aprender de forma assíncrona”, ressalta.
Uma das grandes novidades da EaD é o fato do trabalho depender de vários profissionais. Daniel Mill, professor adjunto da UFSCar e especialista em estudos de gestão estratégica em EaD, e Fernando Fidalgo, diretor do Centro de Apoio à EaD da Universidade Federal de Minas Gerais, nomeiam esse processo de polidocência, no artigo Sobre tutoria virtual na educação a distância: caracterizando o teletrabalho docente. “Na educação a distância, não há a opção de um único profissional realizar toda a ‘aula’ porque, via de regra, a quantidade de alunos ou a complexidade do processo de trabalho impossibilita a ‘unidocência", afirmam.
Segundo Mill e Fidalgo, o tutor que atua nos encontros presenciais com os alunos é o tutor presencial, e o que os acompanha à distância, tendo seu trabalho mediado pelas tecnologias de informação e comunicação, é o tutor virtual. Além dos tutores, a estrutura dos profissionais de um curso de EaD envolve os programadores, gestores, coordenadores do curso, professores autores do material didático e coordenadores de tutores. Segundo Lima e Abreu, o coordenador de tutoria, que realiza a intermediação entre professores-autores, gestores e tutores, é essencial no processo de gestão da EaD para garantia da qualidade no processo de ensino-aprendizagem.
“O SEGREDO DE UM CURSO A DISTÂNCIA É A ATUAÇÃO DO TUTOR”
A capacidade de interação, a clareza na explicação das tarefas, a animação dos debates da disciplina e até mesmo a assistência emocional aos educandos são qualidades descritas como relevantes para a atuação do tutor virtual, que é peça-chave para o bom funcionamento do curso a distância. “Sempre penso que o segredo de um curso é a atuação do tutor, pois ele é capaz de potencializar os conteúdos e propostas de atividades. O inverso também ocorre: ser capaz de minar um material que poderia gerar novos conhecimentos e grandes descobertas por parte dos cursistas”, afirma Freitas Neto, professor da Unicamp.
Para Lima e Abreu, de todas as habilidades exigidas de um tutor virtual, a mais relevante é saber trabalhar em equipe. “Ele deve ter facilidade em gerenciar grupos. Pensar no coletivo e estar sintonizado com as necessidades dos estudantes. Com certeza, a maior diferença entre as duas modalidades (presencial e a distância), entre todas que poderíamos citar, é a de saber trabalhar em equipe”, afirmam.
MUDANÇA NO PAPEL DO ALUNO
Na relação professor-aluno em EaD, não é apenas o papel do professor/tutor que muda, mas também o do aluno/cursista. “Ele tem maior autonomia, logo necessita ter maior responsabilidade para organizar seu tempo, a execução de suas atividades e a desinibição no ambiente virtual”, afirma Freitas Neto.
Dentre as dificuldades gerais dos cursistas de EaD estão a pouca experiência no mundo virtual e o excesso de postagens nas discussões promovidas nos fóruns, que podem resultar na perda do sentido do debate, aponta Adolfo Tanzi, especialista em produção e gestão de material didático para EaD.
O plágio é outro problema recorrente, facilitado pelas tecnologias de informação e comunicação. No entanto, observa-se que ele não é exclusivo dessa modalidade de ensino a distância. Uma saída para essa dificuldade está em trabalhar com os alunos a importância da ética nos trabalhos acadêmicos.
As transformações produzidas pela EaD no processo de ensino-aprendizagem exigem ainda pesquisas na área para melhor compreensão dessas mudanças. “Temos muito que caminhar. Teremos que quebrar muitos tabus de como esses cursos estão estruturados hoje e entender que a aprendizagem nos meios digitais se dá de forma diferente. A simples transposição didática do meio presencial para o digital não é suficiente”, conclui Tanzi.
Por: Marcela Marrafon de Oliveira
Fonte: http://www.comciencia.br
Última alteração em: 20/11/2012 14:49