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Dia do Psicólogo: a importância desse profissional na Atenção Primária à Saúde
Neste sábado, 27, foi comemorado o Dia do Psicólogo e a UNA-SUS-UFMA não podia deixar essa data passar em branco. O profissional da Psicologia se dedica ao tratamento de transtornos e doenças que afetam a saúde mental, tais como a depressão e a Síndrome de Burnout, realiza o acompanhamento psicológico, que promove o autoconhecimento e a melhor gestão de emoções. Porém, os psicólogos também são importantes para a promoção da saúde de uma forma mais ampla.
Com a crescente compreensão de que o conceito de saúde engloba o trabalho para melhorar a qualidade de vida e não apenas o tratamento de doenças, a psicologia assume um papel de destaque na Atenção Primária à Saúde (APS). Para desmistificar a atuação da Psicologia nesse contexto, a UNA-SUS-UFMA conversou com três especialistas: Carlos Magno Lima, psicólogo Residente em Atenção à Saúde Cardiovascular (HU-UFMA); Renata Bezerra da Silva, psicóloga Residente em Atenção à Saúde Cardiovascular (HU-UFMA), pós-graduanda em Psicologia Hospitalar, com interesse nas áreas de cardiologia e comunicação clínica; e a professora Dra. Christiana Salgado, docente do Departamento de Medicina I na UFMA, colaboradora em Saúde Mental da OPAS/OMS, com áreas de sua atuação na Psicologia da Saúde e Hospitalar e Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde.
Com um catálogo com mais de 30 cursos, a UNA-SUS-UFMA, coordenada pela Diretoria de Tecnologias na Educação (DTED), frisa a importância da humanização do atendimento na Atenção Básica, pois ela é considerada o primeiro nível de contato do usuário com o SUS, garantindo à população uma atenção à saúde de qualidade. Confira a entrevista:
( Prof. Dra. Christiana Salgado, psicóloga Renata Bezerra da Silva e o psicólogo Carlos Magno Lima)
O papel da psicologia na APS
UNA-SUS-UFMA: Que papel a psicologia assume na atenção à saúde?
Carlos Magno Lima: A psicologia tem como finalidade primordial, no contexto da saúde, compreender, através de intervenções psicológicas, como é possível contribuir para a melhoria do bem-estar dos indivíduos e das comunidades às quais estão inseridos. Atuando desde a prevenção aos transtornos mentais comuns; até ao acolhimento aos indivíduos em situação de emergência psicológica.
UNA-SUS-UFMA: Cada vez mais se discute a relevância multiprofissional no campo da saúde. Na sua perspectiva, como a psicologia agrega nessas ações?
Carlos Magno Lima: Atualmente, dentro dos mais diversos dispositivos de saúde existe o imperativo do trabalho multiprofissional; favorecendo a compreensão holística do sujeito. O psicólogo atua, então, como mediador do processo de observação de fatores psicossociais e suas repercussões no estado emocional do usuário do sistema de saúde; além de facilitar a comunicação entre paciente, família e equipe de saúde, buscando fomentar o bem-estar biopsicossocioespiritual e ambiental da população assistida.
Atuação interdisciplinar
UNA-SUS-UFMA: Quais as possibilidades de intervenção da psicologia no campo da saúde pública?
Renata Bezerra da Silva: A atuação da psicologia na Saúde é bastante ampla, abarcando a análise do sistema público e privado quanto às políticas de saúde para recuperação, prevenção e promoção de saúde para aqueles que por estes são atendidos, em níveis primários, secundários ou terciários de atenção à saúde, seja nos processos jurídicos, sociais ou civis, dado o seu potencial para o bem-estar individual e da comunidade. Nesse sentido, atuamos na compreensão de que na saúde pública existem diversos sujeitos em diversos contextos e que cada um deve ser visto como único, com suas identidades. Trata-se de uma prática interdisciplinar que visa amenizar o sofrimento da população e superar situações adversas.
UNA-SUS-UFMA: De que forma deve ser realizado esse trabalho na prática?
Renata Bezerra da Silva: Para possibilitar esse trabalho, o psicólogo deve ampliar seus conhecimentos e intervenções com as famílias, privilegiar a atuação com grupos e permitir que sua conduta profissional tenha um caráter coletivo, integrando as equipes multiprofissionais. Dentre as intervenções possíveis no contexto da saúde destacam-se: avaliação psicológica; exame psíquico; potencialização dos recursos de enfrentamento (intrínsecos e extrínsecos); observação das manifestações psíquicas e comportamentais. Além da realização de apoio matricial às demais equipes.
Covid-19 e Saúde mental
UNA-SUS-UFMA: De acordo com a sua expertise como coordenadora dos cursos da área de saúde mental, quais os impactos que a pandemia teve na gestão da saúde mental da população?
Christiana Salgado: A covid-19, como uma emergência em saúde pública de importância internacional, hoje pode também ser classificada também como uma sindemia, em razão do impacto para além da sua linha de cuidado, repercutindo na acessibilidade ao cuidado para outras doenças e contribuindo para a carga excessiva de problemas de saúde da população. Estima-se que, de 1/3, a metade da população pode sofrer alguma manifestação do tipo psicopatológica em decorrência de eventos como a de Covid-19.
UNA-SUS-UFMA: Qual foi o contexto do atendimento psicológico nesse período?
Christiana Salgado: Uma pesquisa multicêntrica da OMS revelou que o aumento na demanda de saúde mental relaciona-se aos seguintes fatores: o isolamento social, o medo do contágio, as perdas, incluindo a perda de familiares, perda do emprego e renda e inseguranças em relação ao futuro.
Os atendimentos em saúde mental durante a pandemia tiveram interrupções parciais e totais em pelo menos 75%. Constata-se uma demanda de problemas que não apenas ficou reprimida, como também impossibilitada de obter atendimento em saúde mental. Isso significa que os indivíduos que já faziam tratamento tiveram o seu plano terapêutico prejudicado, enquanto os que nunca haviam procurado assistência relacionada à saúde mental não encontraram apoio. Esse efeito percebido no mundo também foi notado no Brasil.
UNA-SUS-UFMA: Hoje, qual perspectiva de atuação do profissional em psicologia na pós-pandemia?
Christiana Salgado: Atualmente, precisamos realizar um cuidado em rede, organizar nossos fluxos de trabalho para acolher a demanda de cuidado em saúde mental que não pôde ser realizada e a demanda proveniente das sequelas da covid-19. O foco é atuar na recuperação, reconstrução e reabilitação, considerando também o trabalho da prevenção, mitigação e preparação para uma eventual nova crise, desastre ou emergência em saúde pública.