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Conheça a dinâmica das pesquisas que foram mantidas durante a pandemia nos Câmpus do Interior

publicado: 20/05/2020 09h00, última modificação: 20/05/2020 18h01

Cerca de três meses após a chegada da Covid-19 ao Brasil, a qual já deixou quase 18 mil mortos no país, muitas medidas foram tomadas pelas autoridades em todo o território nacional. O isolamento social — medida que visa à diminuição do fluxo de pessoas e consequentemente a redução da circulação do vírus — e a superlotação dos hospitais se tornaram uma realidade na vida dos brasileiros desde março deste ano.

Em contrapartida, as universidades mantiveram uma de suas funções regimentais de grande importância, que é o ramo da pesquisa. Desse modo, a UFMA conta com uma série de docentes e discentes comprometidos em agregar na sociedade e contribuir com o ensino nas diversas áreas, como a saúde, tecnologia, sustentabilidade, agronomia, comunicação, entre outros.

Diante de diversos desafios, principalmente os que surgiram nesta pandemia, as equipes envolvidas nas pesquisas buscam cumprir seu papel respeitando as medidas de isolamento e seguindo todos os procedimentos de higiene e segurança. Mostraremos aqui algumas linhas de pesquisas feitas nos câmpus da Universidade por todo o Maranhão.  Uma delas é voltada para a busca de remédios que já existem e estão disponíveis nas redes de farmácia, e que possam atuar concomitantemente para o tratamento da Covid-19.

Por que manter algumas pesquisas ativas no cenário atual do mundo?

O trabalho desenvolvido nas pesquisas serve de apoio para a sociedade, seja de forma direta, seja indireta, e sua área de atuação necessita de constante cuidado, como, por exemplo, a busca de fármacos efetivos contra a Covid-19 e o isolamento  de microalgas para otimizar a criação de ostras nas regiões norte e nordeste do Brasil. 

Saúde e tecnologia

O projeto geral, intitulado “Reposicionamento de fármacos com ação antiviral contra o novo coronavírus e a Covid-19”, coordenado pelo professor Jefferson Almeida Rocha, do Departamento de Licenciaturas em Ciências Naturais do Câmpus de São Bernardo, tem por objetivo encontrar medicamentos que possam ser eficazes contra a Covid-19 por meio de ferramentas computacionais por meio da bioinformática e química quântica, para interagir as proteínas componentes do novo coronavírus com  medicamentos que podem ser efetivos e, posteriormente, observar a ativação ou inibição deles.

Na visão do professor Jefferson Almeida, devido à pandemia que já causou mais de 250 mil mortes em todo o mundo, pesquisadores da área devem colaborar incessantemente com o conhecimento, a fim de encontrar novas drogas contra a doença. Por se tratar de um processo feito por computadores, por meio de softwares, para realizar experimentos e cálculos, as medidas de isolamento social não impediram a continuidade da pesquisa.

 

A equipe é formada por, além do coordenador do projeto, outros cinco estudantes dos Cursos de Ciências Naturais e Química, com a colaboração de mais seis professores de outras universidades. Além das contribuições na pesquisa, a equipe está trabalhando em colaboração com três projetos de enfrentamento da Covid-19, com a Universidade de São Paulo, Universidade Federal Delta do Parnaíba, Hospital Pequeno Príncipe e Gopalganj University, em Bangladesh.

O coordenador Jefferson contou sobre a experiência de contribuir com a pesquisa na universidade: “ A pesquisa precisa ser fortalecida e expandida dentro da universidade cada vez mais, pois é dentro desta instituição que estão as grandes mentes do mundo, e que essa pandemia possa nos mostrar a grande importância e o papel da universidade nas ações que podem transformar a vida das pessoas”.

Ciência, agronegócio e produção sustentável

O cultivo de ostras nas regiões Norte e Nordeste do Brasil é uma das diversas atividades geradoras de rendas locais, entretanto o rendimento dessas produções não apresenta resultados rentáveis sem o devido retorno financeiro ao produtor e sem a garantia da qualidade delas para consumo. E isso de modo a limitar produção ostreícola no que tange à separação das espécies de ostras e a obtenção de sementes de forma regular para suprir os cultivos de engorda.

Em virtude dessa problemática, o projeto de pesquisa “Bases tecnológicas para a produção sustentável de ostras nativas no Norte e Nordeste do Brasil: identificação, isolamento e bioprospecção de microalgas de interesse para a ostreicultura” trabalha para identificar, isolar e produzir microalgas de interesse para a ostreicultura, oferecendo suporte como o fornecimento de bases tecnológicas para a produção sustentável de ostras nativas.

 

A pesquisa é coordenada pela professora Yllana Marinho, do Departamento de Engenharia de Pesca do Câmpus de Pinheiro. Após as medidas de isolamento social, os participantes envolvidos no projeto foram liberados de suas atividades presenciais, como coleta de material para análise e pesquisas em laboratório, contudo a professora continua a Pesquisa em laboratório, seguindo todas as recomendações dadas pelo Ministério da Saúde.   

De acordo com ela, a decisão de manter a pesquisa ativa durante a quarentena deve-se à dificuldade para isolar as espécies de microalgas, por causa da longa duração do processo e da fragilidade das amostras. Ao todo, cinco estudantes e a coordenadora integram a equipe, nos trabalhos laboratoriais e de campo.

A professora Yllana contou sobre a rotina, os desafios e o que pensa do futuro. “Não está sendo fácil. Agora estamos ajustando nossas expectativas sobre os resultados pretendidos para este ano com o projeto, que precisam ser mais realistas diante do que estamos enfrentando, nos adaptando a este novo cenário. É hora de pensar em como seguir em frente e no que conseguimos fazer para o andamento do projeto em tempos de pandemia”, afirma.

Saindo do campo da aquicultura, chega-se ao Câmpus de Chapadinha e às produções de alimentos para animais e silagem de ração, atividades da base do negócio agropecuário que são responsáveis por sustentar a criação de animais e mantê-los saudáveis, bem como a boa forma e qualidade para consumo. Durante este período de crise mundial, o Brasil mantém suas produções, que, além de muito importantes, chegam a vários países mundo afora. Ligada a essas atividades, a professora Rosane Cláudia Rodrigues coordena dois projetos de pesquisa, intitulados “Otimização no uso de volumosos na forma de silagem e silagem de ração total” e “Produção de alimentos para os animais (ruminantes)”.

 

As duas linhas de pesquisa se baseiam na produção sustentável, que também busca fazer melhorias para maximizar a produção e minimizar os custos. Tendo o capim como produto base e outras espécies de gramíneas, coletadas e estudadas em laboratório, o processo de silagem, que é o corte de forragem verde e o armazenamento deste em ambiente sem presença de oxigênio, ganha sua importância por parte da conservação do material.

Ao falar sobre a necessidade de manter a pesquisa ativa, a coordenadora relatou que, assim como nós, os animais também precisam se alimentar, e as plantas precisam ser colhidas no tempo certo. Atualmente, a equipe que trabalha presencialmente foi reduzida e agora trabalha seguindo todas as recomendações de saúde e higiene, como o uso de máscaras, álcool em gel e luvas. Somando toda a equipe, 12 pessoas estão ligadas ao estudo, entre elas professores, técnicos, graduandos, mestrandos e doutorandos.

Em entrevista, a professora contou um pouco sobre o sentimento de prosseguir no projeto: “A angústia momentânea é inerente a quem nutre uma paixão pela pesquisa.

Visamos excelência na formação cognitiva dos graduandos e dos mestrandos na área de Ciências Agrárias, com o equilíbrio necessário entre a prática e a teoria”.

Comunicação e sociedade

“O primeiro projeto quer entender como é ser jornalista no interior do país. Muito se estuda na faculdade e se sonha com um padrão de jornalismo de grandes grupos, grandes veículos, mas a maioria dos alunos vai trabalhar em veículos menores, com dinâmicas, crises e rotinas distintas. Então é uma forma de pensar: que jornalismo é esse? o que ele agrega? que papel social promove?”. Essas foram as palavras da professora coordenadora Thaísa Bueno, do Câmpus Imperatriz, referentes ao projeto de pesquisa “Jornalismo e tecnologia — práticas redefinidas e identidades em cidades de interior”, voltado para o estudo de mercado de trabalho, levando em conta as rotinas, questões de gênero, crises e os modos de pensar e fazer o noticiário longe dos modelos dos grandes centros.

 

Além desta, outra pesquisa também coordenada por ela continua ativa, “Novos e velhos suportes — títulos, conteúdos convergentes e narrativas no jornalismo”, que estuda a narrativa jornalística na atualidade em diferentes mídias, bem como estratégias de construção de caça-cliques e outros fatores mercadológicos.

Os dois projetos são compostos por dois professores, três bolsistas do Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), três bolsistas do mestrado e quatro estudantes voluntários. Apesar dos processos da pesquisa ficarem mais lentos e com algumas limitações, como a conciliação entre o trabalho doméstico e o trabalho acadêmico, as reuniões de estudo seguem ativas por meio de videoconferências.

Em conclusão, a professora Thaísa contou sobre a sensação de trabalhar com a equipe e ajudar. “Fico muito feliz de poder manter a pesquisa, já que as aulas em geral não foram mantidas. É importante que a sociedade entenda que nosso trabalho é muito mais que sala de aula, e a continuidade da pesquisa ratifica isso”, destaca.

A pesquisa “Saberes locais em contexto rural: ensino de leitura e escrita”, centrada em investigar as práticas de leitura e escrita em comunidades rurais e quilombolas, é financiada pela Fapema e coordenada pela professora Mariana Aparecida de Oliveira, do Departamento de Letras do Câmpus de Bacabal.

Em serviço ao estudo acadêmico e à sociedade, o projeto se firma na coleta de dados sobre as práticas de leitura e escrita em comunidades que, historicamente, foram postas à margem, e na análise da forma em que a literatura da região aborda o trabalho nessas comunidades. A continuidade da pesquisa é feita de forma on-line, pelos trabalhos enviados e discutidos via aplicativos de comunicação.

Dois professores, dois mestrandos e seis graduandos, todos do curso de Letras, compõem a equipe empenhada nos trabalhos. A professora coordenadora Mariana relatou que surgiram muitas dificuldades, uma delas o difícil acesso a alguns estudantes envolvidos, mas que isso não impediu o trabalho de seguir em atividade. “Realizar uma pesquisa em meio a uma pandemia e tendo que seguir medidas de isolamento social pressupõe ter que administrar as demandas pessoais e as profissionais de uma forma como ainda não havia sido confrontada. Por outro lado, exige um replanejamento das ações”, revela.

Além dos projetos apresentados, existem muitos outros realizados na Universidade. É um campo que, antes de tudo, assume um papel fundamental, com a universidade atuando na sociedade, professores e alunos empenhados em construir um futuro melhor para a ciência e para toda a comunidade em geral.