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Como a comunidade universitária está vivendo durante o período de distanciamento social

publicado: 04/05/2020 19h14, última modificação: 04/05/2020 20h19

“O período de distanciamento social gerado pela atual pandemia que assola a população mundial está nos proporcionando viver outras experiências dentro de casa. Descobrir que podemos viver novos aprendizados, seja em família ou mesmo sozinho dentro do quarto. Para muitas pessoas pode parecer algo novo, mas para outros é uma pausa numa rotina tão acelerada que impede a prática de hobbies, deixados de lado pela falta de tempo no dia a dia”, revela José Otávio Nascimento dos Santos, estudante do curso Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BICT) da Universidade Federal do Maranhão.

A rotina de muitas pessoas modificou-se em decorrência do distanciamento social e atividades desenvolvidas antes de forma presencial e que passaram a ser desempenhadas de forma virtual por meio de vídeo chamadas. Assim não é diferente com as tarefas desempenhadas pela comunidade universitária da UFMA, que vem se adaptando a novos formatos para desenvolver atividades de pesquisa e ensino, além de permitir que a Universidade não pare de funcionar em seus serviços essenciais, seja por meio de home office ou revezamento da equipe.

Com isso, as pessoas têm passado mais tempo dentro de casa e começado a exercer novos hábitos e hobbies, antes não desenvolvidos pela rotina acelerada. Otávio relata que a pintura é uma prática desestressante que o auxilia a refletir e renovar as energias ao longo da semana, além de desenvolver sua criatividade.

 

“Aprendi novas técnicas de pintura e a fazer criações que estavam esperando para ganhar vida, assim que tivesse tempo. Outra paixão que tenho é o artesanato, neste período de distanciamento tive tempo de decorar com conchas marinhas, conhecidas popularmente como cascas de sarnambi, o espaço físico do restaurante da minha mãe, revestindo os pilares e vigas do estabelecimento”, comenta.

 

Ele ainda discorre que tem aproveitado esse tempo livre para dar continuidade ao seu trabalho de conclusão de curso, junto com seu amigo de projeto, por meio de videoconferência. Além de se reunir on-line com o grupo de extensão da qual faz parte.

“Minha rotina também tem espaço para ler livros, conversar com amigos por meio das redes sociais, assistir séries e outras atividades em família. É importante termos consciência da importância do distanciamento social diante da propagação desse vírus. E a melhor solução é se reinventar a cada dia para não ser vencido pelo comodismo, e superar esse momento tão difícil na vida de todos”, completa.

Amor de mãe

Assim como dezenas de mães, Leidiane Pereira, estudante de Design da UFMA e mãe de Ana Clara Pereira, tem criado estratégias para os filhos durante esse período de distanciamento social, em que as crianças estão afastadas das atividades escolares.

 

“Maria Clara tem cinco anos de idade e possui Transtorno de Déficit de Atenção. Ela fica bastante irritada e estressada com a falta da rotina de que tínhamos antes. Tenho tentado contornar a situação da melhor forma possível. Converso muito com ela sobre o momento que estamos passando e explicando o que acontece quando alguém é infectado. Ela já sabe que não pode abraçar as pessoas que chegarem da rua”, descreve.

Leidiane informa que depois de muitas tentativas, começou a criar uma rotina específica para a filha, baseadas em dinâmicas de pintura, colagem, escrita de letras e números, entre outras atividades lúdicas para que a ansiedade da menina possa diminuir.

Para ajudar nas despesas de casa, a discente começou a produzir bolos e cookies, além de costurar máscaras e adereços em seu pequeno ateliê de sua residência. “Maria Clara me ajuda bastante nessas atividades, principalmente a parte de lamber as panelas. Sempre estamos juntas, durante vários semestres, levei ela junto comigo para assistir às aulas na Universidade. Proteja quem você ama, siga as orientações dos órgãos de saúde, quando pedem que ficarmos em casa para evitar a proliferação do vírus”, pontua.

Atividades de pesquisa no exterior

Desde janeiro na Inglaterra, Mayara Ingrid Sousa Lima, docente do Departamento de Biologia que está fazendo seu pós-doutorado na Universidade de York, considerada uma das melhores universidades do Reino Unido, vem se adaptando à nova rotina imposta pelo governo inglês.

 

“Eu cheguei bem antes da pandemia se alastrar em vários países da Europa. Atualmente estamos cumprindo o distanciamento social que foi preconizado pelo governo do Reino Unido. Tenho tentado manter a rotina de trabalho, como reuniões e apresentações de seminários em plataformas digitais, fomentando debates no grupo do laboratório de biologia da Universidade de York. Em relação à UFMA, tenho acompanhado projetos monográficos e escrita de artigos, além de atividades de pesquisa que são possíveis nesse momento, de forma remota.” explana.

Ela ainda comenta que vem mantendo atividades físicas em casa e nos arredores, como forma de possibilitar o bem-estar emocional e físico. “Na cidade de York ainda é permitido que as pessoas saiam para caminhadas nas proximidades de sua casa, desde que seja uma vez por dia e durante uma hora. Os ingleses são bem respeitosos quanto a essas medidas”, destaca.

Uma peculiaridade dos cidadãos yorkenses, relatada pela pós-doutoranda, é que todas as quintas-feiras, pontualmente às 20h, os moradores saem em suas janelas e portas de suas casas para aplaudir os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao vírus Sars-COV-2.

Lives de celebrações religiosas

Para Gabriel Gustavo Carneiro Braga, discente do curso de Comunicação Social - Rádio e TV da UFMA e coordenador da Pastoral da Igreja Nossa Senhora Rainha da Paz, localizado no bairro da Cohab, o recurso das lives proporcionadas por aplicativos de redes sociais tem possibilitado aproximar os fiéis com as cerimônias religiosas.

 

“Durante algumas noites estou ajudando nas celebrações on-line da igreja da qual eu participo, na função de músico, tocando violão e cantando nas lives do terço. Recebo ajuda de um pequeno grupo de jovens da Pastoral da Comunicação que se reúne na igreja em dias específicos da semana, seguindo as recomendações de distanciamento e tomando todas as precauções necessárias, como a utilização de máscaras e álcool em gel, para rezar e cantar louvores. O nosso intuito é fazer com que assistam as lives, não se sintam sozinhos nesse período tão dificultoso para nós”, enfatiza.

Planejamento para desenvolver as atividades acadêmicas

Para Joelson dos Santos Almeida, estudante do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PPGSA) da UFMA, foi necessário adaptar a novas rotinas para o andamento da dissertação, artigos e demais atividades de produção científica do programa.

 

 “Para isso, tive que criar um planejamento para que pudesse dar continuidade às atividades da pós-graduação, estabelecendo metas e objetivos para alcançar durante o isolamento social da pandemia pela Covid-19, contribuindo com o bom andamento das atividades científicas”, frisou.

Ele ainda ressaltou que a produção acadêmica é necessária, porém é necessário tomar cuidado em relação à saúde mental. “Venho me proporcionando momentos de relaxamento, ouvindo músicas, assistindo filmes, interagindo com amigos por videoconferência e realizando atividade física domiciliar, me permitindo que haja um autocuidado nesse momento de enfrentamento. Pois, o isolamento social pode gerar impactos na saúde psíquica, interferindo na produção, na autoestima e podendo ainda desencadear diversos sentimentos negativos”, enfatiza.

Joelson deseja que ao término dessa pandemia a humanidade reflita sobre a relevância dos vínculos e do contato social. “Espero voltar às atividades brevemente, estou sentindo falta do convívio dos amigos e dos professores e do ambiente universitário, que para muitos discentes é a segunda casa”, reforça.

Cuidados com os animais

Anna Karina Silva Prazeres, locutora da Rádio Universidade FM e acadêmica do curso de Comunicação Social - Rádio e TV comenta que o cuidado com seus pets tem redobrado durante esse período de quarentena.

 

“Antes da pandemia, costumava sair para passear com o meu cachorro Cesinha e com meu gato Don Gatão, mas durante a quarentena tenho evitado bastante. Uma vez por semana, tenho ido à uma praça que fica perto da minha casa e depois de quinze minutos retorno. Ao chegar ao meu domicílio, lavo imediatamente as patinhas deles, para evitar qualquer contaminação”, explica.

Karina ainda revela que em sua residência, costuma brincar com seus animais utilizando um fio de lã e brinquedos específicos para pets, além de ter todos os cuidados necessários com a alimentação deles.

“Assim como nós, os animais também ficam muito entediados em passar muito tempo em casa. Desenvolvendo várias atividades de recreação com eles, é uma forma de desestressá-los e de me excitar também”, informa.

 

Assistindo Series

Com o tempo livre, muitas pessoas estão aproveitando para assistir filmes e séries em plataformas de streaming, utilizando smartphones, tablets, computador ou televisão. Segundo pesquisa realizada pelo grupo Toluna, nove em cada dez pessoas utilizam serviços de vídeo on demand.

Para o amante de animação japonesa Jefferson Saylon Lima de Sousa, sonoplasta do Laboratório de Rádio do Departamento de Comunicação Social da UFMA, esse período tem sido proveitoso para maratonar seriados produzidos no Japão.

“Todo dia tem um conteúdo novo, muitos utilizam a plataforma de streaming Netflix e Amazon Prime. Eu particularmente utilizo a plataforma Crunchyroll, onde assisto séries, como One Piece, Black Clover e outros, que geralmente têm trinta episódios por temporada”, frisa.

Trabalho de forma remota

Com a suspensão do calendário acadêmico da Universidade até o dia 16 de maio, o docente Davi Viana dos Santos, coordenador dos Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), vinculado à Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-Graduação e Internacionalização (Ageufma), está criando mecanismos para o desenvolvimento das produções de iniciação científica, acompanhamento dos trabalhos de conclusão de curso dos seus orientandos e pesquisas de pós-graduação de forma remota.

“Muitas atividades estão sendo executadas das próprias casas dos discentes. Marco reuniões semanais com os alunos de graduação e pós-graduação para acompanhar o desenvolvimento de suas tarefas. Também mantenho grupos no aplicativo de Whatsapp para ficarmos em constante comunicação. Além disso, as parcerias interinstitucionais continuam, já conseguimos submeter artigos para conferências e periódicos, com apresentações e discussões de pesquisa de forma on-line”, explana.

Ele ainda realça que as atividades atreladas ao Pibiti e Pibic continuam em desenvolvimento. “O edital do Pibic está acontecendo, já está na etapa de submissão de planos de trabalho pelos pesquisadores da UFMA. O Edital do Pibiti está sendo finalizado e será publicado nas próximas semanas. A Diretoria de Pesquisa e Inovação Tecnológica ligada à Ageufma manteve todas as suas atividades normais. Temos reuniões frequentes e evoluindo o módulo de pesquisa para adequar e deixar mais aderente às atividades da nossa Universidade”, finaliza.

Entenda os conceitos

Distanciamento Social é a diminuição de interação entre as pessoas de uma comunidade para diminuir a velocidade de transmissão do vírus. É uma estratégia importante quando há indivíduos já infectados, mas ainda assintomáticos ou oligossintomáticos, que não sabem se são portadores da doença e não estão em isolamento.

Isolamento Social é uma medida que visa separar as pessoas doentes (sintomáticos respiratórios, casos suspeitos ou confirmados de infecção por coronavírus) das não doentes, para evitar a propagação do vírus. O isolamento pode ocorrer em domicílio ou em ambiente hospitalar, conforme o estado clínico da pessoa.

Quarentena é a restrição de atividades ou separação de pessoas que foram presumivelmente expostas a uma doença contagiosa, mas que não estão doentes (porque não foram infectadas ou porque estão no período de incubação).

Informações foram coletadas no site da Telessaúde do estado do Rio Grande do Sul.